Roberto Higa, 60 anos, é um dos mais respeitados fotógrafos de Mato Grosso do Sul. Com mais de 40 anos de profissão, ele foi testemunha do nascimento do Estado, fruto da divisão de Mato Grosso. É ele quem conta a história para nós.
O desmembramento aconteceu por meio de uma lei complementar, em 11 de outubro de 1977, mas a implantação do Estado aconteceu no dia 1º de janeiro de 1979.
A notícia da divisão foi muito festejada pela população, conta Higa, transformando as ruas de Campo Grande em um carnaval fora de época. “As pessoas foram para as ruas. Teve passeata de manhã até a noite. Jogaram papel picado, fizeram aquela festa toda”, afirmou. “A cidade foi para rua. O povo soltou fogos porque a gente só tinha ideia do que os políticos vendiam para gente. Logo, logo o pessoal caiu na real”.
Profeta Gentileza participou da festa pela criação de MS
Foto cedida por Roberto Higa
Uma das fotos revela que até o Profeta Gentileza participou da comemoração. A personalidade carioca que ficou conhecida a partir de 1980 por fazer inscrições peculiares sob um viaduto no Rio de Janeiro, aparece com a túnica branca e a longa barba no meio do povo, embaixo de uma chuva de papel picado.
A festa não acabou naquele momento. Em 1979, com a implantação do Estado, novamente a população foi às ruas, mas os registros de Higa começam bem antes.
Ele conta que a divisão não aconteceu de uma hora para outra. “Isso é um processo que vem desde 1935, 1940, se discutia a divisão, porque o Estado era muito grande. Para você ter uma ideia, de uma cidade chamada Luciara, ela ficava a mais de 700 km de Cuiabá. Você imagina chegar daqui de Mundo Novo até lá. Como o governo ia cuidar disso tudo?”, questiona.
Carreata, confete e serpentina: virou Carnaval nas ruas de Campo Grande
Foto cedida por Roberto Higa
“Nós levávamos 3, 4 meses, se chovesse então era muito mais, para dar a volta no Estado numa Veraneio que nós tínhamos, porque naquela época quando chovia você era obrigado a parar. Você não podia continuar a viagem porque os profissionais da estrada, os caminhoneiros, não deixavam porque estragava a estrada, criava aqueles facões e eles não tinham como circular. Então eles paravam a bala se fosse preciso. Eles não deixavam carro pequeno circular quando chovia. Não tinha asfalto. Asfalto começou a partir de 1980”.
Em 1976, Roberto Higa foi contrato pelo governo uno para fotografar o último ano do Mato Grosso uno. Ele registrou tudo, inclusive o CPA (Centro Político Administrativo) de Cuiabá, onde funciona até hoje o governo.
"Bezorrões"
Após a divisão, nem tudo foi festa. A população não quis aceitar várias mudanças. “Começaram a aparecer carros pretos. Bicho, quando você aparecia com um carro preto, só faltava o pessoal jogar pedra. Nós não estávamos acostumados com essa coisa de mordomia, vir carro te buscar”, disse. A reação da população foi tão forte, conta Higa, que automóveis do governo tiveram que ser recolhidos.
Chamados de "bezourões", carros do governo tiveram que ser recolhidos
Foto cedida por Roberto Higa
Continua também muito vivo na memória de Roberto Higa a criação do Parque dos Poderes, na década de 80, por Pedro Pedrossian. Na época, a sede dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário era chamada de Parque dos Três Poderes.
Antes, conta Higa, o governo funcionava em um prédio chamado de Erpes (Escritório das Repartições Públicas), mas o local “começou a ficar pequeno e aí criaram o Parque dos Três Poderes”.
Ele revela mais uma curiosidade: vistas de cima, as ruas do parque formam duas letras “P”, iniciais do governador à época.
Higa tem mais de 40 anos de profissão e histórias que não acabam mais
Fotos: Deurico/CapitalNews