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ENTREVISTA Sábado, 04 de Maio de 2024, 08:52 - A | A

Sábado, 04 de Maio de 2024, 08h:52 - A | A

Entrevista

Fibromialgia: os desafios da doença invisível

12 de maio é o Dia Nacional de Conscientização à Fibromialgia

Renata Santos Portela
Especial para o Capital News

Divulgação

Fibromialgia: os desafios da doença invisível

Dr. Álvaro Pereira

As pessoas pensam que é frescura

“As pessoas pensam que é frescura, porque é uma doença que não tem cara, só você que sente”, desabafa a babá Maria Querobina Pereira de Souza de 63 anos ao falar da fibromialgia. Diagnosticada há 18 anos com a síndrome, a babá lembra que entrou em depressão e chegou a ter vontade de tirar a própria vida.

A Fibromialgia é uma síndrome dolorosa crônica, caracterizada por um quadro de dor muscoesquelética generalizada e fadiga. Além disso, pode causar distúrbios do sono, dificuldade de memória, concentração, dores de cabeça, distúrbios intestinais, transtornos de humor, entre outros.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia a doença afeta cerca de 5% da população brasileira com uma maior incidência em mulheres do que em homens, sobretudo entre 30 a 50 anos de idade. Para entender um pouco mais sobre a doença o Capital News conversou com o médico angiologista e cirurgião vascular Dr. Álvaro Pereira.

Freepik

Fibromialgia: os desafios da doença invisível

De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia a doença afeta cerca de 5% da população brasileira

1. Capital News: O que causa a Fibromialgia?

Dr. Álvaro Pereira: A fibromialgia não tem uma causa específica, na verdade, ela não se conhece claramente a doença ainda, ela foi identificada como doença há 15, 20 anos atrás, no máximo, antes disso nem tinha nenhum nome esse problema. E o problema é que como não tem uma lesão lá no músculo, no local onde a pessoa está reclamando de dor, não existe nenhum indício inflamatório naquela região, então o que acontece? Parece que existe uma hipersensibilidade cerebral à dor, o cérebro interpreta pequenos traumas ou pequena lesão, você simplesmente toca aquela região e o cérebro interpreta aquilo como sendo uma dor importante e significativa. Então o erro estaria no tecido neurológico, nos pontos onde são... trabalhados a dor, né? São pontos cerebrais, claro.

2. Capital News: Qual tratamento indicado para aliviar as dores?

Dr. Álvaro Pereira: O tratamento da fibromialgia é feito com exercícios, que é um pilar importante do tratamento. Pode ser feito calor local, mas existe um conjunto de tratamentos auxiliares, que é o monitoramento do estresse, apoio psicológico, medicamentos para melhorar a qualidade do sono, analgésicos não-opioides, não derivados de opiáceos, que acabam levando a pessoa fica viciada a esse tipo de medicamentos, então não vale a pena utilizar, mesmo porque não ajudam, não é o caso.

E existe ainda um conjunto de tratamentos alternativos que pode ajudar, que seria tudo que faz a pessoa ter uma vida mais tranquila, menos agitada, como meditação, LEDterapia que usa aqueles capacetes ou bonés que a pessoa usa em casa. Vale a pena chamar atenção pra isso, mas pelo fato de que hoje em dia tem esses aparelhos que a pessoa compra são baratos, a pessoa mesmo compra e ela mesmo usa em casa todo dia. É uma forma de melhorar um pouco a atividade cerebral, neuronal, então vale a pena comentar sobre isso, mas nenhum deles resolve completamente. É uma doença que não tem cura, então a pessoa tem que aprender a conviver com esse problema.

3. Capital News: Existe cura para a fibromialgia?

Dr. Álvaro Pereira: Não existe uma cura definitiva para a fibromialgia. Existem períodos de remissão, períodos de piora, mas não existe uma cura definitiva. Apesar de não haver cura, se consegue controlar muito bem com os tratamentos que existem.

4. Capital News: Atividade física ajuda? Se sim, qual a indicada?

Dr. Álvaro Pereira: Sobre a atividade física, ela é muito importante para quem tem fibromialgia. O pilar do tratamento é a atividade física. Se bem que o excesso de exercício, a utilização excessiva de um grupo muscular, pode ser o desencadeante pra dor. Então, precisa ser um exercício acompanhado de um profissional de saúde habilitado pra isso, no sentido de orientar o que é melhor. Mas, basicamente todos os exercícios podem ser feitos, não importa qual é a atividade esportiva que a pessoa queira fazer. E isso com certeza absoluta é uma das formas de atenuar o problema.

5. Capital News: Alimentação: Existem alimentos indicados para quem tem fibromialgia que podem ajudar?

Dr. Álvaro Pereira: Não existem alimentos específicos que melhorem a condição de quem tem fibromialgia. Claro que uma dieta balanceada com vitaminas do complexo B, particularmente, são compensatórias, mas não é indicado como tratamento.

6. Capital News: Fatores como antecedentes familiares, infecções, doenças autoimunes, ansiedade e depressão são comuns entre as pessoas atingidas pela fibromialgia?

Dr. Álvaro Pereira: Existe uma relação familiar da doença, mas isso não está muito claro. Não se consegue dizer exatamente quais os genes que estariam envolvidos, apesar de que é comum, é frequente a história familiar de fibromialgia nos casos dos pacientes com isso. E outras doenças como infecções, doenças autoimunes, podem acontecer em conjunto, claro, e podem piorar a situação da pessoa, mas não são os causadores, nem desencadeadores do problema. É comum que a pessoa tenha ansiedade, depressão, mas é difícil dizer se isso é primário ou se é secundário. Essa situação, porque é muito debilitante por conta da dor, sistematicamente, em vários locais, leva, claro, à depressão e ansiedade. Fica difícil dizer quem veio primeiro.

7. Capital News: Quais são os critérios para o diagnóstico da fibromialgia e ela é identificada através de qual exame?

Dr. Álvaro Pereira: O diagnóstico da fibromialgia é clínico, além do histórico familiar. Não existe um exame que identifique especificamente, um marcador específico bioquímico que mostre que a pessoa tem fibromialgia. Normalmente, os exames que se pedem são exames para excluir outros problemas, outras doenças. Aí, sim, eles são importantes. Mas, para que confirme o diagnóstico, é feito clinicamente.

8. Capital News: A pessoa com fibromialgia consegue fazer atividades comuns no dia dia?

Dr. Álvaro Pereira: As atividades do dia-a-dia ficam comprometidas na pessoa com fibromialgia. E isso é muito importante, porque a pessoa que sente dor em tudo, em todos os lugares, o tempo inteiro, muitas vezes é mal interpretada. Parece que a pessoa está fingindo, ou exagerando as queixas, e as pessoas com quem ela convive podem achar que ela está exagerando E, na verdade, não. Ela sente realmente dor. Fora essa situação de fadiga, o transtorno do sono, que é muito importante, que é uma característica importante da fibromialgia também, né? E todo esse conjunto dos sintomas somáticos pelo corpo dificulta o dia-a-dia.

Arquivo pessoal

Através da fé babá encontra forças para lidar com a Fibromialgia

A fé foi fundamental para Maria aceitar e compreender diagnóstico da fibromialgia

A Maria conta que começou a sentir as dores que cada vez mais ficou mais forte. A princípio, atribuía ao trabalho, mas o tempo foi passando e a frequência das dores só aumentou. Ela fala que até chegar ao diagnóstico passou por inúmeros médicos e realizou vários exames.

Muitas pessoas pensavam que era preguiça, frescura e que eu queria me aposentar

Após o diagnóstico, Maria não imaginava que teria outro desafio: lidar com a desconfiança e preconceito das pessoas. “Muitas pessoas pensavam que era preguiça, frescura e que eu queria me aposentar” desabafa.

A babá hoje faz acompanhamento Multidisciplinar que inclui psicólogo, dermatologista e fisioterapeuta. Ela conta que ainda sente dores, mas bem mais leves das que sentia no início do diagnóstico, hoje é ela quem ajuda outras pessoas que tem dificuldades de compreender a doença. “Não é fácil passar por isso, não vou dizer que não fico triste, mas entendo que a fé cura, a fé te dá forças. É o que precisamos ter”, declara.

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