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Domingo, 07 de Junho de 2020, 10h:55

Distanciamento físico é benéfico para a preservação do quadro “O Grito”

Por Raphael Granucci

Da coluna Entrelinhas da Notícia
Artigo de responsabilidade do autor

Cientistas descobriram que a umidade da respiração humana é capaz de deteriorar a obra

Divulgação

ColunaCultura

Os impactos do novo coronavírus também podem, em certa medida, ser positivos. O distanciamento físico imposto pela doença melhorou alguns índices benéficos à natureza, como a diminuição de 50% na poluição do ar em São Paulo, e também é um dos meios de preservação de obras artísticas, como no caso do quadro “O Grito”, do pintor norueguês Edvard Munch.


No caso da pintura, feita em 1910, um grupo de cientistas investigou a deterioração e a perda da intensidade da cor amarela na obra durante três anos. Os 18 pesquisadores de sete países, como Bélgica, Itália, Brasil e Estados Unidos, utilizaram equipamentos especiais para conseguir analisar as composições das tintas, a resistência do material usado e os fatores que poderiam influenciar em sua deterioração, sem prejudicar o quadro.


Com isso, eles descobriram que, nas faixas amareladas do pôr do sol, em partes do lago e no pescoço do homem que aparece gritando, Munch utilizou uma tinta com pigmentos impuros, que é vulnerável à umidade, como a exalada na respiração dos visitantes do Museu Munch, em Oslo, que passam de 250 mil pessoas por ano.


Isso é prejudicial à obra porque, em contato constante com a umidade, os agentes químicos da tinta desgastam. Os resultados desses efeitos já são visíveis na pintura, em que partes dos locais amarelos ficaram esbranquiçados com o tempo. Na parte da tinta amarela mais grossa, usada no lago, os materiais começam a descascar.


"Quando as pessoas respiram, elas produzem umidade e exalam cloretos; portanto, em geral, nas pinturas, não é bom estar perto demais", disse o pesquisador Koen Janssens, da Universidade de Antuérpia ao jornal inglês The Guardian. “Ter multidões de pessoas por longos períodos de tempo na mesma sala do trabalho não é, de fato, uma boa ideia, e o distanciamento social é perfeito para esta pintura”, afirma uma das pesquisadoras envolvidas no trabalho publicado na Sciences Advances.


O quadro “O Grito” já vinha recebendo mais atenção no Museu Munch, sendo exposto poucas vezes desde 2006, quando voltou ao local depois de ter sido roubado em 2004. A peça fica guardada em local com baixa iluminação, temperatura de 18º C e umidade relativa de 50%, mas, com o resultado do estudo, um ambiente ainda mais seco deverá ser implementado, de acordo com Irina Sandu, cientista de conservação do museu.

A obra
A pintura trata-se de uma das mais importantes obras do Expressionismo, movimento artístico e cultural, e possui quatro versões pintadas por Munch entre 1893 e 1916. A notoriedade da obra faz com que ela seja uma das mais reproduzidas pelo mundo, estampando desde roupas e pôsteres até canecas personalizadas.