Notícias de Campo Grande e MS - Capital News

Segunda-feira, 13 de Janeiro de 2020, 19h:15

Males de guerra

Por Oscar D’Ambrosio*

Artigo de responsabilidade do autor
Envie seu artigo para [email protected]

Vários são os motivos que tornam obrigatório assistir ao filme “A Private War”, biografia romanceada do cineasta Matthew Heineman sobre a célebre jornalista Marie Colvin (1956 - 2012), correspondente de guerra do jornal britânico The Sunday Times que ganhou destaque por coberturas arriscadas em diversos países, como Sri Lanka, onde perdeu um olho, e Síria, onde faleceu em circunstâncias não totalmente esclarecidas.

Unesp

Oscar D'Ambrosio - Artigo

Oscar D'Ambrosio


Pouco antes de morrer em um bombardeio, ela fez uma transmissão ao vivo em que descreveu as atrocidades da Síria como as piores que já havia visto na carreira e acredita-se que o local em que ela estava foi localizado, tornando-a alvo de uma ação militar. O fato é que seu trabalho sempre chamou a atenção para os horrores da guerra durante o planeta.

Além da importância de se conhecer essa história por óbvias questões humanitárias, o desempenho da atriz Rosamund Pike é realmente excepcional, inclusive por não se abster de ressaltar as aflições internas da protagonista por assistir e relatar cenas terríveis que poucos viram, o que a fez mergulhar na bebida e em diversos estágios de depressão pós-traumática.

O interessante é verificar como a guerra para ela funcionou como uma espécie de vício. Quanto mais atrocidades ela via, ao contrário de se afastar do front, desejava retornar para outro conflito e se envolver em situações cada vez mais arriscadas. Suas reportagens, nesse sentido, contavam histórias muito menos dos líderes dos conflitos e muito mais das pessoas que sofriam com mortes sumárias de pessoas queridas e bombardeios indiscriminados.

Uma curiosidade para os brasileiros: Marie Colvin passou seu primeiro ano do ensino médio no exterior em um programa de intercâmbio no Brasil. Posteriormente, formou-se em Yale em Antropologia e, seguramente, essa formação contribuiu para que desenvolvesse uma visão diferenciada do mundo.

A trajetória da jornalista inclui, por exemplo, acompanhar a descoberta de ossadas de pessoas sumariamente executadas e enterradas numa vala comum, dois casamentos e divórcios com a mesma pessoa, o desejo não realizado de ter filhos e uma personalidade marcante no sentido de levar ao mundo as dores de pessoas anônimas nos mais diversos recantos do planeta.

 

 

*Oscar D’Ambrosio

Jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.