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Cultura Quarta-feira, 15 de Maio de 2019, 18:32 - A | A

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As 10 línguas mais antigas que ainda são faladas no mundo

Por Vinícius Mendes

Da coluna Cultura
Artigo de responsabilidade do autor

Do hebreu ao gaélico, muitos idiomas usados hoje são mais velhos do que Jesus Cristo

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Lápide de cemitério muçulmano com escrita em Farsi

Se alguém quisesse fazer uma tradução juramentada do basco, quantas pessoas poderiam dar conta do trabalho? E ler um livro em finlandês? No Brasil, idiomas como esse podem sequer ser conhecidos -- quanto mais falados por alguma pessoa.

De fato, a evolução da linguagem é como uma evolução biológica -- ela acontece de forma minuciosa, geração por geração, sem fronteiras em que seja possível delimitar onde uma língua se desenvolveu a partir de outra. Por isso, é impossível dizer que um idioma é mais velho do que outro: eles são tão antigos quanto a humanidade. A seguir, contamos a história de dez línguas que sobreviveram a guerras, conflitos, anexações, mudanças religiosas, literaturas e muitos outros aspectos geracionais, permanecendo até os dias de hoje.

Hebreu
O hebreu deixou de ser usado no cotidiano por volta de 400 d.C., quando ficou preservado apenas na liturgia de judeus espalhados pelo mundo. No entanto, com o crescimento do sionismo nos séculos XIX e XX, a língua passou por um processo de reavivamento que a fez se tornar o idioma oficial do Estado de Israel.

Embora a versão moderna seja distinta da bíblica, falantes nativos de hebreu podem entender tranquilamente o que está escrito no Velho Testamento e nos seus textos anexos. Como a maioria dos novos alfabetizados em hebreu tem o ídiche como língua nativa, o hebreu moderno é muito influenciado por outros idiomas judeus.

Basco
A língua basca é falada por nativos bascos que vivem em algumas regiões da Espanha e da França, mas é completamente diferente de qualquer língua romana (como são o francês e o espanhol) ou mesmo de qualquer outro idioma do mundo. Os linguistas postulam há décadas sobre qual seria sua relação mais próxima, mas nenhuma das teorias conseguiu chegar a uma explicação convincente, tornando o basco um grande mistério.

A única coisa que se sabe é que ela existiu em uma área antes do surgimento das línguas românicas -- ou seja, antes que os romanos chegassem com o latim, do qual se desenvolveram o francês, o espanhol, o português, o italiano, etc.

Tamil
O tamil, a língua falada por 78 milhões de pessoas no mundo e reconhecida como idioma oficial de países como Sri Lanka e Cingapura, é a única língua clássica que sobreviveu ao seu modo no mundo moderno.

Parte da família de línguas dravidianas, que incluem um número de idiomas nativos do sudoeste e nordeste da Índia, ela também é reconhecida como sistema oficial do estado indiano de Tamil Nadu. Pesquisadores encontraram escritos em tamil datando do século III a.C, tendo permanecido em uso desde então.

Ao contrário do sânscrito, outra língua indiana antiga que deixou de ser utilizada ao redor do ano 600 d.C e se tornou parte apenas de liturgias religiosas, o tamil continuou a se desenvolver e hoje é a vigésima língua comum mais falada do mundo.

Lituano
A família linguística a qual muitos idiomas europeus pertencem é a indo-europeia, mas eles começaram a separar umas das outras provavelmente cerca de 3,5 mil anos a.C., se tornando dezenas de outras línguas, como o alemão, o italiano e o inglês -- gradualmente perdendo as características que outrora compartilhavam.

Uma língua, porém, estabelecida no ramo báltico da família indo-europeia, manteve mais da característica que os linguistas chamam de Proto-Indo-Europeia (PIE), que é a língua que dizem ser falada cerca de 3,5 mil anos a.C. Por alguma razão, o lituano preservou mais sons e regras gramaticais do PIE que todas as suas "primas", e por isso pode ser considerada hoje como um dos idiomas mais velhos ainda em atividade.

Farsi
O nome pode soar estranho, mas a língua farsi é falada hoje em dia pela maioria dos povos do Irã, Afeganistão e Tajiquistão. No entanto, se você ouviu falar do idioma persa, o farsi é a mesma coisa, mas com um nome diferente.

O farsi é descendente direto do persa antigo, que era o idioma do Império Persa. O persa moderno tomou forma por volta de 800 d.C, e uma das coisas que o diferencia das línguas atuais é justamente que ela mudou muito pouco desde aquela época. Falantes de persa hoje em dia poderiam ler uma obra escrita em 900 d.C com menos dificuldade do que um falante de inglês teria diante das obras originais de Shakespeare ou que um brasileiro ao se deparar com a carta do português Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal quando do descobrimento do Brasil.

Islandês
O islandês é outra língua indo-europeia, dessa vez do ramo germânico do norte (o inglês é uma língua germânica do ramo ocidental). Muitas línguas germânicas se espalharam, enquanto outras perderam características que algumas línguas indo-europeias ainda possuem.

No entanto, o islandês se desenvolveu mantendo muitas dessas particularidades. O governo dinamarquês do país do século XIV até o XX também produziu poucas mudanças na língua islandesa, tornando-a a mesma desde a época dos caçadores nórdicos -- e hoje os islandeses conseguem ler as sagas escritas por eles séculos atrás.

Macedônio
A família eslava, que inclui o russo, o polonês, o tcheco e o croata, entre outras línguas, é relativamente jovem quando comparada com as outras famílias de línguas. Elas só começaram a se desenvolver em relação ao seu ancestral comum, o Proto-Eslavo, quando os apóstolos Cirilo e Metódio padronizaram a língua criando a Antiga Igreja Eslava e inventando um alfabeto exclusivo para ela. Então, levaram a língua com eles para o norte da Europa no século IX, quando converteram os eslavos ao cristianismo.

Ambos acabaram chegando ao norte da Grécia, provavelmente no que hoje é conhecido como Macedônia, e o macedônio (junto com sua língua próxima, o búlgaro) se tornou a língua mais próxima à falada na Antiga Igreja Eslava -- é assim até hoje.

Finlandês
O finlandês provavelmente não era escrito até o século XVI, mas como qualquer língua, tem uma história que é anterior. Membro da família fino-úgrico, que também inclui o estoniano, o húngaro e idiomas nativos falados na Sibéria, o finlandês pegou várias palavras emprestadas de outras famílias de línguas ao longo dos séculos. Em muitos casos, o finlandês as manteve próximas das formas originais de suas línguas, como é o caso do termo aiti (mãe), oriundo do gótico -- falado há muito tempo.

Georgiano
A região do Cáucaso é um grande mistério para linguistas que procuram desvendar as línguas mais difíceis do mundo. Os principais idiomas dos três países do Cáucaso meridional, a Armênia, o Azerbaijão e a Geórgia -- são respectivamente indo-europeu, turco e cartevélico. O georgiano é a maior língua cartevélica, e é o único idioma do Cáucaso com uma antiga tradição literária.

Além de belo e único, o georgiano também é muito velho -- acredita-se que ele se adaptou do aramaico por volta do século III a.C. Embora não seja uma ilha, no sentido do idioma basco, há apenas quatro línguas cartevélicas, todas faladas por minorias dentro da Geórgia, e elas são todas desconectadas de qualquer língua do mundo moderno.

Irlandês gaélico
Apesar do irlandês gaélico ser falado hoje por uma pequena quantidade de povos irlandeses, ele possui uma longa história. É membro do ramo celta das línguas indo-europeias e existe nas ilhas que agora são parte da Grã-Bretanha antes mesmo da chegada das influências germânicas.

O gaélico foi a língua de onde surgiram o escocês gaélico e o manês (que costumava ser falado na Ilha de Man), mas o fato dela estar nessa lista é que ela tem a literatura vernacular mais antiga de qualquer língua da Europa Ocidental. Enquanto o resto do continente estava falando seus próprios idiomas e escrevendo em latim, os irlandeses decidiram que queriam escrever e falar em sua própria língua. Aí estão até hoje.

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