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Opinião Domingo, 04 de Agosto de 2024, 13:23 - A | A

Domingo, 04 de Agosto de 2024, 13h:23 - A | A

Opinião

Levando a Palavra da APLV

Por Wanderson R. Monteiro*

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Não querido leitor, não se assuste. Não venho aqui utilizar desse espaço para fazer apologia à uma nova religião. Não. Venho lhes falar de algo extremamente importante: venho lhes falar dos perigos e cuidados relacionados à Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV).

Descobri as implicações e cuidados para com tal alergia ao descobrir que meu filho, hoje de um ano e meio, tinha APLV (alergia à proteína do leite de vaca), confirmando as desconfianças de minha esposa, que, diferente de mim, já tinha conhecimento prévio sobre o assunto. A partir desse momento, aprendi que a APLV não é apenas uma questão de evitar certos alimentos; é uma mudança completa de estilo de vida que exige cuidados e atenção constantes. A partir de então, tudo se tornou uma busca constante por segurança alimentar e bem-estar para o nosso filho. Mas, a descoberta da APLV também foi, de certa forma, um alívio, por termos descoberto aquilo que tanto lhe incomodava, afligia, e causava dor.

Já ainda na maternidade, com menos de 24 horas de vida, ao ser administrada a fórmula infantil para nosso filho - por ele não ter consiguido pegar o peito de forma correta -, já foi possível notar, na hora do banho, inúmeras manchas vermelhas por seu corpo. Sem ter noção do que poderia ser, tanto nós quanto a enfermeira pensamos que as manchas tinham aparecido devido ao intenso calor do dia.

Depois de ter alta do hospital, fomos para casa. Ele foi amamentado/alimentado somente com leite materno até pouco mais de três meses de idade, de maneira que a alergia foi mascarada até pouco depois dos três meses. Quando minha esposa tentou, aos poucos, a introdução da mamadeira (que ele nunca aceitou, diga-se de passagem). Na mamadeira, eram introduzidas fórmulas infantis. Dessa forma, fomos percebendo que ele iria rejeitando todas, uma por uma. E não só isso: todas as tentativas de se introduzir alguma fórmula infantil que não fosse o leite de sua mãe ele chorava muito (chorava muito mesmo!), e cuspia e voltava todo o pouco fórmula que ele tinha conseguido beber. De início, pensávamos que poderia ser a rejeição do recipiente (mamadeira), depois, começamos a desconfiar que poderia ser intolerância à lactose, de maneira que começamos fazer tentativas com fórmulas sem lactose - (as manchas vermelhas em seu corpo depois que ele tentava mamar alguma das fórmulas também não foram ignoradas, o que despertou uma desconfiança de APLV na cabeça de minha esposa). Pode ser que seja por isso que ele tenha rejeitado tão ferozmente a mamadeira.

A situação se agravou um pouco mais quando percebemos que até as fórmulas de zero lactose provocavam as mesmas reações que as fórmulas “normais”. Como acontecia com os outros tipos de fórmula, ele chorava muito e voltava o pouco que havia bebido e, como acontecia com as outras fórmulas testadas, a pele do nosso filho ficava irritada e ferida onde o leite pingava ou escorria.

Ou seja, até hoje, para dar algum tipo dr reação ao leite, nosso filho não precisa ingerí-lo, basta somente encostar no leite, ou à qualquer alimento que contenha leite, - ou em algo, ou alguém, que tenha encostado no leite ou em algo que contenha leite -, para que as reações alérgicas se manifestem, e estas reações podem variar; desde manchas vermelhas que coçam, feridas na pele, inchaço nos olhos, boca, garganta - correndo risco de asfixia -, e, nos casos mais leves, diarréia seguida de muitas assaduras (isso, quando o contato com o leite é mínimo, por exemplo, quando a mãe dele ingeria alimentos com leite e isso era passado para ele através do leite materno - sim, a alergia dele é tão grave que nem a mãe dele poderia consumir alimentos com leite como ela gostaria -. Como ele não pode ter nenhum contato com nenhum tipo de alimento que contenha leite em seus ingredientes, ele também não pode comer ou beber nenhuma das guloseimas dado às crianças, como biscoitos/bolachas, chocolate, doces, iogurtes, bolos, e inúmeros alimentos “normais” que as crianças, e nós, adultos, tanto gostamos - (E, não minto, esse tipo de privação para com uma criança é algo que já me causa angústia quando penso no futuro próximo. Isso é algo que ele deverá aprender a lidar enquanto cresce, sendo nosso papel como pais ajudá-lo a entender que é o melhor para ele) -. E isso também serve de alerta para quando nós desejarmos dar algo à uma criança sem pedir permissão aos pais, pois, nossas intenções podem ser as melhores possíveis, mas não sabemos se tal criança pode ou não comer ou tomar o que lhes oferecemos, podendo desencadear problemas graves.

Depois de algumas tentativas - falhas - com as fórmulas de zero lactose, chegamos a conclusão de que o problema dele não era a intolerância à lactose, mas sim, a Alergia à Proteína do Leite de Vaca. E isso foi amplamente confirmado depois por inúmeros exames e consultas a pediatras e alergistas, que indicaram uma fórmula especial para ele, indicado para crianças com APLV e, adivinhem o que aconteceu… sim, o organismo dele também rejeitou a fórmula específica para APLV, tendo as mesmas alergias que tinha ao tomar as fórmulas “normais”. Dessa forma, nos foi indicado a tentar uma fórmula com base no leite de soja, a qual ele conseguiu beber sem nenhum problema, de maneira que o “leite” de soja se tornou o leite que ele bebe desde então.

Como já pôde ser percebido, a APLV é diferente da Intolerância à Lactose. Vejamos um pouco mais das diferenças entre as duas.

A APLV ocorre quando o sistema imunológico do bebê, da pessoa, reage de forma exagerada às proteínas presentes no leite de vaca, identificando-as como ameaças. Isso pode levar a uma variedade de sintomas, desde problemas gastrointestinais até reações na pele, como as que nosso filho apresentou.

A intolerância à lactose, por outro lado, é a incapacidade de digerir a lactose, um açúcar presente no leite, levando à cólicas intestinais e diarréia, como sintomas mais comuns. No caso do nosso filho, como foi dito, a Alergia à Proteína do Leite de Vaca se manifesta de forma intensa, causando rejeição às fórmulas de leite quando bebê, e manchas, inchaços, coceira e feridas, onde o leite toca. Essa distinção é importante para entender por que as fórmulas de zero lactose não resolvem o problema, pois a questão está nas proteínas, e não no açúcar do leite.

A APLV também pode se manifestar de diferentes maneiras em cada criança. Alguns bebês podem ter sintomas mais leves, como cólicas e diarreia, enquanto outros podem apresentar reações graves, como dificuldade respiratória e anafilaxia. No caso do nosso filho, as reações na pele e gastrointestinais eram as mais comuns mas, algumas vezes, também notamos que ele teve dificuldade respiratória, de maneira que isso sempre nos exige vigilância constante e muito cuidado.

Com tudo isso, cada refeição, principalmente fora de casa, se tornou um desafio. A leitura de rótulos, antes uma tarefa simples e rotineira - ou nem praticada -, agora exige tempo e paciência. Isso porque não podemos nos dar ao luxo de confiar em alimentos processados sem uma inspeção detalhada, pois até mesmo vestígios de proteína do leite podem desencadear uma reação alérgica severa. Refeições e festinhas de criança, que antes eram lugares de lazer, agora são campos minados de riscos potenciais, nos cobrando atenção constante.

Além das dificuldades alimentares, há a questão do cuidado diário. Desde creches até encontros familiares, precisamos educar todos ao redor sobre a condição de nosso filho. Falar e explicar sobre a APLV, e suas consequências, não é apenas sobre prevenir uma reação alérgica, mas também sobre criar um ambiente seguro, além de falar sobre algo completamente desconhecido para a grande maioria das pessoas.

Assim como nosso filho, muitos são aqueles que sofrem com a APLV, e muitos são os pais que estão constantemente a explicar a condição de seus filhos. Com esse texto, o primeiro de alguns que ainda virão, espero vir a fazer coro com estes pais, na tentativa de falar e informar as pessoas sobre tal condição alérgica que afeta nosso filho, assim como afeta muitas pessoas que podem fazer parte de nosso meio e convívio social, na intenção de compartilhar um pouco sobre algo ainda tão desconhecido para a maioria das pessoas atualmente.


*Wanderson R. Monteiro
Autor do livro “Cosmovisão Em Crise: A Importância do Conhecimento Teológico e Filosófico Para o Líder Cristão na Pós-Modernidade”.
Dr. Honoris Causa em Literatura e Dr. Honoris Causa em Jornalismo.
Bacharel em Teologia, graduando em Pedagogia. Acadêmico Correspondente da FEBACLA.
Acadêmico Fundador da AHBLA. Acadêmico Imortal da AINTE.
Vencedor de quatro prêmios literários. Coautor de 15 livros e quatro revistas.
(São Sebastião do Anta - MG)

 

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