País oferece rotas mais bonitas do que radicais, ao contrário dos demais países da América do Sul
Os motociclistas que saem pelas estradas do Brasil sabem que podem encontrar várias rotas mais exuberantes do que aventureiras, como a da Serra do Rio Rastro, em Santa Catarina, com o visual da Mata Atlântica, ou a Estrada das Hortências, no Rio de Janeiro.
O país oferece experiências para motociclistas diferentes das que são encontradas nos outros países da América do Sul, onde viajar de moto exige muito mais cuidados do que apenas vestir os equipamentos corretos. A rodovia que liga Mendoza, na Argentina, a Santiago, no Chile, passando por dentro dos Andes que divide os dois países, por exemplo, ou então o Camino a los Yungas, na Bolívia, são mais radicais do que belas.
A estrada boliviana foi construída na década de 1930 por paraguaios prisioneiros que aproveitaram as curvas das montanhas entre as cidades de La Cumbre e Yungas, no departamento de La Paz, para moldar seu percurso. Por ficar na lateral da montanha e ser uma descida de mão única sem proteção nas pontas e curvas, ela foi considerada a "pior estrada do mundo" pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, em 1995.
Curiosamente, a estrada que faz a ponte entre o território brasileiro e um país sul-americano vizinho é um misto entre beleza e perigos: a Interoceânica, que liga Brasil ao Peru, bateu o recorde de altura mundial assim que foi inaugurada, já que no trecho andino peruano chega a 4.735 metros de altitude em relação ao nível do mar, tornando-se a rodovia pavimentada internacional mais alta do planeta, superando a Karakoram, entre o Paquistão e a China, na Ásia. São 5.404 quilômetros que são cruzados diariamente por caminhoneiros, ônibus e motociclistas que, desde que a estrada era apenas uma ideia, estavam ansiosos por sua abertura.
O fluxo de viageiros em motocicletas é tão grande que, em algumas cidades pequenas ao longo da pista, é possível parar para se alimentar, dormir ou para comprar peças e equipamentos, como escapamentos, óleos e capacetes. A estrada também diminuiu a distância que os produtos precisavam cruzar para chegar aos portos peruanos: a soja do Acre, por exemplo, precisava percorrer 26,3 mil quilômetros entre o Brasil e a China por meio do Canal do Panamá, já na América Central, e agora passa por apenas 17,5 mil quilômetros – uma redução de dias de viagem.
A Interoceânica passa por três portos peruanos, em San Juan, Matarani e Ilo, e cruza, de acordo com o governo peruano, 51 povos indígenas, 207 pontes e diversos vilarejos e cidades importantes, como Juliaca, Cusco e Puno. No território brasileiro, começa no sistema de estradas de São Paulo e vai até Assis Brasil, no Acre, onde recebe o nome pelo qual ficou conhecida.
Há os roteiros mais leves, porém, que são indicados para casais em duas rodas. Um exemplo é a chamada Rota Romântica, que passa pela maior estrada brasileira – a BR-116 -- indo de Porto Alegre a Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul. O nome se deve ao fato dela passar por cidades como Canela, Gramado, Nova Petrópolis e Novo Hamburgo, pequenas cidades gaúchas repletas de paisagens deslumbrantes, hotéis, cafés e pousadas. Outro é a Rota do Sol, no Rio Grande do Norte, que vai da Praia de Pipa, ao Sul de Natal, passando por municípios como Cotovelo, Búzios, Tabatinga, Camurupim e Barreta.
Outras rotas são mais difíceis e chamam a atenção de um público menos ligado às paisagens naturais e mais interessado na história. É o caso da Estrada Real, entre a cidade mineira de Diamantina e o Rio de Janeiro, e a famosa Rio-Santos, em que, além das do Guarujá, Boraceia, Jureia, Juquehy, Maresias, Ilhabela, Paraty e Angra dos Reis, o viajante entra em contato com parte da história inicial da colonização portuguesa no país.