Em Mato Grosso do Sul quatro mulheres foram assassinadas no âmbito da violência doméstica neste ano e em todo o ano passado foram 16 mortes. Os números foram apresentadas pela delegada Ariene Nazareth Murad de Souza, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Campo Grande, durante palestra sobre “Violência doméstica e a lei Maria da Penha”. O evento foi promovido pelo Sista-MS (Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Institutos Federais de Ensino de MS), em homenagem ao mês da mulher.
A palestra foi no auditório da UFMS e contou com a participação de servidoras públicas da universidade, do HU, institutos federais de ensino e da comunidade em geral.
A direção do Sista-MS vem trabalhando esse assunto desde 8 de março, Dia Internacional da Mulher, por considerar esses números inconcebíveis” e “inaceitáveis”. “As mulheres e a sociedade não podem permanecer calados diante de números tão sérios. Precisamos realizar trabalhos para que esses números sejam conhecidos, criticados e anulados”, comenta, indignada, a coordenadora geral do Sista-MS Cléo Gomes.
Na palestra, a delegada comentou sobre a Lei Maria da Penha, sancionada em 10 de agosto de 2006. Ela foi criada em homenagem a Maria da Penha Maia Fernandes, que foi vítima de violência doméstica praticada pelo esposo, o qual tentou assassiná-la duas vezes. Primeiro ele a deixou paraplégica após um tiro, na segunda, tentou eletrocutá-la no chuveiro. A lei tem o objetivo de prevenir e coibir a violência de gênero (submissão da mulher em relação ao homem), protegendo as relações afetivas tanto daqueles que moram juntos, quanto de namorados, os transexuais com identidade de gênero feminina e também as relações homo afetivas em que a mulher é vítima.
Ariene Nazareth apresentou também uma pesquisa online com jovens de 16 a 24 anos de ambos os sexos realizada pela Data Popular e Instituto Avon de 2014, que apontou que 3 em cada 5 mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos; Metade sofreu violência após o fim da relação; 37% tiveram relações sexuais forçadas sem proteção; Um em cada 4 homens já repassaram imagens de mulheres nuas sem consentimento delas a terceiros.
“A agressão começa verbalmente e sempre evolui para agressão física e termina com um homem amoroso e carinhoso prometendo que vai mudar, e o ciclo da violência começa novamente. A mulher está envolvida psicologicamente e não consegue romper esse ciclo”, explica a delegada Ariene.
Presente na palestra, a jovem B.O.S. de 28 anos contou sua história de violência doméstica e explicou sobre o ciclo da violência dizendo o quanto é difícil quebrar este ciclo e denunciar.
Segundo ela, o problema normalmente começa com um relacionamento abusivo envolvente em que a pessoa se sente muito amada pelo agressor que parece estudar a vítima. Depois ele começa fazer com que ela se sinta dependente dele como se ele fosse o melhor, um círculo vicioso, e quando decide tomar uma atitude começam as agressões e a vítima se sente bloqueada emocionalmente para agir de maneira adequada.
Sobre as 16 mulheres foram mortas em Mato Grosso do Sul em 2017, a delegada de polícia informou que nenhuma dessas mulheres havia feito BO (boletim de ocorrência) anteriormente. “Isso ressalta ainda mais a importância da denúncia. O silêncio mata. Todos nós como cidadãos devemos contribuir e muitas vezes falar pelas mulheres agredidas. Faço um apelo para que a população denuncie”, acrescentou a policial. No ano passado quase 5 mil mulheres receberam medida protetiva em MS e mais de 50% delas têm de 18 a 34 anos.