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Opinião Sábado, 14 de Março de 2020, 07:00 - A | A

Sábado, 14 de Março de 2020, 07h:00 - A | A

Opinião

Mulheres feridas

Por Ivanoska Filgueira*

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Estamos em uma década de força feminina. Vemos, mundialmente, mulheres assumindo protagonismo profissional e realizando feitos que, no século passado, eram vistos como impossíveis a este sexo. Para aquelas que nasceram depois da década de 90, talvez soe extremamente estranho quando avós relatam situações a que foram submetidas. Mulher não pode, mulher não deve, mulher não vai. Divórcio? Não. Trabalhar fora de casa? Não.

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Ivanoska Filgueira - Artigo

Ivanoska Filgueira


Fato é que no século 21, nós avançamos. Entretanto, há muito que caminhar. Ainda vivemos em um cenário triste repleto de violência. Falo de uma agressão física e também psicológica. Uma violência devastadora que vem de pessoas que elas consideravam confiáveis, e, o pior, muitas vezes ocorre em um ambiente onde era para ser de segurança: dentro da própria casa.


O Brasil registra um caso de mulher agredida a cada 4 minutos, de acordo com Ministério da Saúde. Em oito anos, número de mulheres agredidas por ex-companheiro quase triplicou. O percentual de mulheres agredidas por ex-companheiros subiu de 13% para 37% entre 2011 e 2019. Segundo a pesquisa, 27% das entrevistadas já sofreram algum tipo de violência doméstica ou familiar. Os dados são da oitava edição da Pesquisa Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, do Instituto DataSenado.


E essa realidade chegou ao meu consultório. Diante dos meus olhos pude ver mulheres feridas emocionalmente com a relação em que se mantinham ou que sustentaram por anos a fio por motivos que acreditaram ser de força maior. Mulheres que, em meio a uma consulta, desmoronavam em um choro inflamado e um desabafo que trazia enorme carga emocional.


Diante de mim vi também o caso daquelas que estavam entrando em um novo ciclo, uma nova fase. Querendo livrar-se de todas as más lembranças que restaram. Na vida destas, a cirurgia plástica entrou como um grito de liberdade. Este berro ecoava dentro delas “Eu posso. Eu sou dona do meu corpo e a minha vontade prevalecerá”. Uma libertação que está longe de ser mera estética, e atinge o patamar de uma liberdade d’alma.


Não caberia em palavras o sentimento de realização que tenho ao mudar uma vida e, depois da vida adulta, ver uma mulher renascendo naquele momento. Uma mulher cheia de vida e disposição, com coragem e desejo de se colocar onde merece. Que faz as pazes consigo mesma e abandona o sentimento de culpa.


O meu desejo para o mês onde é comemorado o Dia Internacional da Mulher é simples: Voz às mulheres! Que denunciem, saiam de um ciclo onde não estão bem e resgatem a força interior que, por algum motivo, foi esquecida. Procure ajuda médica e você terá a audácia de encontrá-la. De se reencontrar e se redescobrir. Em vez de flor, dê respeito.

 

 

*Ivanoska Filgueira

Médica cirurgiã plástica graduada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A especialista veio para Brasília para cursar residência médica. Obteve pós-graduação em medicina do trabalho, e, em seguida, alcançou o titulo de mestra em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília.

 

 



 


 

 

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