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Sexta-feira, 14 de Fevereiro de 2020, 19h:15

Os invisíveis de Berlim

Por Oscar D’Ambrosio*

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A perseguição dos nazistas aos judeus reúne os mais variados episódios. É uma avalanche de fatos e informações que foram se articulando ao longo de décadas e que precisam ser lembrados para que não se repitam em hipótese alguma. O filme alemão “Os invisíveis”, de Claus Räfle, joga luz em histórias reais que envolveram milhares de pessoas.

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O contexto é o final dos anos 1930, quando o Partido Nazista tomou diversas atitudes que buscaram “limpar” Berlim dos judeus. Foram medidas oficiais que culminaram na máquina de extermínio das câmaras de gás que resolvia de maneira prática e eficiente a questão do destino dos corpos, com a incineração dos cadáveres.

É nessa atmosfera de perseguição que se estima que mais de 7 mil judeus, dos quais 1500 sobreviveram, se esconderam em Berlim. O filme conta a história de quatro deles, mesclando emocionantes depoimentos com encenações dramatúrgicas de alguns momentos de suas trajetórias.

Cada uma das vidas enfocadas tem peculiaridades. A órfã Hanni Lévy precisa se adaptar rápido a cada nova circunstância, pois não tem fortes laços familiares que a protejam, enquanto Cioma Schönhaus é um competente falsificador de documentos que, embora muitas vezes desatento em suas atividades ilegais, mantém a criatividade em alta para preservar a vida.

Eugen Friede é guiado pelas paixões e pela necessidade de ficar vivo, mas precisa conviver com uma realidade em que qualquer vacilo em revelar a sua identidade pode ser fatal; e Ruth Arndt é afastada da família e passa a trabalhar na residência de um oficial alemão que a abriga mesmo sabendo que ela é judia.

Qualquer desafio nesse contexto poderia ser fatal para quem se escondia e para quem ajudava. O filme, ao narrar em paralelo todos esses acontecimentos, dá visibilidade a narrativas marcadas pela mudança constante de casa e pelo exercício de viver escondido em diminutos aposentos ou de assumir diferentes identidades, com novos nomes e famílias.

Tudo isso ocorre com essas pessoas sabendo que cada bater à porta poderia ser o último a ser ouvido com a entrada de oficiais da Gestapo ou de soldados que os encaminhariam para a morte sumária ou para os campos de concentração, numa realidade que mostra a infinita capacidade humana de torturar física e psicologicamente o seu semelhante.

 

 

*Oscar D’Ambrosio

Jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.