1º de maio de 2020. Lá se vão exatos 26 anos da morte de Ayrton Senna, um ídolo do esporte mundial. Nem parece tanto tempo assim, pois os ideais e exemplos do piloto brasileiro ainda podem ser sentidos fortemente hoje em dia. Senna vive na memória e no coração de uma legião de fãs espalhados por todo o mundo, que carregam seu nome e símbolos com carinho e respeito.
Mas as horas, meses e anos avançam sem cessar. E as novas gerações, que não puderam acompanhar os grandes feitos de Senna na Fórmula 1, talvez não tenham a exata dimensão do que ele representou para o esporte e, mais especialmente, para nós brasileiros. Por isso, 1º de maio possui um significado a mais. Não se trata só de lembrar a carreira brilhante que culminou na trágica morte em um acidente no circuito de Imola. É a oportunidade de reverenciar as qualidades humanas de um piloto sobre-humano.
Nas pistas e fora delas ao longo de mais de 20 anos dedicados ao automobilismo, Senna construiu uma carreira de sucesso e seu exemplo redefiniu o esporte. Foi além: seu arrojo e suas conquistas ajudaram a resgatar a autoestima do brasileiro, que havia ido à lona na passagem dos anos 1980 à década seguinte, devido a severas crises econômicas e políticas. Nada no Brasil parecia dar certo, exceto quando um tal Ayrton Senna assombrava os rivais e empilhava pole positions e vitórias memoráveis nas manhãs de domingo. Ali, em frente à tevê, o brasileiro voltava a sentir orgulho de seu país.
O Capital News reconta a carreira de 10 anos de Senna na Fórmula 1:
1984: Início na Toleman
Senna chegou à Fórmula 1, a principal categoria do automobilismo mundial, com 24 anos. O piloto já era conhecido desde os tempos de kart pela velocidade e pela obstinação, mas entre nomes consagrados das pistas a conversa seria em outro patamar. A porta de entrada no circo da Fórmula 1 foi a modesta equipe Toleman. E foi logo no seu quinto grande prêmio que o brasileiro apresentou seu cartão de visitas: debaixo de chuva no tradicionalíssimo traçado de Mônaco, terminou em segundo lugar e ultrapassaria o líder Alain Prost - só não venceu a prova porque os comissários suspenderam a corrida por questões de segurança.
1985-1987: Firmando-se na Lotus
Piloto sensação da temporada 1984, Senna rumou para a Lotus no ano seguinte e por lá permaneceu por três anos. Em 1985 veio a primeira vitória, no circuito de Estoril, em Portugal, e depois dela o brasileiro ainda venceria outras cinco vezes pela tradicional equipe britânica. Suas atuações consistentes e posições de destaque no mundial de pilotos o levaram à McLaren em 1988. Também pesou na decisão o fato de que a fornecedora de motores Honda estava de saída da Lotus rumo à equipe de Woking.
1988-1993: Auge na McLaren
A parceria entre McLaren e Honda e a determinação de equipe e montadora em construir os carros mais rápidos, contando com os melhores pilotos, fez com que Ayrton Senna e o então bicampeão Alain Prost fossem contratados para 1988. A bordo do incrivelmente rápido McLaren MP4/4, Senna e Prost pulverizaram a concorrência e venceram nada menos do que 15 dos 16 grandes prêmios daquela temporada.
Depois de uma luta acirrada, o brasileiro levou a melhor sobre o francês no mundial de pilotos com uma vitória épica no circuito de Suzuka, no Japão. Senna havia largado na pole, teve problemas e despencou para o 17º lugar, mas recuperou-se e venceu Prost para ser campeão pela primeira vez.
A temporada 1989 ficou marcada pelo acirramento de uma das maiores rivalidades entre competidores no esporte em todos os tempos. Senna e Prost ainda estavam na McLaren, mas a ambição de ambos pelas vitórias tornava o convívio insustentável. E novamente no Japão, novamente brigando por título ponto a ponto, os pilotos se tocaram em uma chicane. Prost abandonou, Senna conseguiu retornar com ajuda dos fiscais de prova e foi aos boxes. O brasileiro terminou em primeiro mas o resultado foi anulado devido ao auxílio irregular recebido pelo piloto. O título caiu no colo do francês.
Em 1990, veio o troco - e outra vez no Japão. Com Prost agora na Ferrari, Senna tocou o pneu de sua McLaren na roda traseira do francês, tirando-o da corrida. O abandono de ambos deu ao brasileiro o segundo título mundial. Título que Senna, como o próprio piloto confidenciaria mais tarde, lamentou em conquistar daquela maneira.
O ano de 1991 pode ser considerado como a redenção de Senna. Em sua melhor forma física e mental, amadurecido após sete temporadas na Fórmula 1 e tantos embates duros - especialmente com Alain Prost -, o brasileiro simplesmente não deu chance aos adversários. Venceu sete das 16 corridas da temporada, e de quebra ganhou pela primeira vez na carreira em casa, diante de um público enlouquecido que invadiu a pista de Interlagos.
A partir de 1992, a supremacia das Williams começou a ofuscar o reinado até então absoluto da McLaren. Com aparato tecnológico extremamente avançado para a época, a equipe de Frank Williams faturou os títulos de pilotos e construtores em 1992, com Nigel Mansell, e 1993, com Alain Prost. O brasileiro ainda venceu algumas provas nesses anos, em especial em 1993, já sem os motores Honda e impulsionado por um modesto Ford V8. Sem perspectivas de avançar na McLaren e depois de um ciclo vitorioso de seis anos e três títulos mundiais, Senna buscou novos horizontes.
1994: O fim em Imola
Senna nunca esteve realmente à vontade guiando a Williams naquela fatídica temporada. A Federação Internacional de Automobilismo havia vetado para 1994 praticamente todos os auxílios eletrônicos que fizeram da Williams a equipe vencedora dos dois anos anteriores. Tendo que se adaptar ao novo regulamento, os engenheiros não conseguiram entregar a Senna e ao companheiro inglês Damon Hill um carro confiável e equilibrado. Com problemas no FW16, o brasileiro não conseguiu completar as provas de Interlagos e do Pacífico, em Aida.
Em Imola, o fim de semana do Grande Prêmio começou da pior forma possível. Um acidente grave com o novato Rubens Barrichello assustou os pilotos durante os treinos livres de sexta-feira. No dia seguinte, o austríaco Roland Ratzemberger morreu a bordo da Simtek após chocar-se contra o muro na curva Villeneuve a mais de 300 km/h. E na largada, a colisão entre o finlandês J.J.Lehto e o português Pedro Lamy deixou vários torcedores feridos, por causa de um pneu que voou sobre a cerca.
Após a relargada, Senna saiu bem e à frente da Benneton de Michael Schumacher. Liderou até a sexta volta, quando bateu no muro da curva Tamburello a mais de 200 km/h. Um pedaço da suspensão do carro perfurou o capacete de Senna na colisão, danificando seu cérebro de forma irreversível. Mais tarde, a perícia no carro apontou que a coluna de direção havia se quebrado durante a corrida. A peça tinha sido modificada pelos mecânicos.