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Segunda-feira, 30 de Janeiro de 2017, 12h:54

Após morte da melhor amiga, Geovana ganha terceiro filho e mantém saudade viva no coração

Em ato de amor, esteticista se vê sem chão e acolhe filho da melhor amiga após morte sem esclarecimento

Myllena de Luca
Capital News

Deurico Ramos/Capital News

Após morte da melhor amiga, Geovana ganha terceiro filho e mantém saudade viva no coração

Fotos ajudam nos momentos da saudade

Uma vida carregada de saudade e aperto no coração. Uma amizade marcada por sorrisos e muita dificuldade. Hoje, a falta do apoio da amiga é transmitida pelo olhar repleto de lágrimas da esteticista Geovana Ferreira Cardoso, de 40 anos. Na mente, memórias que serão eternamente lembradas com sorrisos e fotos antigas, mostram o carinho por alguém que morreu muito nova. A vida de Jade Mauricéia Dias Batista foi intensa e em pouco tempo a jovem realizou tudo o que uma pessoa almeja até os 31 anos.

Hoje, Geovana ameniza a saudade por ajudar a criar o filho da melhor amiga. A frase “a vida segue” não faz tanto sentido quando a pessoa perde quem ama. Os dias não passam, as memórias duram 24h e o último olhar fica gravado como se fosse presente. Este sentimento pelo afastamento de uma pessoa machuca o coração e quando o choro vem é intenso e a dor continua na mesma proporção.

Aos sete anos de idade, Geovana conheceu Jade e desde então nunca mais se separaram. Mas, de repente, a vida trouxe uma surpresa. Uma morte repentina e ainda não esclarecida por completo. As amigas moravam perto e estudavam na mesma escola, e durante um ano moraram em bairros diferentes e a saudade sempre aparecia.

Na adolescência as duas viveram o momento mais difícil e feliz. Aos 14 anos, Jade engravidou do namorado. “A vida dela passou muito rápido. Tudo que ela tinha que fazer parecia que estava escrito. Eu falei que não podia ser assim, com 14 anos grávida. Um dia ela chegou em casa e falou que não tinha água, aí lavamos a roupa do bebê na minha casa. Ela já tinha escolhido o nome, era o Bruno”, lembra Geovana.

Desde pequena, Jade sempre teve admiração pelo nome Bruno, o pai queria Leandro, logo ficou decidido que a criança receberia o nome de Bruno Leandro. Dois acontecimentos: o nascimento de Bruno e a morte da mãe de Jade. Com o tempo, o namorado foi levado pela mãe para São Paulo e o contato entre as amigas se perdeu.

Ao se reencontrarem, novos motivos fortaleceram ainda mais a relação. Logo a segunda filha de Jade nasceu e, aos seis anos de idade, sofreu Acidente Vascular Cerebral (AVC). Geovana lembra com emoção do momento. “Um dos momentos mais marcantes foi o nascimento do Bruno, ela foi liberada da maternidade e ele não. A gente chorava e ria ao mesmo tempo, foi uma loucura. Depois veio o nascimento do meu filho, eu tive uma filha antes do Bruno. Lembrando desses momentos não dá para segurar a emoção, tudo marca nossa amizade”, comenta.

Em fevereiro de 2011, aos 31 anos com muitos planos na vida, Jade começou a sentir dores no estômago. Os médicos afirmavam que era falta de exercícios físicos e mandavam para casa novamente. Nos dias seguintes começaram os vômitos e diarréia, mas os exames não constava nada, aumentando a angústia. Ficou internada em vários hospitais da cidade.

Nos últimos dias de vida apareceu uma macha no estômago e ali começariam exames para saber se realmente era um câncer, mas Jade não resistiu. Em seguida, Bruno foi morar com a Geovana que era madrinha também. “O Bruno é um filho pra mim. Lembro que a médica falou que não sabia o que ela tinha, mas que tinha alguma coisa consumindo a vida dela”, comenta Geovana.

Deurico Ramos/Capital News

Após morte da melhor amiga, Geovana ganha terceiro filho e mantém saudade viva no coração

Geovana se emociona ao lembrar dos momentos vividos

 

As visitas no hospital foram marcadas pelos últimos momentos, olhares e gestos. “Sonhei que ela me falava que estava indo embora e pediu para cuidar os filhos dela. Ela disse que um dia a gente ia se encontrar, mas não agora. Quando acordei me ligaram e pediram para levar os documentos dela”, relembra emocionada. 

Sempre com muita certeza, Jade explicava para a amiga que não se via envelhecendo e que não conseguia imaginar criando os filhos até a fase adulta. “Parecia que ela viveu tudo intensamente sabendo o que iria acontecer. Por mais que passou esse tempo de seis anos, tudo é muito recente e ainda dói. Era uma pessoa com o coração imenso e sempre ajudava alguém”.

“O tempo não amenizou a falta"

Uma falta que não tem tamanho, hora e nem partida. Uma saudade que machuca o peito e fere a alma de quem espera ansiosamente por um reencontro. “O tempo não amenizou a falta. Quando ela foi embora eu não podia falar o nome dela. Muita coisa na minha vida seria diferente, as minhas dificuldades seriam mais leves e a dor menor. Tenho minha mãe e o Bruno que sou ligada, mas tem coisas que só ela me ajudava. Tem coisas que eu não passaria se ela estivesse aqui comigo”, cota com lágrimas.

Deurico Ramos/Capital News

Após morte da melhor amiga, Geovana ganha terceiro filho e mantém saudade viva no coração

No coração cresceu um carinho de mãe e filho

Hoje a dor passou de física para emocional, o choro se tornou mais silencioso e Geovana encontra força no tempo. Aquele tempo que se diz curar tudo, levou um pouco da dor e ajudou com a presença de Bruno. “Sinto muita falta da minha mãe, e agora a Geovana é minha segunda mãe”, afirma o filho.

Após seis anos sem a presença da amiga, o coração ainda tem a esperança de um abraço e sorriso. Geovana sente que Jade viveu aproveitando a vida da melhor forma possível, mas almeja o dia em que poderá dizer o quanto sofreu sem ela. “É uma saudade de querer saber quando será que vou encontrá-la”, finaliza Geovana.