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Quinta-feira, 11 de Julho de 2019, 12h:33

Sommar: a ilha norueguesa que quer parar o tempo

Por Raphael Granucci

Da coluna Viagens
Artigo de responsabilidade do autor

Moradores da região, ao norte de Oslo, têm luz do sol apenas durante 69 dias no ano

Divulgação

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Oslo, Noruega

Os cerca de 300 habitantes da Ilha de Sommar, ao norte da Noruega, querem abolir o uso do relógio. Como passam a maior parte dos dias sem a luz do sol, o ritmo do cotidiano é contado de uma forma diferente dos locais em que há, de fato, dia e noite. No final de maio, eles convocaram uma assembleia e decidiram, em definitivo, colocar a ideia em prática: acabar com o sistema de horas.

Segundo a TV pública norueguesa, a NRK, o acordo prevê, na verdade, que a contagem dos horários não seja tão rígida como é em outros locais. Nesse período do ano, Sommar vive uma rotina totalmente distinta: na metade da noite, próximo às 2 da manhã em Paris, na França, por exemplo, é possível ver crianças jogando futebol na rua, pessoas pintando suas casas ou cortando o jardim, disse o proponente da ideia, Kjell Ove Hveding, ao jornal espanhol El País.

"Nosso objetivo é proporcionar máxima flexibilidade no tempo disponível. Se eu quero cortar o jardim às 4 da madrugada, por que não?", questionou.

Apesar do apoio geral dos moradores, alguns deles duvidam de que a medida terá êxito. Sommar, ao contrário do que ocorre no inverno, tem 69 dias de luz plena constante no verão europeu - é a janela de luz do sol do ano todo. De acordo com a NRK, a ideia não é apoiada pelos hotéis, pelos órgãos governamentais instalados na ilha e pelas empresas.

Hveding, por sua vez, já pensa até no símbolo da anulação do tempo após a medida ser tomada: prender todos os relógios de Sommar na ponte que separa a ilha do município à que pertence, Tromso, e transformá-la em um ponto turístico. Ele acredita que o fenômeno pode fazer com mais gente visite a região, que é acessível por meio de passagens aéreas baratas compradas para quem sai do aeroporto de Oslo, a capital da Noruega.

Ele contou ao El País que a ideia recebeu apoio de outras regiões remotas do norte da Noruega que enfrentam as mesmas questões físicas. Apesar da animação, a ideia precisa passar pela votação do Parlamento local e do Legislativo nacional, conhecido como Storting.

A mesma situação ocorre com a cidade de Utqiaġvik, conhecida antes como Barrow, no Alasca (EUA), que costuma passar dois meses sem luz do sol entre novembro e janeiro de cada ano. Isso acontece porque o norte do estado do Alasca se encontra sobre o Círculo Ártico, o anel de latitude que rodeia a gelada região polar ártica. Cidades próximas como Kaktovik, Point Hope e Anaktuvuk Pass também compartilham a escuridão.

A penumbra prolongada é conhecida no país como "noite polar" e é comum nos lugares localizados dentro dos círculos polares, que costumam passar mais de 24 horas sem sol. A questão é que, em Utqiaġvik, o fenômeno é alongado: são 65 dias sem a luz solar.

Ainda que tudo pareça muito tenebroso, muitas pessoas assinalam que há uma vantagem que também não há em nenhum lugar do mundo: quando chega o verão, a pequena cidade do Alasca vive o fenômeno inverso, ou seja, os habitantes desfrutam de 80 dias seguidos sem que o sol se ponha.