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Alexandre Garcia Quinta-feira, 25 de Junho de 2009, 10:10 - A | A

Quinta-feira, 25 de Junho de 2009, 10h:10 - A | A

As trombetas de Jericó

Jornalista Alexandre Garcia

As trombetas de Jericó

Senado Federal pagou de 2003 até hoje, 1 bilhão de

A Coluna do Cláudio Humberto sugere que, ante o silêncio da grande torcida brasileira, seja convocada a torcida da África do Sul para cornetear diante do Senado, em Brasília. É de se pensar por que estamos tão indiferentes à corrupção e à falta de vergonha de representantes dos nossos Estados. Já vi grandes manifestações da cidadania, no movimento das Diretas-já e depois na derrubada de Collor.

Teria se esgotado a energia cidadã?

Teríamos cansado de tanta denúncia que resolvemos o problema como faz a avestruz?

Teríamos preferido a alienação total, de tanto ficarmos enojados com o que nos mostram?

Fico imaginando se o responsável não é a internet. Mandam-se mensagens para os senadores e com o silêncio delas julgamos cumprida a nossa obrigação de mandantes, eleitores, contribuintes, cidadãos. Estamos todos a nos perguntar por que razão não se enche a Esplanada de trombetas a vibrar nos tímpanos refratários de senadores e integrantes dos contracheques engordados por gratificações e horas-extras.

De 2003 até hoje, foram 1 bilhão e meio de gratificações e quase meio bilhão de horas-extras.

O próprio nome define o que seja gratificação: um prêmio para um trabalho além da rotina, de responsabilidade e desempenho superiores. Será por isso que o Diretor-Geral Agaciel Maia merecia dar a si próprio um salário superior ao do presidente da República e bem acima do teto do serviço público? Ele diz que outros também ganharam isso. Usou a explicação como desculpa, quando, na verdade, é um agravante.

E horas-extras são aquelas trabalhadas além do expediente, por necessidade do serviço. Fico imaginando quanto serviço terão 10 mil pessoas para servir a 81 senadores. O que faz um senador para ocupar 123 servidores do Senado?

Como se sabe, os senadores andam por lá às terças, quartas e quintas-feiras. Segundas e sextas, o Senado tem sido um deserto, à exceção desta semana. Precisa hora-extra para isso?

Engraçado que o trânsito fica pesado em direção ao Congresso das 9 da manhã em diante. E às 6 da tarde, na volta. Sinal de que não há hora-extra, a não ser na folha de pagamento. À noite, as lâmpadas acesas testemunham o trabalho dos pobres do Senado: o pessoal da limpeza, fruto de contratos terceirizados que geram até prisões, como já aconteceu. O diretor preso foi destituído num dia e nomeado para outro cargo no Senado dois dias depois. Deve ter as costas quentes.

No Reino Unido, o presidente da Câmara dos Comuns renunciou ao cargo e ao mandato, porque se sentiu omisso com gastos exagerados dos parlamentares. Aqui, o Presidente da Casa já tem quase uma dezena de parentes nomeados por atos secretos, e promete estar na primeira fila para punir quem errou. Ele é diferente do brasileiro comum, segundo o Presidente Lula, e não merece ser alvo de tanta denúncia. A ausência de povo com trombetas que derrubem as muralhas de Jericó está demonstrando que o Presidente Lula tem razão. Afinal, ele previu que não vai dar em nada.
 

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