Durante ciclo de palestras realizado na terça-feira (12) pelo Ministério Público Federal, em Campo Grande, especialistas que discutiram o impacto do uso dos agrotóxicos na atividade econômica e também os riscos para a saúde humana.
O evento organizado pela Comissão Estadual de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos em Mato Grosso do Sul, analisou casos de problemas ambientais e de saúde decorrentes do uso inadequado e excessivo de agrotóxicos, que provoca, por exemplo, doenças como câncer, má formação do feto e distúrbios em todo o organismo. Ações que reduzem os impactos negativos da aplicação dos agrotóxicos foram citadas como principais experiências trazidas ao ciclo de palestras.
O professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Wanderlei Pignati, apresentou pesquisa que revela que a exposição a agrotóxicos, em alguns estados, é maior do que a média nacional, hoje pouco acima dos 5 litros por habitante por ano.
De acordo com o pesquisador, em Mato Grosso, cada habitante está exposto a 50 litros/habitante/ano e em Mato Grosso do Sul a taxa é de 40 litros/habitante/ano. Nos últimos 5 anos, as notificações de contaminação por agrotóxico passaram de 5 mil para 10 mil casos de infecção aguda. “Nossas pesquisas revelam que o agrotóxico contamina o solo, a água potável, os alimentos, as carnes, o ar e até o leite materno de mães que vivem em regiões agrícolas”, afirma.
Falta de informação contribui com o aumento dos casos de contaminação
Para o diretor da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Adriano Riesemberg, não é possível eliminar o agrotóxico na agricultura de grande escala, mas existem várias alternativas. Ele afirma que no Paraná foi interrompida a curva de crescimento do uso de agrotóxicos. “Acho que isso é possível no Brasil inteiro. Precisamos ter sistemas que avaliem e mostrem o que está sendo usado, quem está usando e recomendando para coibir os excessos e valorizar o bom profissional. A informação é o pilar dessa questão”, disse.
O procurador do Trabalho no estado, Leomar Daroncho, disse que uma das grandes dificuldades de campanhas educativas esbarra no analfabetismo funcional no campo, que chega a 80%. Um exemplo citado é o de um desenho que o fabricante do produto desejava que fosse entendido como “lave as mãos após o uso”, mas que foi “traduzido” por um trabalhador rural como orientação para misturar o defensivo com as mãos”.
Leontino Ferreira de Lima Junior, procurou do Trabalho, que encerrou o ciclo de palestras, afirmou que além da busca por formas efetivas de controle quanto ao uso indiscriminado de agrotóxico, a ideia da Comissão, bem como das palestras, é difundir a informação, de maneira que a sociedade tenha conhecimento e possa se autodeterminar quanto ao alimento que quer consumir. “Além disso, não podemos esquecer que o direito à informação, neste caso, está intimamente relacionado à saúde, já que não são raros os casos de intoxicações e adoecimentos”, finalizou.
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