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Reportagem Especial Sábado, 24 de Abril de 2010, 09:07 - A | A

Sábado, 24 de Abril de 2010, 09h:07 - A | A

Viagra é vendido e usado livremente por jovens e adolescentes de Campo Grande

Eduardo Penedo Capital News (www.capitalnews.com.br)

Que homem não gostaria de aumentar a duração de uma ereção? Conseguir prolongar o prazer para sua parceira? Isso é fácil, basta você ir a uma farmácia e pedir um “Azulzinho”, ou a “Força Azul” para o farmacêutico. E nem precisa ter receita – o que é obrigatório. É só fazer como o adolescente P. R. S., de 17 anos, que chega sorrateiramente na drogaria e já fala “na lata” para o farmacêutico: “Me vê uma Força Azul aí véio”. O atendente sem pestanejar lhe entrega um medicamento tarja vermelha com letras graúdas dizendo: “Venda sob prescrição médica”. O jovem paga e vai embora com seu “Azulzinho” aproveitar o prazer prolongado que será proporcionado pelo produto – que por sinal não pode ser vendido para menores.

O adolescente de 17 anos como vários outros jovens engloba a mais nova lista de pessoas que não sofrem de impotência sexual, mas usa inequivocamente a Sildefanil 50mg, mais conhecida como Viagra. E muitos deles já estão viciados no medicamento.

Em seis farmácias verificadas pela reportagem todas comercializam o medicamento que tem a venda sob prescrição médica livremente. Nos seis estabelecimentos foi constatada a facilidade de aquisição do medicamento por qualquer pessoa. Os atendentes não pedem nenhuma receita médica e a mercadoria pode ser comprada até “por atacado”; cinco caixas por uma mesma pessoa.

Segundo atendentes de farmácia consultados pela reportagem, pelo menos 40% das pessoas que procuram esses medicamentos têm entre 18 e 25 anos.

A reportagem “deu um rolê” pela “balada” campo-grandense e conversou com 30 rapazes naquela faixa etária, sendo que 13 confirmaram que já utilizaram o medicamento para melhorar o desempenho sexual. Cinco gostariam de usar, mas têm medo. Já 10 garantem “de pé junto” que nunca utilizaram e nem precisam. Dois não quiseram conversar sobre o assunto.

Muleta desnecessária

De acordo com o adolescente P. R. S., de 17 anos, ele utiliza o Viagra há três meses e depois que descobriu os efeitos do medicamento não sabe mais como viver sem ele. P. explica que tomou o primeiro estimulante sexual incentivado por um amigo de 16 anos que também utiliza o medicamento. “Quando o meu amigo me ofereceu falou que eu ia conseguir ficar de pau duro por umas três horas seguidas. Eu podia gozar e o pau ficaria um pouco meia-bomba, mas ainda duro o suficiente para transar”, explica o adolescente.

O jovem diz que nunca teve problema de ereção ou algo desse tipo. Ele afirma que “conseguia segurar o gozo por um bom tempo”. Mas, ele queria impressionar a namorada e acabou utilizando o medicamento. “Como a minha namorada perdeu a virgindade comigo. Eu queria ser lembrado por ela pela vida toda. Quando transamos pela primeira vez eu não utilizei nada, mas na segunda vez eu usei e ela ficou impressionada consegui transar com ela sete vezes e consegui que ela gozasse todas as vezes. Depois que descobri isso não paro mais de usar”, revela.

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Os jovens mesmo não tendo nenhum problema de impotência sexual tomam o medicamento para melhor o desempenho e impressionar seus parceiros
Foto: Deurico/Capital News

Já o estudante de Farmácia Leandro (nome fictício), de 22 anos, diz que usa o medicamento há um mês, mas revela que só usa em momentos especiais. “Eu sei do que é feito e o que faz esse medicamento no meu organismo, mas uso quando quero impressionar. Fazer a mulherada delirar comigo. Até hoje não me fez mal. Eu sei que a diferença do medicamento para o veneno é a dose. Eu sei qual é o meu limite para usar o Viagra”, argumenta.

Malefícios

Para o médico membro da Associação Brasileira de Urologia, Joaquim Miguel Vinha, o uso do Viagra por jovens que não sofrem de impotência sexual é um crime. Ele explica que o uso do Viagra a princípio pode causar alguns efeitos colaterais como cefaleia (dor de cabeça), rubor da face, dores musculares e em casos extremos o jovem pode ter até a doença chamada priapismo – que é quando o pênis fica mais de três horas em ereção seguida e, em decorrência disso, o sangue pode coagular nos vasos cavernosos levando à impotência sexual, tendo como único caminho de resolução do problema a utilização da prótese peniana.

Vinha lembra que pessoas que sofrem ou têm histórico cardíaco não podem usar o Viagra correndo o risco de até perder a vida em função de infartos ou acidentes vasculares cerebrais (derrames).

O urologista explica que o medicamento não causa dependência química e sim uma dependência que considera pior, a psicológica . “O jovem, adolescente, acredita que só conseguirá um bom desempenho sexual se tomar o medicamento, mesmo não tendo nenhum problema de impotência sexual.”

Álcool e diminuição de libido

Segundo Vinha, os jovens nas baladas abusam da ingestão de álcool e com isso o desejo sexual diminui em função do efeito da substância no organismo. O urologista informa ainda que os jovens exageram na bebida e não conseguem ter suas relações sexuais com a total potencialidade ai apelam para o Viagra. “Todos já sabem que beber em excesso e fumar diminuem o desempenho sexual e os jovens quando vão às baladas bebem em excesso e tentam compensar utilizando o Viagra.”

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Uma das causas dos jovens buscarem o estimulante é em função do abuso de bebidas alcoólicas que diminui o desempenho sexual e para compensar tomam o Viagra
Foto: Deurico/Capital News

Vinha esclarece que não há necessidade de jovens utilizarem o Viagra para melhorar o desempenho sexual. O urologista revela o segredo para que o homem seja o “garanhão” na cama com apenas três dicas: ter uma boa noite de sono; se alimentar bem; e não utilizar nem álcool e nem fumar. “Com melhores hábitos, os jovens não vão precisar utilizar o Viagra para ter um bom desempenho, principalmente, porque são jovens e, por regra, não têm problema de impotência sexual”, explica.

Fácil de encontrar e fiscalização precária

A reportagem percorreu as ruas de Campo Grande e constatou que é muito fácil adquirir estimulantes sexuais na Capital. No Camelódromo, o Capital News conseguiu encontrar uma loja que vendia o medicamento, mas não o Viagra: o genérico Cialis – que muitas vezes é trazido contrabandeado do Paraguai.

O valor médio do estimulante nas farmácias varia de R$ 56 a R$ 189 dependendo da dosagem e da unidade. No comércio informal pode ser encontrado o Viagra (falsificado) no valor de R$ 20 a R$ 45.

Já o Ciales é bem mais fácil de encontrar e o preço varia de R$ 10 a R$ 50, dependendo da banca que você compra e do jeito que pechincha com o vendedor.

Mesmo com forte fiscalização nas rodovias federais de Mato Grosso do Sul, ainda pode se encontrar com muita facilidade medicamentos contrabandeados do Paraguai em Campo Grande. No período de 1° de janeiro até o dia 18 de abril, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu 829 unidades de medicamentos contrabandeados. Já no mesmo período do ano passado foram apreendidas 6.975 unidades.

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Wilson Uehara avalia que as transformações das farmácias em mercadinhos contribuem para essa falta de controle na venda de medicamentos
Foto: Divulgação/CRF-MS

O vice-presidente do Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso do Sul (CRF-MS), Wilson Hiroshi de Oliveira Uehara, comenta que a entidade fiscaliza as farmácias para que não haja essa venda indiscriminada de medicamentos que só podem ser comercializados sob prescrição médica. Ele aponta que um dos fatores para essa venda liberada até para adolescente deve-se ao fato de as farmácias e drogarias serem transformadas em "mercadinho". “Nós estamos lutando para acabar com a mercadelização das farmácias. Agora, nas drogarias nos podemos comprar de tudo.Nossa luta é para que as farmácias parem de ser um mercadinho e se transforme em uma estabelecimento de saúde."

Uehara revela ainda que muitas vezes essa venda de medicamentos controlados se deve à falta de um profissional farmacêutico no estabelecimento. ”Muitas vezes quem vende o remédio e o atendente ou o dono da farmácia que nem conhecimentos sobre o assunto têm”, avalia

Ele declara que o CRF-MS e as vigilâncias sanitárias do Estado e Municipal estão atuando fortemente nas farmácias para poder evitar a venda desses medicamentos. Uehara lembra ainda que o Conselho sempre faz campanhas para consientizar a população." O Conselho não atua nas famácias e sim nos farmacêuticos resposáveis então o nosso controle e sobre o profissional", argumenta.

Uehara explica ainda que o conselho está aberto para a população fazer denúncias e reclamações tanto por escrito quanto verbalmente. Ele diz que as denúncias podem ser feitas por meio de telefone (67) 3325-8090, ou pelo site da entidade, que é o  www.crfms.org.br.


Por: Eduardo Penedo – (www.capitalnews.com.br)

 

 Veja também:

 ENTREVISTA - 04/03/2010 - 10:12
  Presidente do CRF-MS diz que nova resolução da Anvisa quer "devolver caráter de estabelecimento de saúde" às drogarias

 

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