Pai de três filhos, um adolescente de 14 anos e duas crianças de sete e um ano de idade, o agente Carlos Augusto Queiróz de Mendonça, de 44 anos, era um homem paciente, simples e atencioso, e sabia o quanto era importante para a família. “Ele se preocupava com a vida por causa da família, e tinha comentado que gostaria de ir pra outro lugar, porque ali achava perigoso”, conta um colega.
Dez anos de serviços prestados em penitenciárias fizeram de Mendonça um agente respeitável, porém amigo de todos, inclusive de alguns detentos. “Ele era respeitador, não tinha encrenca com ninguém”, afirma outro colega. A calma do agente é apontada por alguns colegas como um dos possíveis motivos para ele ter sido “escolhido” para ser morto, durante um plantão no Estabelecimento Penal de Regime Aberto e Casa do Albergado, na manhã desta quarta-feira (11).
Saiba mais
Após morte de colega, agentes penitenciários protestam por melhores condições de trabalho
Colegas que lamentam pelo colega, vítima da falta de condições de trabalho, e família que chora pelo pai, esposo e irmão que apesar de tudo, se sentia bem com o trabalho que realizava. “Ele gostava do trabalho, tinha medo por algumas situações que aconteciam lá dentro, mas sempre gostou”, conta Paulo César Queiroz de Mendonça, irmão de Carlos.
Foto: Deurico/Capital News
Segunda morte
Em 2011, o agente Hudson Moura da Silva, 34 anos, morreu depois de 19 dias internado. As circunstâncias da morte dele foram semelhantes à de Mendonça.
Hudson também foi morto no Estabelecimento Penal de Regime Aberto e Casa do Albergado. Ele foi surpreendido por um homem encapuzado quando estava liberando detentos no portão lateral. Dois tiros de arma calibre ponto 40, que é de uso restrito da polícia, o atingiram. Os tiros acertaram o tórax e o ombro esquerdo da vítima.
Na época, a polícia prendeu alguns suspeitos de terem cometido o crime, mas até agora nenhum deles foi condenado.
Precariedade do sistema
“Se não fosse ele, seria outro, o sistema é muito vulnerável”, considera João Guimarães Pereira, membro do Sindicato dos Servidores da Administração Penitenciária de Mato Grosso do Sul (Sinsap). No momento em que Mendonça foi morto, apenas ele e outro colega faziam a segurança da unidade penal com mais de 200 detentos.
O agente foi surpreendido por um homem encapuzado, por voltas das 6h, que entrou no local armado e disparou vários tiros. De acordo com o presidente do sindicato, André Luiz Garcia, agentes penitenciários não utilizam armas, colete ou qualquer outro instrumento de proteção e defesa, o que facilita a ação de bandidos. “Segurança é o mínimo que podemos pedir ao gestor do estado, a falta de efetivo, estrutura física e condições descentes de trabalho colocam outras pessoas em risco”, enfatizou o presidente.
Segundo o dirigente, o sistema tem hoje 968 servidores de custódia em Mato Grosso do Sul, quando deveria ter 2.694 agentes, para garantir a ordem de penitenciárias com mais de 13 mil presos. Além disso, muitos servidores estão afastados seja por férias ou questões médicas.
Protestos
Na tarde desta quarta-feira(11), cerca de 30 agentes penitenciários se reuniram em frente da governadoria em um ato de protesto, devido à morte do agente penitenciário.
O presidente do Sindicato dos Servidores da Administração Penitenciária de Mato Grosso do Sul (Sinsap), André Luiz Santiago, encaminhou ao diretor-presidente da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), um ofício solicitando a dispensa dos agentes para prestar homenagem à memória do servidor morto a tiros durante o plantão.
Já na tarde desta quinta-feira(12), após o sepultamento de Mendonça, os servidores fizeram um protesto em frente a Agepen, solicitando melhorias para a categoria.
Mais de 100 carros acompanharam o cortejo do agente
Foto: Deurico e Luana Rodrigues/Capital News
