Em artigo do dia 20 de março, quando a Covid-19 começava a estampar sua face cruel no Brasil, dizíamos que “somos todos personagens dessa tragédia contemporânea”, ajuntando que “a única condição de dignificar nosso papel de ser humano é agir com responsabilidade e sensatez (...)”
Desde então, o longo e doloroso sacrifício – na última quarta-feira, 10/05, eram quase quarenta mil vidas de brasileiros ceifadas – imposto pelo vírus potencialmente letal que alcançou todo o Brasil, onde ainda não se sabe se a pandemia já atingiu o seu trágico ápice, a partir do qual deve começar a arrefecer.
Não há dúvida de que nesta longa via crucis os profissionais da saúde se confirmam, hora a hora, como verdadeiros heróis, pelo sacrifício e destemor com que, sob risco de contágio por um vírus cuja letalidade conhecem muito bem, se dedicam a salvar vidas, muitas vezes sem os meios adequados, mas sempre com a dedicação que só a verdadeira vocação inspira.
No plano governamental, embora as políticas emergenciais de combate à pandemia sejam alvo de críticas, principalmente pela dissintonia entre o governo federal e governadores quanto a restrições às atividades econômicas, a União tem assegurado recursos providenciais para o enfrentamento da Covid-19.
O auxílio emergencial, inicialmente fixado em três parcelas de R$ 600,00 – R$ 1.200,00 mulheres chefes de família – havia repassado, até 29 de maio, R$ 76,8 bilhões para 58,6 milhões de pessoas, muitas delas já tendo recebido a segunda parcela do benefício.
A informação da Caixa Econômica Federal de que, até aquela data, R$ 32,3 bilhões tiveram como destinatários trabalhadores informais, sem cadastro em qualquer programa social do governo, reforça a enorme importância do socorro financeiro como um todo, e sua repercussão na vida das famílias de baixíssima – ou nenhuma – renda.
O anúncio de que o auxílio emergencial será prorrogado por mais dois meses, mesmo que com redução da parcela para R$ 300,00, acena com a ampliação de um alento para dezenas de milhões de famílias, cujas precárias condições de sobrevivência a pandemia agravou ainda mais.
Por outro lado, o socorro de R$ 60 bilhões – R$ 50 bilhões em compensação pela queda de receita e R$ 10 bilhões para ações de saúde e assistência social – a estados e municípios significa importante aporte de recursos federais no enfretamento das gravíssimas e prologadas consequências da pandemia.
Ainda que em algumas cidades os sistemas de saúde tenham estado à beira do colapso, no geral governadores e prefeitos têm demonstrado o empenho que deles seria de se esperar no combate à pandemia e na busca por redução dos danos causados à economia.
Portanto, embora haja críticas pontuais, por atrasos em repasses de recursos – anteriores ao socorro agora sancionado – e de insumos, é forçoso reconhecer que a União tem feito fortes investimentos para apoiar estados e municípios. Estes, por sua vez, têm respondido com razoável eficiência ao desafio representado pela mais grave crise sanitária em mais de um século. Principalmente porque contam com o providencial suporte do SUS, que ajudam a financiar.
Postas as coisas assim, seria de se esperar que o combate ao flagelo da Covid-19 no País estivesse se travando em trincheiras homogêneas e compactas, sem defecções ou controvérsias ‘políticas’ que acabam exaurindo boa parte da energia tão vital para a luta contra o inimigo comum e letal, o novo coronavírus.
Em tempos de radicalismos exacerbados, pode soar como ingenuidade, mas não será uma afronta à sensatez apelar aos líderes políticos para que, neste momento tão dramático, em nome das dezenas de milhares de vítimas e das tantas mais que a Covid-19 pode ceifar, façam um esforço patriótico para contornar divergências e reduzir rejeições mútuas. Pelo menos até que a trágica pandemia seja debelada. Até que isso ocorra, a união de todos os brasileiros, em especial de nossas principais lideranças, é o antidoto mais eficaz.
A propósito, ao justificar sua aliança com Stalin quando a Alemanha invadiu a Rússia, em 1941, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill, anticomunista até a medula, disse o seguinte: “Se Hitler invadisse o inferno, eu faria pelo menos uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns.”
O nosso ‘Hitler’ nessa guerra tão desafiadora é o novo coronavírus.
*Iran Coelho das Neves
Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul.
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