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Opinião Domingo, 24 de Junho de 2018, 09:51 - A | A

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Mulheres na Ciência: Tributo a Hildegard von Bingen

Por Ronaldo Mota*

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Em julho próximo, ocorrerá a 70ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Maceió, Alagoas. No dia 26/07, quinta-feira, das 15h30 às 18h, participo na Mesa-Redonda “Mulheres na Ciência”. Sendo o único palestrante do sexo masculino, escolhi, naturalmente, homenagear uma mulher cientista. Deparei-me com textos impressionantes descrevendo uma pensadora singular, precursora em vários aspectos e por certo uma pioneira na ciência. Portanto, este Tributo a Hildegard von Bingen, considerada a monja beneditina que no século XII uniu o céu e a terra, é uma modesta forma de homenagear a todas as cientistas que romperam barreiras e preconceitos ao longo de todos os tempos.

Divulgação/Assessoria

Ronaldo Mota

Ronaldo Mota

 

Hildegard, nascida em 1098 na Alemanha, viveu até os 81 anos de idade. Em 1584, foi canonizada pelo papa Gregório XIII, em ato administrativo e sem processo formal, tendo o papa Bento XVI, em 2012, reafirmado oficialmente sua santidade, ao mesmo tempo em que a proclamou Doutora da Igreja.

Ela provinha de família nobre da região de Alzey, no sul da Alemanha. Desde criança a futura abadessa demonstrava habilidades visionárias. Seus pais a entregaram aos oito anos a um mosteiro de monges de Disivodemberg, o qual mantinha uma ala para mulheres dirigida por Jutta von Spannheim, que se tornaria sua segunda mãe e instrutora. Embora tenha começado a ter visões aos três, somente aos quarenta ela convenceu o papa a lhe permitir escrevê-las. Foi assim que começou a registrar tanto as visões, como livros de medicina, remédios naturais, cosmogonia e teologia.

Hildegard von Bingen escreveu e foi ativa em muitas áreas e, em especial, suas considerações sobre o orgasmo feminino foram absolutamente peculiares e inéditas.  Ela tratava do tema sexo sem receio, tendo sido pioneira na descrição do orgasmo do ponto de vista de uma mulher, descrevendo que o prazer era experimentado a dois e que a mulher também o sentia. Considerando tratar-se de uma monja no século XII, há que se considerar o impressionante nível de atrevimento para a época. O ato sexual, para ela, era visto como algo inocente, sublime e ardente. Quanto ao pecado original de Eva, o único culpado era Satanás, invejoso da capacidade da mulher de gerar vida.

Em particular sobre ciência, Hildberg, entre os anos de 1151-1158, escreveu uma grande obra de medicina, Liber subtilitatum diversarum naturarum creaturarum, um livro das sutilezas das várias naturezas da criação. Após sua morte, esta obra foi dividida em duas partes: I. Physica ou Liber simplicis medicanae, um tratado de medicina naturalista, em nove capítulos, e II. Causae et curae ou Liber compositae medicanae, acerca da medicina composta. Nos textos as causas das enfermidades, seus remédios e o funcionamento interno do corpo humano e sua relação com o cosmos são abordados dentro de uma visão terapêutica de totalidade holística entre os quatro elementos formadores do universo: terra, água, ar e fogo.

Hildegard foi sempre fiel à sua visão integrada e holística dos fenômenos, na qual o natural e o sobrenatural, bem como o corpo e a alma, refletiam relações harmônicas entre o homem e a natureza. Ela conseguia conjugar esses elementos com a concepção de que boa parte das doenças seria consequência do pecado original, da separação entre o criador e a criatura. Neste sentido, a doença deixa de ser um assunto exclusivamente de ordem física, abrangendo também o espiritual, conectando os males que atingiam a alma e aqueles que afligem o corpo humano.

Em suma, nada mais atual, interessante e ilustrativo do que os pensamentos de Hildegard von Bingen. Por ocasião do evento na SBPC, tratarei de outros temas complementares associados a esta precursora da ciência moderna, em especial de sua incrível produção enquanto compositora, cujas contribuições à música são igualmente surpreendentes.

 

 

*Ronaldo Mota

Chanceler da Estácio

 

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