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Reportagem Especial Domingo, 10 de Julho de 2022, 09:53 - A | A

Domingo, 10 de Julho de 2022, 09h:53 - A | A

Reportagem Especial

Ator ultrapassa barreiras do preconceito para realizar sonho de atuar nos EUA

Indígena e homossexual o jovem deixou tudo para trás para ir em busca da profissão

Renata Silva
Especial para o Capital News

Acervo pessoal

Ator ultrapassa barreiras do preconceito para realizar sonho de atuar nos EUA

No letreiro de Hollywood

O que você faria para realizar um sonho? O Diogo Pinto da Silva saiu de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul e foi para Los Angeles nos Estados Unidos. Indígena, nascido e criado na Capital Morena, o jovem de 42 anos tinha o desejo de ser ator, com a falta de oportunidade na cidade natal, foi morar fora para atuar na área.

Deconstructing Val - Teaser Trailer

 

Diogo é homossexual, jornalista por formação e atua como ator há 5 anos, em Los Angeles, Califórnia, há 8 mora nos Estados Unidos onde começou a vida trabalhando como Bartender. A paixão dele pelo cinema começou ainda criança, aos 8 anos de idade. Ele conta que foi através de um amigo, que tinha uma câmera fotográfica e morava do outro lado da rua que tudo começou.

Segundo ele, o menino mostrou a câmera doméstica do pai a ele e naquele momento não queria largar mais o equipamento. “Eu queria filmar cenas, fazer vídeos, mas era criança, ninguém queria saber o que um menino queria fazer com uma câmera filmadora”, detalha.

O primeiro contato do ator com as artes cênicas foi na escola, ele fala que ajudou a criar um roteiro, mesmo sem saber o que roteiro significava na época. Depois disso, começou a trabalhar com teatro atuou nos palcos de Campo Grande durante 15 anos até entender que a sua vocação era o cinema.

"Eu era boicotado por meus traços indígenas, preconceito que eu não enxergava"


Ele explica que mesmo fazendo o que gostava, não tinha retorno financeiro e nem era reconhecido por isso, chegou até a perder alguns papéis pelo fato de ser indígena e homossexual em Campo Grande. “Às vezes, sem saber, eu era boicotado por meus traços indígenas, preconceito que eu não enxergava até sair da minha zona de conforto”, relembra. Sem desistir do sonho, mas precisando de dinheiro, decidiu deixar de lado o que gostava e investir no jornalismo, profissão que, para ele, era próxima do que de fato queria.

Acervo pessoal

Ator ultrapassa barreiras do preconceito para realizar sonho de atuar nos EUA

No trabalho como bartender


Assim que terminou a faculdade, Diogo percebeu que a vontade de ser ator ainda era latente e que mesmo atuando no jornalismo, não era feliz, foi então que resolveu largar tudo e ir atrás do sonho. A primeira mudança, foi para São Paulo na Capital aonde estudou cinema. “Lá eu descobri que poderia ir além, se misturar com pessoas de outras cidades, outros estados, outras culturas. Percebi que ser descendente indígena não era um ´problema´”.

 

Na Capital Paulista, Diogo ficou durante cinco anos até perceber que poderia mais. Nessa busca, mesmo sem o domínio da língua estrangeira, resolveu se mudar para os Estados Unidos. Diogo conta que foi como nascer de novo.“Cheguei nos em Los Angeles com visto de turista, com passagem marcada de volta, mas eu sabia que no meu coração seria só de ida. Sentimento muito difícil de explicar, especialmente para toda a minha família que estava na hora de eu seguir meu caminho”, detalha.

"Cheguei aqui, aprendi a língua, sobrevivi! Consegui trabalho, moradia, foi como nascer de novo"


No início ficou ilegal no país e neste período, além do obstáculo da língua, passou por inúmeras dificuldades financeiras, mas mesmo assim não desistiu do sonho. Diogo levou 5 anos para materializar o sonho de fazer um filme. “Cheguei aqui, aprendi a língua, sobrevivi! Consegui trabalho, moradia, foi como nascer de novo. Trabalhei como motorista de aplicativo por muitos anos, até juntar dinheiro suficiente para fazer um filme, e fiz”. Explica.

Diogo conta que a sua primeira produção trouxe muitos frutos entre eles, fazer parte de uma comunidade de atores e ter um “Agente and manager”, um profissional que cuida a carreira artística dele. Recentemente o ator foi convidado para fazer um filme sobre a cultura indígena na Europa, o primeiro projeto internacional, em Amsterdam. “estou em Los Angeles competindo de igual pra igual com atores vindo do mundo todo, eu gosto. Sou competitivo, adoro tudo isso”, brinca.

Acervo pessoal

Ator ultrapassa barreiras do preconceito para realizar sonho de atuar nos EUA

Diogo e a mãe já falecida


O ator fala que diferente de muita gente que vem para os Estados Unidos para juntar dinheiro e voltar para o Brasil, Diogo foi para fora do país para construir a sua vida, o seu futuro e para isso pagou um preço. Ele relembra que, pelo fato de estar ilegal e não poder voltar para o Brasil, não conseguiu se despedir da mãe que faleceu. “Acho que uma das decisões mais difíceis pra mim, foi de não me despedir da minha mãe, antes dela falecer. Sentimento que carrego e vou carregar comigo por toda a vida”, destaca.

Hoje Diogo é casado com um norte-americano, sua situação no país esta regularizada. Continua trabalhando como Bartender. O jovem fala que quando alguém pergunta a ele: Vale a pena viver aqui? Ele responde: O que você colocaria em risco para ficar tanto tempo longe da sua família?” Cada um sabe a própria resposta.

Álbum de fotos

Acervo pessoal

Diogo aos 6 anos na pré-escola e com a mãe já falecida

Acervo pessoal

Val Brazil, no lançamento do curta metragem e Diogo

Acervo pessoal

Val Brazil, no lançamento do curta metragem

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11/07/2022

A vitoria e pra leoes

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