Decisão exige diálogo e atenção ao bem-estar do animal de estimação
As festas de fim de ano impulsionam o desejo de surpreender amigos e familiares com presentes criativos e significativos. Entre as diversas possibilidades, oferecer um animal de estimação como presente desperta tanto entusiasmo quanto reflexão. Especialistas alertam que essa decisão precisa ser cercada de planejamento e responsabilidade, para evitar consequências negativas tanto para o pet quanto para a família presenteada.
O Brasil enfrenta um problema crônico de abandono de animais, intensificado no período de festas e férias escolares. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (ABINPET) indicam que, em 2023, cerca de 4 milhões de cães e gatos foram abandonados no país.
O total de animais em situação de rua supera 30 milhões, conforme aponta o Índice de Abandono Animal no Brasil. É nesse contexto que campanhas como o “Dezembro Verde” buscam conscientizar a população sobre os impactos do abandono e maus-tratos, levantando também a questão: um pet é realmente um presente adequado?
De acordo com Ana Elisa Arruda Rocha, professora de Medicina Veterinária do UniCuritiba, a primeira pergunta a se fazer é se a pessoa presenteada realmente deseja e tem condições de cuidar de um animal. No caso de crianças, é essencial consultar os pais, que serão os responsáveis diretos pelos cuidados. A decisão de incluir um animal na família envolve considerações financeiras, logísticas e emocionais.
“Ter um animal de estimação é uma escolha que exige planejamento e compromisso de longo prazo. Oferecer um pet sem que a pessoa esteja preparada pode resultar em abandono ou negligência”, explica Ana Elisa. A especialista enfatiza que os custos com alimentação, vacinas, medicamentos e brinquedos, entre outros, precisam ser levados em conta antes de tomar a decisão.
Outro ponto destacado é o impacto emocional. Animais são seres sencientes e dependem do envolvimento dos tutores para terem uma vida saudável. Situações em que o presenteado não deseja ou não pode manter o pet podem causar sofrimento para ambas as partes. “Muitos animais são doados posteriormente porque os tutores não estavam preparados, o que gera um ciclo de abandono e adoção malsucedidas”, observa.
A época de Natal e Ano Novo também coincide com o início do verão e das férias escolares, período marcado por viagens. Segundo Ana Elisa, quem planeja viajar deve organizar com antecedência a estadia ou os cuidados com o animal. Isso pode incluir escolher destinos pet friendly ou contratar cuidadores especializados. “Os animais de estimação interferem nos planos de férias, e é fundamental garantir que suas necessidades sejam atendidas, independentemente do destino da família”, comenta.
Além disso, há casos em que pessoas presenteiam familiares que perderam seus pets ao longo do ano, acreditando que um novo animal pode preencher esse vazio. Para a veterinária, é importante considerar que cada pet é único, com personalidade própria, e não pode ser visto como uma substituição. “Se o objetivo é ter uma cópia do animal anterior, as chances de frustração são altas”, alerta.
Para quem deseja presentear com um animal, a professora recomenda refletir sobre quatro aspectos principais: responsabilidade, impacto emocional, custos e rotina. Garantir que o futuro tutor esteja ciente de todas as implicações evita situações de abandono ou negligência. A decisão deve ser consciente e baseada no diálogo com o presenteado, priorizando o bem-estar do animal.
O abandono de animais, além de ser crime, gera impacto social significativo. Campanhas de conscientização buscam reforçar que um animal não é um objeto e que a decisão de adotá-lo ou presenteá-lo deve ser tomada com seriedade. Planejar é essencial para evitar que um gesto de carinho se transforme em uma situação prejudicial para todos os envolvidos.
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