No Dia Nacional do Pantanal, celebrado nesta terça-feira (12), não há motivo para comemoração. O bioma, localizado nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, enfrenta uma grave crise ambiental, com a explosão de focos de incêndio que devastaram grandes áreas nos últimos anos. Em 2023, o Pantanal sofreu uma das maiores secas de sua história, o que agravou ainda mais os problemas ambientais da região, uma das mais importantes e biodiversas do Brasil.
De acordo com um estudo do MapBiomas, divulgado recentemente, a área alagada do Pantanal tem diminuído significativamente ao longo das últimas décadas. Esse fenômeno é consequência de períodos de cheia cada vez mais curtos e secas mais prolongadas, que alteram a dinâmica ecológica da região e favorecem a ocorrência de incêndios. Em 2023, o volume de água no bioma foi 61% inferior à média histórica, o que resultou em uma redução considerável nas áreas alagadas.
O estudo também aponta uma tendência preocupante de redução do tempo de alagamento, o que tem alterado a vegetação natural do Pantanal. A conversão de áreas alagadas em savanas, por exemplo, tem sido uma das consequências desse processo. A savana pantaneira já ocupa cerca de 2,3 milhões de hectares, e 22% dessa área surgiu de locais que antes eram permanentemente alagados, mas agora estão mais secos e vulneráveis ao fogo.
Os incêndios no Pantanal se tornaram recorrentes, especialmente após 2018, quando ocorreu a última grande cheia. Entre 2019 e 2023, cerca de 5,8 milhões de hectares foram queimados, com destaque para as áreas próximas ao Rio Paraguai, que antes eram permanentemente alagadas. Em 2024, a situação se agravou, com um aumento de mais de 1.000% no número de focos de incêndio no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2023, conforme dados do Inpe.
Além das mudanças climáticas e do impacto dos incêndios, o estudo revela a expansão de áreas de pastagem exótica no Pantanal, um reflexo do desmatamento e da conversão do bioma para a agropecuária. O uso intensivo da terra, especialmente na Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai (BAP), tem alterado drasticamente a dinâmica da água na região, afetando a vegetação natural e agravando os efeitos das secas. Entre 1985 e 2023, a área ocupada por pastagens exóticas no Pantanal aumentou consideravelmente, com grandes áreas de florestas e savanas sendo substituídas por pastagem, o que contribui para o desequilíbrio ecológico da região.
O Pantanal, que já enfrentou períodos de seca no passado, nunca havia experimentado uma transformação tão acelerada em sua paisagem e ecologia. A crescente intervenção humana e a intensificação do uso agropecuário têm colocado em risco a sobrevivência de um dos biomas mais ricos e complexos do planeta. O futuro do Pantanal depende de medidas urgentes para a preservação da água, do controle do fogo e da recuperação das áreas degradadas.