Até o dia 23, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deve divulgar um novo pacote de medidas para fazer frente ao agravamento da crise econômica. A tônica das resoluções será a manutenção do crescimento e o incentivo à geração de empregos.
"Os pedidos dos empresários por mais investimentos em setores como infraestrutura e construção civil serão contemplados", disse um integrante da equipe econômica do governo.
A preocupação com os indicadores mais recentes – especialmente a queda na produção industrial e a escalada das demissões – foi confirmada pelo presidente Lula em seu programa de rádio.
"O governo tomará todas as medidas necessárias para que essa crise afete menos o povo brasileiro. Nós precisamos garantir empregos, garantir salários e garantir renda", disse no Café com o presidente.
Enquanto o governo burila o pacote, analistas apontam paralisia oficial frente à piora do quadro.
"As medidas exigem ação rápida", diz Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp
A perspectiva de uma crise ainda mais aguda no primeiro trimestre é fruto da análise subestimada da equipe econômica, segundo ele:
"Muitos, no governo e fora dele, viam o quadro como uma flutuação cíclica, para a qual seria desnecessária o corte na taxa de juros. Não se trata de uma crise da balança de pagamentos. Francamente, há limites para a burrice e para a estupidez. Lidamos com uma reversão brutal da confiança do mercado, há um colapso dos gastos em consumo e nos investimentos.
Para Belluzzo, o Brasil já está na trajetória da recessão.
"O país precisa de gastos na veia e o governo terá que brigar com disposição", diz o professor, que defende a ampliação dos investimentos feitos por órgãos como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, (BNDES) Banco Central e Petrobras.
"Os gastos precisam aumentar nas áreas de infraestrutura, especialmente em transportes, energia e comunicação. E a construção civil também, por causa do impacto que tem na renda das famílias. Todos geram renda e emprego – afirma.
Ainda segundo Beluzzo, nenhum economista esperava o travamento que a economia sofreu a partir de outubro.
O integrante da equipe econômica afirma que “o governo não está parado, está atuando. Não podemos soltar medidas toda semana, poderia gerar um clima de pânico. Nossa percepção sobre a gravidade da situação também não se alterou”.
"Paramos nas férias, mas já estamos finalizando as medidas".
As novas medidas devem incluir a ampliação nos cortes dos custeios públicos em prol dos investimentos diretos. O pacote pode conter medidas protagonizadas pelo BNDES, Fundo Soberano e ênfase na construção civil e no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
"Só com a isenção no Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), o mercado já reagiu com crescimento de 10% nas vendas de carros em relação a novembro", afirma a fonte do governo.
Para Belluzzo, a isenção fiscal e a inclusão de novas faixas no Imposto de Renda, anunciadas em 2008, são pura maquiagem.
"Isto não faz as pessoas gastarem, não toca na confiança. Um dos maiores vícios, neste momento, é a poupança".
Cortes drásticos nos juros
Para os analistas, se houvesse um manual de enfrentamento da crise, o compêndio teria, basicamente, um item consensual: corte drástico na taxa de juros.
"A confiança do consumidor, para comprar e do empresário, para investir, seria retomada se o Copom (Comitê de Política Monetária) reduzisse a taxa para 11% até junho", diz Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores defende a redução do superávit primário para realocação em infraestrutura.
Júlio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do governo (2006-2007), defende recursos para o mesmo setor, com ênfase em saneamento e transportes. (Com Informações: Assomasul)