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Quinta-feira, 08 de Março de 2018, 14h:33

Dia internacional de relembrar a luta das mulheres

DJ cria projeto para combater diferença de gênero e apoia mulheres que desejam ingressar na carreira

Esthéfanie Vila Maior
Capital News

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Dia internacional de relembrar a luta das mulheres

A violência contra as mulheres é uma das mais universais e disseminadas formas de violação dos direitos humanos em todo mundo. As proporções chegam a ser pandêmicas. Dados e pesquisas retratam uma realidade longe de ser ideal.

 

Mulheres sofrem diariamente com o machismo, assédio e diferentes tipos de violência. Um estudo realizado pelo Instituto Ipsos em 27 países de todos os continentes, incluindo o Brasil, revelam os maiores pepinos que população feminina passa. Se você acha que os números são ultrapassados, o levantamento foi divulgado nesta quarta-feira (07).

 

Ao serem questionadas sobre "quais são os problemas mais importantes enfrentados por mulheres e garotas no seu país?", 32% afirmaram ser o assédio sexual, seguido de violência sexual (28%), violência física (21%). As respostas são semelhantes entre as brasileiras. Entretanto, a violência sexual é a principal apontada (47%), seguida por assédio sexual (38%) e violência física (28%).

 

Consequências

Quase 100% das mulheres entre 14 e 24 anos já foram assediadas verbalmente. Mas isso é exagero! Na verdade foram só 94%. (Ironia foi utilizada como figura de linguagem para construir esta frase). Os assobios, comentários de cunho sexual, “cantadas” (lê-se insultos) fazem parte desta estatística, divulgada pela Agência ÉNOIS.

 

Em relação aos episódios de assédio físico, 77% das jovens brasileiras afirmam ter sofrido com a situação. São as "encoxadas" no transporte público, os tapas na bunda

durante um passeio, os beijos forçados na balada, e por aí vai.

 

O resultado disso? 90% já deixaram de fazer algo por medo de sofrerem violência apenas por serem mulheres. 31% deixaram de sair à noite, 27% de usar determinadas roupas e 23% de responder a uma cantada (novamente, lê-se insulto).

Arquivo Pessoal

Dia internacional de relembrar a luta das mulheres

Bibiana Vargas é psicóloga, DJ, produtora de moda, empoderada e vítima das estatísticas

Empoderamento

Bibiana Vargas, 31 anos, é psicóloga, DJ, produtora de moda e empoderada. Ela faz parte das estatísticas e o caminho ao empoderamento foi longo. Não sabe o que é isso? A Bibis explica: “É o ato de tomar poder sobre si! O empoderamento feminino é também a consciência coletiva visando ações para fortalecer a mulher e promover a equidade de gênero. É um trabalho de formiguinha, de se desconstruir e colaborar para o processo de desconstrução de outras mulheres”.

 

A Bibis é apaixonada por moda e seus figurinos sempre chamam muita atenção. Atenção essa, na maioria das vezes, negativa. “Promover a igualdade de gêneros é justamente mostrar que o tamanho da roupa não serve de parâmetro para medir seu caráter. Já sofri com várias reações negativas, de homens e mulheres, em relação aos meus looks”, afirma.

 

A DJ fala sobre as interpretações machistas que acaba sendo obrigada a lidar. “É aquela máxima que já ouvi muitas vezes ‘se você se vestiu assim é porque está querendo, está pedindo’. É a cultura do estupro, os julgamentos machistas que me incomodam”, conta.

 

A culpa é delas. É o que pensa a maioria dos brasileiros sobre a violência contra mulher. Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que 58% dos entrevistados concordam que “se as mulheres soubessem se ‘comportar’ haveria menos estupros”. 

 

O estudo conclui que, “por trás da afirmação está a noção de que os homens não conseguem controlar seus apetites sexuais. Então, as mulheres, que os provocam, é que deveriam saber se comportar, e não os estupradores”.

 

A luta continua

A Bibiana vivência a diferença de gêneros diariamente, tanto nas festas que toca, quanto na rua como qualquer outra mulher. Ela conta que a profissão de DJ, durante muito tempo, foi quase que exclusivamente exercida por homens. Atualmente, o número de DJs homens ainda é muito superior ao de mulheres. “Em diversos locais que toco, eu sou a única mulher do line”, ressalta.

 

Na tentativa de mudar o cenário, Bibis criou um projeto intitulado “Girls to the front”, onde dá suporte e incentiva mulheres interessadas em ingressar na carreira. Também organiza eventos com as novas DJs, onde o som é todo comandado por elas. “Ainda existe muito sexismo a ser quebrado. São diversas atitudes machistas que temos de enfrentar para trabalharmos com produtores, técnicos de som e até mesmo com outros DJs. Já sofri com atitudes misóginas vindo de colegas de trabalho e muitas vezes eu não soube lidar, me senti desamparada. Acredito que juntas somos mais fortes, por isso vi a necessidade em criar esse coletivo”, explica.

 

Bibiana também relata que muitas mulheres têm a procurado para contar as violências sofridas, desde que começou a colocar músicas feministas em seus set’s e abrir espaço nas redes sociais para discutir o tema. “Chegar em uma cidade do interior do Estado e ser procurada para conversar sobre o feminismo é algo que me surpreendeu muito”, afirma.

Arquivo Pessoal

Dia internacional de relembrar a luta das mulheres

Bibis criou o projeto “Girls to the front” para dar suporte e incentivar mulheres interessadas em ingressar na carreira de DJ

Oito de março

Em 1857, centenas de operárias morreram queimadas por policiais em uma fábrica têxtil de Nova York (EUA). Elas estavam reivindicando a redução da jornada de trabalho e o direito à licença-maternidade. Em homenagem às vítimas, em 1911, foi estabelecido a comemoração de 8 de março, o Dia Internacional da Mulher.

 

Entretanto, para a maioria das mulheres é um dia de luta pela equidade de direitos. “Enquanto continuarmos sofrendo violências tanto físicas como psicológicas, abusos, assédios; enquanto continuarmos a ganhar menos e a ter menores possibilidades dentro do mercado de trabalho; enquanto continuarmos a encarar jornadas duplas; enquanto continuarmos a ser objetificadas e rotuladas; enquanto continuarmos sentindo medo de sair às ruas e de sofrer violência dentro do nosso próprio lar, esse dia será para relembrar que ainda temos um longo caminho de batalhas”, opina Bibiana.

 

De mulher para homem

A lista de mudanças necessárias para que o dia 8 de março seja de comemorações é longa. Homens também podem ajudar nesta causa. Como? Acima de tudo, respeitando. Respeitar não é fazer mais do que a obrigação. 

 

Parece clichê, mas reeducação faz a diferença. Buscar entender o conceito de equidade de gênero, se informar sobre os dados e estatísticas de violência contra mulher e até mesmo ouvindo as coleguinhas ao redor são maneiras de aprender mais sobre o assunto.

 

A Bibiana deixou mais algumas diquinhas de como os homens podem fazer oito de março (e todos os outros dias) ser melhor para as mulheres. “Além de compreender e respeitar a nossa luta, existem alguns comportamentos que podem nos auxiliar”, afirma.

 

1. Não compartilhar, em hipótese alguma, imagens, textos ou gifs que denigrem a imagem da mulher. Principalmente aquele “nude” que um ex vazou;

2. Entender que tarefas domésticas são responsabilidade de todos;

3. Não usar a “TPM” ou “falta de sexo” para justificar uma insatisfação feminina;

4. Não julgar uma mulher vítima de violência, ao invés disso a apoie sempre;

5. Abandonar de vez os xingamentos ligados à vida sexual de uma mulher.