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ENTREVISTA Sábado, 30 de Maio de 2020, 09:57 - A | A

Sábado, 30 de Maio de 2020, 09h:57 - A | A

Campanha

Maio Laranja em combate a exploração sexual de crianças e adolescentes

Em Campo Grande, Projeto Nova é referência para as vítimas

Elaine Silva
Capital News

No encerramento do mês de combate ao abuso exploração sexual de crianças e adolescentes, tem como campanha o Maio Laranja. O dia oficial 18 de maio e foi inspirada na cor laranja da gérbera, uma flor muito conhecida no Brasil que simboliza a fragilidade e vulnerabilidade da criança. 

 

Para falar sobre esse tema o Capital News, entrevista a Psicanalista Viviane Vaz, Coordenadora do Projeto Nova, que é referência em assistência às famílias das crianças vítimas de abuso sexual, em Campo Grande.

Luciana Nassar/ALMS

Audiência Pública gera documento visando combate à Exploração Sexual Infantil

Psicanalista Viviane Vaz

 

1- O que é o Maio Laranja?

 

Vaz: O Maio Laranja foi uma iniciativa a partir de ações que nós faziamos, em alusão ao dia 18 de Maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso. Sempre faziamos atividades de prevenção nas escolas e reunido com alguns grupos de  pessoas apoiadoras, elas falaram  que isso é muito bom que precisa ser mais visibilizado,  as pessoas precisam  perceber o quanto é importante. Foi quando a gente reuniu com as pessoas que trabalha na parte de publicidade,jornalismo e etc. Nós criamos a cor, que combina  melhor, que comunica,  que tem a ver com criança e também  com a logo do 'Faça Bonito' que é a logo da Campanha Nacional que é uma flor que tem laranja, então a gente criou e começou a fazer ações por meio da  sociedade civil mesmo, ações voluntárias.

 

No ano de 2017 a gente fez uma ação bem legal, com assessoria de imprensa que ajudou muito a ter visibilidade na cidade.e no  mesmo ano eu fui falar na Assembleia Legislativa e o deputado Herculo Borges (Solidariedade) viu. Eu fui para receber uma Moção honrosa, e ele falou para a  gente tornar isso uma lei estadual. O que foi de suma importância, porque em alguns lugares a gente tem uma certa barreira em falar desse assunto, tem pessoas que têm muito preconceito com esse assunto junto com o abuso sexual falar de sexualidade com crianças. Então foi importante essa lei, hoje que a partir de 2017 nós estamos amparados por lei em fazer ações para prevenir o abuso e exploração sexual de crianças e adolescente.  Nesse ano de 2018 a 2020 o ministério de Direitos Humanos da Família assumiu a campanha como sendo Maio Laranja uma Campanha Nacional,então hoje tornou-se  e tem uma visibilidade muito maior.

 

2- Quais são as formas mais comuns de abuso?

 

Vaz: Então uma coisa que as pessoas às vezes não sabem é que o abuso sexual na verdade pela lei brasileira é muito boa, muito bem estudada e  bem elaborada, graças a Deus! Podemos nos orgulhar. E  pela lei brasileira menor de 14 anos não pode ter qualquer tipo de ato libidinoso com ou sem conjunção carnal, atos de satisfação de prazer mesmo que seja um toque mesmo que não tenha toque físico entre os dois, mas se for um ato libidinoso como por exemplo, se exibir, se masturbar, fazer criança assistir... tudo isso se enquadra como crime de estupro de vulnerável,  o menor de 14 anos não pode consentir para a prática sexual com ou sem conjunção carnal é considerado estrupo de vulnerável.E é muito comum sim o abuso sexual. No  último balanço do disque 100, afirma que uma de cada três meninas vão sofrer algum tipo de abuso sexual na infância, ou seja, isso infelizmente é uma realidade das nossas crianças  e por isso precisamos tanto alertar a sociedade com esse problema.

 

3- O que leva a pessoa a cometer o abuso? 

 

Vaz: Então o perfil do abusador  não tem com  afirmar o  que leva cada uma fazer isso, existem umas crenças, o poder,  masculinidade. Por que o abuso configura uma pessoa de poder sobre a outra pessoa, para que essa pessoa que está no poder se satisfaça. Então esse é o princípio da palavra abuso, então o abusador ele se favorece de algum acerto poder e satisfaz a sua carnalidade. O perfil do abusador embora a gente talvez imagine algo tão feio de  falar tem gente que já fica "nossa serio  que fazem isso". Hoje foi preso pessoas com vídeo de criança de 5 anos de idade sendo abusadas em Campo Grande, então assim não é uma realidade distante e o abusador ele tem crenças de que ele não está fazendo mal, ele está apenas satisfazendo os próprios desejos. Outra característica do abusador é que ele não é cara de mal e geralmente não é violento, ele é muito sedutor e sabe como falar com a criança, faz com com que a criança silencie e também, muitas vezes ele trata isso como sendo algo normal e como uma criança não sabe lidar com essa situação ela acaba se submetendo e o  abusador geralmente alega que a criança sente prazer também, na situação. E então tem várias perfil que a gente consegue passar, mas não está escrito na testa de alguém que ela faz isso ou não. Então qualquer pessoa seja mulher, seja homem, qualquer idade, qualquer classe social, qualquer raça, em qualquer perfil,  ela pode ser ser uma abusador. Infelizmente a gente já pegou de todos os tipos de casos aqui. Principalmente familiares, porque no ambiente familiar que geralmente o abusador usa desse poder de convívio esse poder de desse vínculo, para justamente efetivar o seu ato, porque ele precisa seduzir, não é uma pessoa que passa na rua e que abusa de crianças. São pessoas que muitas vezes leva uns dias e dias planejando como vai fazer isso então certamente, essas pessoas estão ligadas ao ambiente familiar. 

 

4- Atualmente levando em consideração a pandemia quem são os abusadores? 

 

Vaz: A família sim, o secretário nacional de Direitos Humanos disse que diminuiu muito o número de denúncias, isso pode significar que a criança não tá conseguindo, por exemplo, geralmente quem ajuda criança falar é quem está fora dessa situação abusiva. Então muitas vezes quem ajuda uma criança é um professor é o líder de algum grupo de esporte, em um amigo, e agora essas crianças que podem estar sofrendo algum tipo de abuso estão sem contato com outras pessoas, mas é importante a gente precisar o fato de que existem a plataforma do disque 100 melhorou muito ela agora tem libras tem como fazer chamada de vídeo, enfim tem diversas maneiras dessa pessoa fazer a denúncia. Só que existe muito medo por trás disso, existe a gente sabe que subiu o nível o número de violência doméstica e com isso a gente pressupõe que também tem aumentado o número de abusos, até porque também uma outra informação recente que aumentou o consumo de álcool. E como eles não estão podendo sair de casa estão bebendo dentro da própria casa e sabe Deus o que que tem acontecido nessas casas. 

 

5 - Quais os indícios de que uma criança está sofrendo ou sofreu algum tipo de abuso?

 

Vaz: É muito importante explicar que a criança, ela não sabe verbalizar o que está acontecendo, muitas vezes tem dificuldade até mesmo um adolescente pode ter dificuldade, por conta do medo e da vergonha, mas o nosso corpo fala através de nós, então o comportamento da criança e do adolescente, porque uma coisa é fato criança ela não sabe mentir, mas não é verdade. A gente sabe que quando a criança tá enganando quando ela,  porque ela não sabe mentir não é esse não é nato da criança. E aí o que acontece, ela acaba demonstrando o que tá acontecendo através das suas atitudes do seu comportamento. 

 

Então mudanças de comportamento emocional brusca, dificuldades de sono, dificuldades para comer, para se alimentar, uma visão errada distorcida acerca do corpo quando ela se sente suja, má  é um sentimento de culpa. O sentimento de culpa é muito característico de vítimas de abuso, então com esse sentimento de culpa que a vítima tem acaba que ela começa a ter pensamentos de auto mutilação, auto lesão, algumas têm ideações suicidas fazem cartas, ficam mais depressivas, outras podem reagir com agressividade, têm medo de certas pessoas. Então se é uma pessoa do convívio familiar, e essa mãe está percebendo que essa pessoa, que essa criança ou adolescente, não gosta de ficar com uma pessoa ou fica demais com a pessoa, e ela não está tendo atitudes e comportamentos de uma criança que está bem, saudável, feliz, ela precisa investigar, tem um bom diálogo com os filhos.

 

O diálogo entre os pais dos filhos é fundamental para prevenir o abuso e também para que as ação seja rápida e muitos dos casos que a gente atende aqui no projeto de vítimas de abuso,  os pais demoraram muito agir ou não perceberam e o pior muitos pais não acreditaram, quando as crianças verbalizaram isso, é terrivelmente é mais traumático do que o próprio abuso, porque o próprio pai é a própria mãe não estão acreditando na vítima. E recentemente também embargadora Elizabeth estava conosco e nos treinamentos e ela falou que 6% dos casos só dos julgamentos a criança estava mentindo ou se enganou, o restante 94% a criança não estava mentindo, mas geralmente o abusador que é alegar que ela estava mentindo. Então existem vários várias características que envolvem o abuso, mas o principal é perceber mudanças emocionais na criança.

 

 

6- Qual a melhor forma de abordar uma criança que, suspeita-se, tenha sofrido abuso sexual?

 

Vaz:Primeira coisa é se a criança não verbalizou ainda algo ‘olha estou sofrendo abuso’ se ela não verbalizou você pode conversar perguntas fechadas, como por exemplo, o que você tem? o que aconteceu? porque você está, por exemplo se ela está se sentindo triste ela tá se sentindo culpada se ela tá se cortando. 

 

Então você vai falar sobre aquilo que é evidente não das suas suspeitas, então eu não posso colocar as minhas suspeitas na boca da criança, foi fulano, ele te tocou em tal lugar, então a gente tá colocando e a criança, ela tem a tendência de falar aquilo que vai agradar o adulto, então muitas vezes se a mãe já tem problema com alguém vamos supor que elas separou, tá vivendo uma situação aí dá até de alienação parental, e aí acaba que ela joga isso a criança fala que foi, porque para agradar a mãe ou vice-versa, se você quer acusar o padrasto, seu pai  então isso não é bom. Por conta deste fato não é bom que a gente coloque palavras na boca da criança, a gente apenas faz perguntas e perguntas, que permite que as crianças, se abre que ela sinta segurança em se abrir, ou seja é importante que quem está abordando essa criança, adolescente, de sinais ser acolhedora, não agir com mais ansiedade, mais nervoso, é um crime hediondo? é um crime hediondo, mas a criança precisa se sentir segura, porque senão ela vai falar se acontece um caos por causa daquilo que ela falou. Ela nunca mais vai contar nada, porque ela vai ficar preocupada com a reação das pessoas. 

 

É muito comum, por exemplo, descobrirem que sofreu um abuso aí fica todo mundo mal todo mundo chorando e a minha família isso tudo é desnecessário sabe desnecessário ninguém mais tem que saber só você que está responsável por essa criança que vai conversar com ela vai tomar as providências de levar lá na dpca para fazer uma denuncia, ou no conselho tutelar se não é possível você ir com a criança você pode fazer uma denuncia anônima, eu preciso saber se realmente aconteceu ter provas para fazer denúncia não você vai fazer uma denúncia baseado em algo que seja preocupante, olha essa criança está demonstrando assim assim assado, eu vi isso isso isso, por exemplo, uma criança erotizada demais verbaliza dando coisas muito eróticas, sexualizada demais querendo tocar se masturbar isso é muito estranho para uma criança. Então isso deve ser denunciado, então voltando, você não precisa ter provas para fazer denúncia, porque? como?. 

 

A denúncia disque 100 o conselho tutelar, justiça todos os meios de rede de proteção da criança vamos fazer a investigação do caso e a ver igual que tá acontecendo e eles têm um meio agora, que se tornou lei recentemente aos 3, 4 anos se não me engano, que a lei do depoimento especial onde a criança tem o direito de contar uma só vez aquilo que aconteceu e para uma pessoa especializada. Isso é muito importante,  porque antigamente a criança e a contar o que aconteceu do abuso e ela precisava contar para muita gente várias e vezes, para o  pai, depois quando a mãe, conta para a vó, conta para tia, para a  professora para diretora para coordenador e sim aí para conselheiro tutelar.

Depois vai na polícia e depois vai no jurí, ou seja com esse monte de versões ela acaba se confundindo não lembra de uma coisa eu lembro de outra e o pior de tudo é a revitimização, ou seja a criança vive aquela situação novamente até para um adulto,  seria muito ruim tem que ficar contando algo tão vergonhoso. Então a lei do depoimento especial garante que quando uma criança quiser fazer uma denúncia, quando ela for chamada para falar ela vai falar sobre esse abuso uma única vez e para uma pessoa especializada, não uma série de cuidados e a palavra da vítima é muito mais considerada dessa maneira, porque tem meios de você perceber a gente sabe que existe vários meios da gente saber os sinais existe, uma perícia para saber os sinais. A principal prova no caso de violência sexual contra crianças e adolescentes é a própria criança porque ela só ela sabe o que acontece só entre ela e o abusador. Por isso que é muito importante esse cuidado após ela verbalizar ou sinalizar tá sofrendo abuso 

 

 

7- As crianças vítimas de abuso têm consciência de que o que sofreram é errado e prejudicial?

 

Vaz: Já tem de casos de mulheres que o pai abusava da própria filha e ela achava que todos os pais faziam isso com as filhas, ela sentia que era ruim .porque senti que é ruim isso é fato pode ser que dê prazer físico pode por isso que engana criança, por que a criança tem áreas que são heróis, mas e se ela estimulada ela vai sentir prazer mesmo que aquilo seja errado, ela sente por isso que é importante a gente trabalhar a inteligência emocional na criança e ela fazer com que a criança reconheça que aquilo não está certo, mas ela não sabe por quê porque antigamente não se falava disso. Por isso a importância do Maio Laranja para que chegar ao acesso as crianças de que aquilo é um crime e que alguém tocar nas partes íntimas dela é um crime muito grave que ela tem direito mesmo que o abusador abrace mesmo que ele diga para não contar, mesmo que ele diga que é um segredo só deles. A criança ela vai entender que tiver errado e vai pedir ajuda, mas ela só vai entender, se algum adulto ensinar.

8- Qual é o tipo de trabalho é realizado com as crianças no Projeto Nova?

 

Vaz: No projeto Nova, nós atendemos vítimas de abuso crianças adolescentes e adultos. Hoje temos capacidade para 27 famílias. O atendimento é psicossocial, então a vítima recebe atendimento psicológico individual. A gente não expõe a história da da vítima para ninguém existe uma protocolo de sigilo dentro do projeto inclusive as pessoas. O professor, educador social, eles não tem contato com história da vítima. E assim são realizadas ações sociais, porque ela teve quebra de vínculo familiar ela tem dificuldades sociais muitos chegam em crises de pânico, fobia social, depressão, entre outras coisas. Realizamos também  ações em grupo são justamente para promover a recuperação a superação do trauma social da perda dos vínculos familiares. As famílias elas recebem inclusive cesta básica em tem criança recebe fralda um atendimento bem completo. 

 

9- Como que as pessoas pode ajudar  com o projeto?

 

Vaz: O projeto Nova por ser uma ONG ele não tem ajuda de governo, prefeitura. Não somos um órgão público, nós atendemos completamente gratuitamente as famílias, elas recebem inclusive cesta básica em tem criança recebe fralda, é um atendimento bem completo. A gente faz de tudo para que seja o mais integral possível, mas nós dependemos 100% de doações, então a gente faz ações muitas vezes para levantar recursos, fazemos bazar para venda de promoção, porque é disso que vem a renda do projeto. Então quem quiser fazer doação no site do projeto nova, é possível fazer a doação lá tem o número da conta também. Nós trabalhamos com voluntários então se você está assistindo é um psicólogo ou um advogado, dentista porque a gente tem uma clínica odontológica, enfim você quer ser voluntário de alguma maneira no site que lá tem um campo, ‘Quero ser voluntário’.

 

Também recebemos doações de alimento, porque a gente trabalha com famílias em situação de vulnerabilidade social e roupas principalmente de crianças, porque a gente a gente 50 crianças.Aqui é um centro de convivência onde as pessoas vem para fazer o tratamento, enfim esses tipos de doações de maneira geral principalmente alimentos e roupas infantil são a nossa maior demanda. E no caso de doações pode doar móveis também se quiser, a gente recebe sim de acordo com a nossa demanda das famílias que a gente atende e vai estar direcionando . 

 

 

CapitalTV

 

 

 

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