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Crianças e adolescentes são as maiores vítimas de estupro em Campo Grande. Dados disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) apontam que 76,9% dos casos registrados de violência sexual no ano passado foram cometidos contra pessoas de 0 a 19 anos. No total, foram 165 notificações de abuso sexual na capital em 2018.
Dentre os números, chama atenção a vulnerabilidade dos mais jovens. Do total de casos, 66% foram cometidos contra menores de nove anos. Pré-adolescentes (10 a 14 anos) e adolescentes (15 a 19 anos), por sua vez, correspondem a 37% dos casos. Com relação ao gênero, as mulheres são a maioria entre as vítimas. Representam 83% dentre as crianças, e 90% dentre os adolescentes.
O Capital News entrevistou a psicóloga Viviane Vaz, coordenadora do projeto Nova, instituição que atende vítimas de exploração sexual. Segundo ela, o crime, de modo geral, tende a ser subnotificado, principalmente quando cometido contra crianças, que geralmente não possuem discernimento para identificar abusos. Portanto, é muito importante que os pais, ao perceberem mudanças repentinas no comportamento do filho, procurem imediatamente um profissional.
Denilson Secreta
Viviane Vaz
“No caso da criança, os pais não devem chegar e abordar: ‘você está assim porque aconteceu isso, isso e isso?’. A gente não pode colocar assim, porque para a criança, que não tem entendimento do que está acontecendo, concordar talvez seja uma forma mais fácil. Ou o contrário: mentir, para não fazer os pais sofrerem. Por isso, essa conversa deve ser amparada por profissionais”, diz.
Viviane explica ainda que o projeto oferece atendimento não só às vítimas de exploração sexual - sejam elas crianças, adolescentes ou adultos - mas também aos seus familiares. “Se a mãe é vítima, por exemplo, é claro que a criança vai ser prejudicada de alguma maneira. Então toda a família recebe atendimento”, esclarece. Atualmente, a instituição recebe 25 famílias.
Como prevenir
Mudar este cenário exige esforços de governos e da sociedade civil. Viviane ressalta a importância da educação sexual nas escolas, que pode ajudar as crianças a identificarem as diferenças entre toques de afetos de toques de abuso, bem como ensiná-las de que o seus corpos lhe pertencem e que ninguém tem o direito de tocar suas partes privadas.
A medida se faz ainda mais importante pelo fato de que a maioria dos casos de estupro são cometidos no ambiente familiar. Segundo a psicóloga, em Mato Grosso do Sul, a casa da vítima é a cena do crime em 86% dos casos.
Ela esclarece, no entanto, que falar sobre sexualidade nas escolas não é o mesmo que incentivar a iniciação sexual precoce de crianças e adolescentes, pelo contrário. “Se a criança tiver a sexualidade despertada fora do momento, ela poderá ter um descontrole psíquico. Isso é cientificamente comprovado. Mas é muito importante falar sobre a sexualidade da maneira certa, no sentido de ensinar a criança de que ela tem um corpo, e que esse corpo precisa ser respeitado”.
Como identificar uma vítima
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Isolamento social, mudanças bruscas de comportamento e sequelas físicas são alguns dos sinais que podem identificar abuso
Alguns sinais que podem ajudar a identificar um possível abuso sexual infanto-juvenil são:
• Mudanças de comportamento: O primeiro sinal é uma possível mudança no padrão de comportamento da criança. Essa alteração costuma ocorrer de maneira imediata e inesperada. Em algumas situações, a mudança de comportamento é em relação a uma pessoa ou a uma atividade em específico
• Traumatismos físicos: Os vestígios mais óbvios de violência sexual em menores de idade são questões físicas como marcas de agressão, doenças sexualmente transmissíveis e gravidez. Essas são as principais manifestações que podem ser usadas como provas à Justiça.
• Mudanças de hábito súbitas: Uma criança vítima de violência, abuso ou exploração também apresenta alterações de hábito repentinas. O sono, falta de concentração, aparência descuidada, entre outros, são indicativos de que algo está errado.
• Enfermidades psicossomáticas: São problemas de saúde, sem aparente causa clínica, como dor de cabeça, erupções na pele, vômitos e dificuldades digestivas, que, na realidade, têm fundo psicológico e emocional.
• Frequência escolar: Observar queda injustificada na frequência escolar ou baixo rendimento causado por dificuldade de concentração e aprendizagem. Outro ponto a estar atento é a pouca participação em atividades escolares e a tendência a isolamento social.