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Domingo, 04 de Agosto de 2019, 12h:47

“Imagens de celular não são fotografia”, diz Sebastião Salgado

Por Vinícius Mendes

Da coluna Cultura
Artigo de responsabilidade do autor

Fotógrafo brasileiro mais conhecido no exterior está finalizando um projeto sobre índios da Amazônia

Divulgação

ColunaMarcoEusébio

O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado é uma lenda viva da imagem documental. Durante quatro décadas, ele retratou por meio de suas lentes as atrocidades do ser humano ao mesmo tempo em que procurava pelos lugares mais esplêndidos do planeta. Aos 75 anos, renomado no mundo todo -- acabou de ser tema de uma exposição no Musée de l'Homme, em Paris, na França --, ele está na reta final de um projeto sobre tribos indígenas da Amazônia.

Salgado saiu do Brasil durante a ditadura militar, em 1969, deixando no país uma carreira de economista e abraçando, por um presente fortuito de sua esposa, a fotografia. Ainda que tenha começado tarde, como ele afirma sempre, hoje tem todos os prêmios e reconhecimentos possíveis da área.

Ganhou o Eugene Smith, premiação de fotografia humanitária, em 1982, recebeu a Legião de Honra da França e a condecoração Príncipe de Astúrias das Artes, da Espanha, além de ter na sua galeria um World Press Photo (1985) e um Hasselblad (1989).

Natural de Aimorés, pequena cidade de 25 mil habitantes em Minas Gerais, a 484 km de Belo Horizonte, Salgado deu mais pistas sobre seu projeto amazônico em entrevista à revista espanhola Verne: segundo o fotógrafo, o que mais lhe surpreendeu durante as viagens ao Norte do Brasil foi perceber que a floresta também é muito montanhosa. "Você tem a impressão que está nos alpes. Eles são colossais. Qualquer foto da cadeia de montanhas vai surpreender", comentou.

O livro, ainda sem data de lançamento, será na verdade uma coleção de 30 foto reportagens sobre 13 tribos amazônicas, como os korubos, que só entraram em contato com o homem branco há quatro anos. "Eu pensava que ficaria meses em processo de adaptação a eles [índios], mas foi um processo de horas. Porque somos os mesmos. Só há uma pequena diferença física, os pés. Eles são uma deformação, estão doentes porque os colocamos em sapatos que deformam sua forma. Os pés dos seres dessas comunidades são triangulares, a parte de trás é fina e a da frente é larga", disse.

E quando questionado sobre o uso em massa de fotografias por causa das câmeras embutidas em celulares e smartphones, Salgado é enfático: não se trata de foto, mas de uma "linguagem de comunicação". "A fotografia é algo que se toca, se guarda. Agora estão mudando as demandas. Com um celular se faz imagens com uma qualidade incrível, mas não é fotografia", afirmou.

"Pelo meu tipo de fotografia, sou como aqueles homens que, na Idade Média, movidos pela curiosidade, iam de cidade em cidade para conhecer as coisas e transmití-las. A vida dos fotógrafos é assim: descobrir, conhecer e transmitir. A fotografia que eu faço é o espelho da sociedade. É uma função que não existia há 100 e não acho que vai existir mais dentro de 20", completou.