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Opinião Sexta-feira, 08 de Novembro de 2019, 12:29 - A | A

Sexta-feira, 08 de Novembro de 2019, 12h:29 - A | A

Opinião

Combate à corrupção, desafio civilizatório

Por Iran Coelho das Neves*

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Em recente contribuição para obra coletiva, ao discorrer sobre a relevância dos Tribunais de Contas no combate à corrupção fiz breve abordagem sobre como esse mal que tem sido escrutinado ao longo dos séculos, sob as mais diferentes perspectivas, sejam filosóficas, históricas, econômicas, jurídico-legais e tantas outras.

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Iran Coelho das Neves - Artigo

Iran Coelho das Neves


Ao dividir com os leitores deste espaço alguns dos aspectos abordados naquele trabalho, destaco ponto que considero tão instigante quanto desafiador para uma tentativa de compreensão – não de tolerância, em absoluto – da corrupção como perverso e predatório fenômeno social e humano, tão antigo quanto os primórdios da estruturação da vida em sociedade.

Já no primeiro livro da Bíblia Sagrada (Gênesis) há referência a inequívoco ato de corrupção, quando Esaú, filho mais velho de Isaque, vende a seu irmão Jacó, por um prato de lentilhas, a primogenitura e os privilégios e bênçãos que essa condição lhe facultava.

A transação entre os netos do patriarca Abraão envolveu mais que interesses individuais entre o que estava com fome e o que detinha as lentilhas: a barganha ilícita envolvia, com a usurpação de bênçãos, a futura liderança natural do primogênito, ou seja, poder político.

Da perspectiva judaico-cristã temos aí o marco inicial da corrupção que, na visão de alguns estudiosos, seria uma perversão inerente ao próprio processo civilizatório.

Concordemos ou não em vê-la como doença congênita da civilização, a essência delituosa da corrupção evidencia a cupidez transgressora e desumana de indivíduos que, em muitos casos, se beneficiam da hipertrofia de estados modernos para drenar recursos públicos e parasitar a sociedade.

Nas últimas décadas a corrupção tem sido objeto de muitos e aprofundados estudos nos mais diferentes campos das ciências sociais. Porém, esse valioso acervo de conhecimento não tem repercutido diretamente na redução das fraudes e de outros delitos que dilapidam os recursos públicos em benefício criminoso de indivíduos e corporações.

De todo modo, a vasta e contínua reflexão acadêmica sobre a corrupção, suas origens e consequências perversas, bem como sobre os mecanismos para preveni-la e combatê-la, contribui enormemente para fomentar, nas sociedades e nos indivíduos, a rejeição objetiva às práticas lesivas aos cofres públicos.

Consolidar o combate à corrupção como cultura civilizatória, este o grande desafio da sociedade contemporânea.

 

 

*Iran Coelho das Neves

Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul.

 

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