A busca pela liberdade é um dos desejos mais legítimos do ser humano, ainda mais quando se é jovem. É um momento da vida em que parece não haver limites para a nossa capacidade de criar e de realizar tudo aquilo que sonhamos. A questão que se coloca é se há um limite para o preço individual e coletivo para realizar um desejo.
Unesp
Oscar D'Ambrosio
Esse tipo de indagação surge com força no filme “Hostages”, de Rezo Gigineishvili. O diretor parte de um episódio pouco conhecido no Ocidente, a tentativa de sequestro de um avião por um grupo de jovens da Geórgia que desejava ir para a Turquia e escapar do regime soviético em novembro de 1983.
Após uma festa de casamento, no que pareceria ser uma viagem de lua de mel, o casal e alguns amigos realizam uma amadora tentativa de fuga da chamada cortina de ferro, que resulta em mortos e feridos entre eles, tripulantes e passageiros. Filhos da classe média alta local, os sequestradores demonstram idealismo, irresponsabilidade e ingenuidade.
Entre os atores, destaca-se a jovem noiva, Tina Dalakishvili, com uma meiga e lânguida sensualidade, interpretando justamente o cerne de uma ação com nobres intenções, mas totalmente desastrada, que resultou em condenações a morte dos sobreviventes, com seus corpos nunca encontrados até hoje.
O mais interessante é que os jovens justificam a sua ação argumentando que foram influenciados pelos próprios pais, que informavam que a vida no exterior seria melhor que na Geórgia comunista. Curiosamente, nenhum deles vivenciava qualquer tipo de dificuldade social. A ação ocorreu pelo desejo de se ter algo sem se saber exatamente o que isso seria.
Sacrificar a própria vida por um objetivo é uma escolha pessoal, mas, de maneira impensada, envolver outras pessoas que não compartilham desse ideal, ou que simplesmente não sabem o que está acontecendo, fere a autonomia e o livre-arbítrio. Seja por divulgar o episódio ou por levantar essas perguntas, o filme é uma excelente opção de reflexão.
*Oscar D’Ambrosio
Jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
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