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Opinião Segunda-feira, 24 de Abril de 2017, 07:00 - A | A

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Opinião

Como entender os políticos deste país?

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Por Luiz Carlos Cagliari*
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Luiz Carlos Cagliari - Artigo

Luiz Carlos Cagliari

 

Sempre gostei de História e de histórias. A verdade de uma e a imaginação da outra sempre me fascinaram. Saber e entender o que aconteceu com a Humanidade e com o meu povo é um dever não apenas uma curiosidade. Mas confesso que sempre tive dificuldades para conseguir esses objetivos pelas dificuldades de acesso às informações. Hoje, com a Internet, tudo ficou muito disponível. Contudo, o excesso de informações contraditórias, falsas, incompletas, de mentiras tenha trazido muita frustação com relação à verdade. Aprendi muito pouco na escola porque a escola ensinou muito pouco e repetiu demais. Por exemplo, sempre fui fascinado pelo interesse científico de D. Pedro II, mas aprendi pouco. Sendo uma ideia recorrente, quando vejo, por exemplo, que o Brasil possui múmias, um Museu Nacional (desprezado pelo Governo), a gravação da voz de D. Pedro II feita por Thomas Edison, os correios e tantas outras coisas como o reflorestamento da Tijuca, etc. Às vezes, me volto para a figura de José Bonifácio de Andrada e Silva, preceptor do monarca. Certamente, para a quase totalidade de brasileiros, José Bonifácio não passa do nome de uma rua. Na verdade, foi um cientista que conheceu os grandes cientistas europeus e publicou muitos trabalhos. Era formado em química e em metalurgia e lecionou em Coimbra durante vários anos. Foi convidado a se retirar do país por D. Pedro I porque queria, juntamente com a independência do Brasil, abolir a escravidão e demarcar territórios para os índios. Por que a escola não ensina essas coisas?

Pulando no tempo e no espaço, nas últimas décadas, sempre ouvi falar que os políticos roubavam - o que se confundia, muitas vezes, com a impossível situação financeira de infração colossal. Um político, grande realizador de obras (Bandeirantes, Imigrantes, Airton Senna, Aeroporto de Guarulhos, etc.) chegou a dizer que daria todo o dinheiro se alguém achasse alguma conta dele no exterior. E ninguém achou. Agora vem a Lava Jato escancarando a inominável corrupção dos atuais políticos e até do judiciário, não com uma, mas com muitas contas de propina e de lavagem de dinheiro. A Lava Jato provou o que as pessoas suspeitavam dos políticos. Parodiando Macunaíma o grande mal do país são os seus políticos.

Revelações atuais mostram que a Odebrecht se transformou no banco financiador dos políticos: enquanto um construía, os outros destruíam o país. Acho incrível como uma firma como a Odebrecht tenha chegado ao ponto de criar um departamento de propinas, um modus operandi criminoso, mas inteligente, de esconder e dificultar as revelações dos crimes. Marcelo Odebrecht é, certamente, um grande estrategista. Porém, crime é crime. Os políticos, por sua vez, muito corruptos e pouco ingênuos, tiraram o dinheiro da construção de uma sociedade saudável e deixaram um vazio financeiro na administração, tornando impossível qualquer planejamento de cunho social. Veja o exemplo de Sérgio Cabral. Por que o Brasil parou de fazer estradas, de cuidar das coisas básicas das cidades, como o transporte, a alimentação, a escola e, sobretudo, a saúde? Quanto dinheiro foi roubado? As cifras são astronômicas a ponto de humilhar roteiros de filmes de roubo de Hollywood.

Indo além da Lava Jato, nas cidades, a corrupção dos pequenos empresários também é notável. Pequenas quantias de muita gente geram grandes sonegações. Sempre tive grande dificuldade em conseguir nota fiscal em praticamente todo tipo de estabelecimento. Existe um “relatório financeiro” que mascara a sonegação. As universidades estaduais paulista, que são excelentes com o pouco que ganham, sobrevivem com uma pequena parte da arrecadação do ICMS: poderiam ser ainda melhores se tivessem melhores condições de pesquisa.

Nunca consegui entender por que alguns setores recebem grandes benefícios no sentido de não pagarem os impostos na mesma medida de outros setores e de nós pessoas. Se eles precisam de dinheiro para produzir, o povo precisa de dinheiro para sobreviver e para criar melhores condições de vida. Não tenho vontade de ser político, mas preciso me preocupar com eles porque são meus chefes sociais, são os que determinam como devemos viver sob muitos aspectos sociais, econômicos e ambientais. Em posição de comando, a incompetência também é uma forma de corrupção e geradora de todo tipo de desgraça.

Trocar D. Pedro II por um Marechal Deodoro não valia a pena. Qual era o preparo do Marechal para governar o Brasil? A cultura brasileira sempre viveu de uma mistura de sociologia com filosofia. O que nos é transmitido nas escolas e nos livros a respeito da cultura clássica greco-romana não passa de uma visão filosófica e sociológica que gera muita discussão e realiza pouco no mundo real. Somos educados em uma cultura de pouco valor. Uma visão histórica de uma cultura tecnológica teria dado uma visão de habilidades para resolver desafios da vida.

Qual é a formação de nossos políticos: quais são suas credenciais intelectuais e morais? Pelas leis que fazem e deixam de fazer, fico sempre achando que são pessoas medíocres e pela moral, pessoas corruptas. A mentira é seu modo de falar. Acho que chegou a hora de acabar a corrupção geral que assola o Brasil. A moralidade é uma decorrência da competência. Muitas vezes, as pessoas dizem que são honestas, acham que são, até que alguém grita que o rei está nu. Mas políticos gostam de enganar os outros porque gostam de enganar a si mesmos.

 

 

*Luiz Carlos Cagliari

Professor do Departamento de Linguística da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara.

 

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