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Opinião Domingo, 11 de Agosto de 2024, 18:15 - A | A

Domingo, 11 de Agosto de 2024, 18h:15 - A | A

Opinião

De advogado e psicólogo, ninguém tem um pouco

Por Laura Brito*

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Agosto é um mês de festa para os advogados – para celebrar o dia 11 de agosto, a advocacia se prepara por meses para eventos, palestras e muitas homenagens à atividade advocatícia. Como a advocacia é uma profissão tipicamente autônoma, a força vem da união da classe, especialmente em torno da Ordem dos Advogados.

O dia 11 de agosto é a data de criação dos primeiros cursos jurídicos no país, por meio de um decreto que instituiu, em 1827, os cursos de ciências jurídicas e sociais, um em São Paulo e outro em Olinda. Por isso, é tido como o Dia do Advogado.

Em plena celebração do mês da advocacia (não conseguimos resumir em um dia), escrevo, na realidade, para homenagear o trabalho dos psicólogos. Isso mesmo. Agosto também é um marco porque no dia 27 desse mês é celebrado o dia do psicólogo, em comemoração à lei que sancionou a Psicologia como profissão no Brasil em 1962.

Essa conjunção de datas comemorativas é alvissareira. Isso porque precisamos fomentar os trabalhos interdisciplinares entre o Direito e a Psicologia.

É muito comum que os advogados, especialmente os de família, que é meu caso, escutem “todo advogado tem um pouco de psicólogo, né?!”. Pois não, não tem não. Para ser psicólogo é preciso fazer um curso superior longo e difícil, demanda conhecimento específicos e técnicas próprias da profissão. Essa percepção não deve ser incentivada e um advogado sério não pode pretender se passar por psicólogo.

A ideia de que o profissional do Direito pode substituir, em alguma medida, o profissional da saúde mental é arriscado – tanto para o cliente que deixará de buscar a ajuda efetiva que provavelmente precisa, quanto para o advogado, que passa a ser responsabilizar por uma questão para a qual não tem expertise. Se um cliente disser ao advogado que ele é também um psicólogo é dever do jurista, com gentileza, lembrar que são campos de atuação diferentes e que será de todo importante que a pessoa busque a escuta especializada de um estudioso da Psicologia.

É nosso papel incentivar a atuação conjunta, em que cada profissional atua naquilo que conhece, pode se aprofundar no problema e oferecer, em sua área, as melhores abordagens para o desafio do cliente/paciente.

Quando falamos do Direito de Família, em que trabalhamos com divórcio, guarda de crianças e lutos de vários tipos, a clareza dos limites de cada atuação é ainda mais importante. Por mais que o advogado tenha experiência no assunto, ele precisa reconhecer seus limites técnicos e defender a participação de um psicólogo quando a saúde mental, especialmente de crianças, está em risco.

Vou dar um exemplo que é recorrente na advocacia de família. As pessoas me perguntam: qual o momento adequado para apresentar um novo parceiro para os filhos depois de um divórcio? Sinceramente? Não sei. Quem media esse processo que envolve um luto para as crianças e o amadurecimento para vivenciar uma nova configuração familiar é o profissional da Psicologia. Quer mais? Pessoas me perguntam com alguma frequência se já é tempo de terminar um casamento. Sempre sugiro que elabore essa decisão no consultório psicológico. Se decidir que sim, que venha para o escritório para o encaminhamento jurídico adequado.

Atender pessoas é muito sério. Precisamos de muito estudo, experiência e dedicação para receber famílias em um conflito instalado ou potencial. Não dá para dar um jeitinho ou confundir um atendimento jurídico acolhedor com terapia.

Da mesma forma, quando em um processo terapêutico o psicólogo compreender que chegou a hora de providências que coloquem a pessoa a salvo porque, por exemplo, a permanência em um casamento é arriscada, é bom que recomende com clareza que é preciso buscar um advogado especializado.

Precisamos estar inteiros no que fazemos, entregando o melhor de nossas profissões. Por isso, sem a formação adequada, de advogado e psicólogo, ninguém tem um pouco.


*Laura Brito
Advogada especialista em Direito de Família e das Sucessões, possui doutorado e mestrado pela USP e atua como professora em cursos de Pós-Graduação, além de ser palestrante, pesquisadora e autora de livros e artigos na área.

 

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