Na última segunda-feira, dia 7, o Brasil celebrou, com as restrições impostas pela pandemia, 198 anos de independência, consumada pelo que entrou para a história como o ‘Grito do Ipiranga’, o célebre brado do príncipe regente D. Pedro de Alcântara, futuro imperador D. Pedro I.
Mais dois anos e estaremos comemorando dois séculos desde que o Brasil rompeu laços de submissão a Portugal. Ou seja, estamos às vésperas da marca emblemática de duzentos anos como nação soberana, período no qual, primeiro como Império e, depois, como República, nos afirmamos, continuadamente, como senhores de nosso próprio destino.
De como foram construídos os fundamentos sobre os quais se assentaram os ideais – e as circunstâncias, sempre elas – que moldaram as convicções independentistas, eis uma tarefa sobre a qual têm se debruçado historiadores, antropólogos e uma infinidade de estudiosos de diferentes áreas. Temos, portanto, uma ampla, rica e saudavelmente controversa historiografia sobre a gênese de nossa independência.
Porém, muito mais vasto e intrincado, o debate acadêmico sobre o que o Brasil tem feito, nestes quase duzentos anos para consolidar a independência como valor transcendental de cidadania, ou seja, como instrumento de redução de desigualdades e democratização de oportunidades, contrapõe correntes intelectuais antagônicas e perspectivas políticas não raro inconciliáveis.
A propósito, é intrigante constatar que certos segmentos mais radicais do pensamento acadêmico contemporâneo entregam-se a verdadeiro contorcionismo intelectual, na tentativa de demonstrar que o Brasil tem fracassado redondamente na busca para situar-se no chamado concerto das grandes nações.
Ainda que não se possa duvidar, a priori, da honestidade intelectual de muitos que comungam dessa espécie de niilismo, eles são confrontados pelo Brasil real que, apesar das muitas e profundas contradições sociais, desigualdades econômicas e anacronismos estruturais, e mesmo tendo contas a acertar com o passado, tem, neste momento de sua história, reais perspectivas de construção de um futuro mais promissor e generoso para seus filhos.
Para o célebre escritor Antoine de Saint-Exupéry, “o futuro não é um lugar para onde estamos indo, mas um lugar que estamos criando. O caminho para ele não é encontrado, mas construído. E o ato de fazê-lo muda tanto o realizador quanto o destino.”
Como qualquer outra nação contemporânea, o Brasil não tem um grande futuro a esperá-lo mais à frente. Esse futuro deve ser construído agora, no presente, com a soma dos valores éticos e intelectuais do conjunto de nossa sociedade, com a conjugação dos esforços e da criatividade dos que produzem bens e riquezas com a força de seu trabalho, e dos que geram conhecimento e tecnologias, pensamento crítico e avanços científicos.
Em que pesem todos os desafios conjunturais e as tantas mazelas estruturais, o Brasil chega à antevéspera da comemoração dos duzentos anos de nossa independência como nação capaz de construir o futuro. Que, como diz Saint-Exupéry, não é um destino aonde se queira chegar, mas uma construção contínua, um caminhar constante.
Como nação, os nossos desafios são muitos e imensos. Não há, portanto, lugar para ufanismos inconsequentes. Mas também não há espaço para o pessimismo ou para a descrença.
O Brasil do futuro é o Brasil que estamos construindo agora.
Ainda que o momento presente esteja tão conturbado pelos radicalismos que se manifestam em polarizações exacerbadas e em posições ‘ideológicas’ excludentes, não há por que descrer de que, sim, somos capazes de superar antagonismos e divergências na construção do caminho que é o próprio futuro.
*Iran Coelho das Neves
Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul
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