O Rio Paraguai registrou seu nível mais baixo desde o início das medições, alcançando 62 centímetros abaixo da cota de referência, informou o Serviço Geológico Brasileiro (SGB). A marca, que superou a mínima histórica de 1964, foi registrada em Ladário (MS), na fronteira com a Bolívia, onde o monitoramento começou em 1900. O nível padrão do rio é de 5 metros, e a situação reflete a severa seca que afeta a região, um fenômeno já previsto pelo SGB desde o início do ano devido à falta de chuvas significativas na estação chuvosa de 2023.
A baixa do Rio Paraguai, que atravessa os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e segue para o Paraguai e a Argentina, traz graves consequências para o ecossistema do Pantanal, a economia e o bem-estar das comunidades ribeirinhas. De acordo com o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), a redução acentuada no nível do rio afeta diretamente a biodiversidade, atividades turísticas e a pesca local. O Instituto também relaciona a situação ao impacto das mudanças climáticas e à variabilidade dos regimes de chuvas.
Recuperação lenta e impactos econômicos
A previsão do SGB é de que a recuperação do nível do rio será lenta e só comece de forma significativa após a segunda quinzena de novembro. Embora as chuvas tenham retornado à bacia, o acumulado tem sido insuficiente para reverter o déficit pluviométrico. "A escassez de água já era evidente desde outubro do ano passado, e a situação se agravou com a diminuição de 395 mm de chuvas durante a estação chuvosa", explica Marcus Suassuna, pesquisador do SGB.
A década tem sido marcada por chuvas insuficientes e constantes déficits hídricos. De acordo com dados acumulados de 2020 a 2024, houve uma perda de aproximadamente 1.020 mm, o equivalente ao total de um ano hidrológico. Com precipitações previstas de apenas 27 mm nas próximas semanas, o SGB estima que a recuperação completa levará tempo e dependerá de volumes significativos de chuva para restabelecer os níveis adequados no Pantanal e nas áreas adjacentes.
Riscos à navegação e precauções
A Marinha do Brasil emitiu alertas para o tráfego de embarcações na região, recomendando cautela devido ao afloramento de bancos de areia e rochas que podem dificultar a navegação. A hidrovia do Rio Paraguai, que é um corredor vital de transporte de cargas agrícolas e minerais, enfrenta atualmente desafios que incluem restrições de navegação e riscos de segurança. A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) tem como prioridade licitar a concessão da hidrovia à iniciativa privada para modernizar e aumentar a eficiência no transporte de mercadorias.
O enfraquecimento do rio e suas repercussões tornam urgente a adoção de políticas de conservação e de um monitoramento mais rigoroso para proteger tanto o ecossistema do Pantanal quanto os interesses econômicos e sociais que dependem do Rio Paraguai.