Campo Grande Terça-feira, 16 de Abril de 2024


Opinião Segunda-feira, 18 de Novembro de 2019, 19:15 - A | A

Segunda-feira, 18 de Novembro de 2019, 19h:15 - A | A

Opinião

Musculação para crianças e adolescentes

Por Ana Paula Simões*

Artigo de responsabilidade do autor
Envie seu artigo para [email protected]

Especialistas alemães do Institute of Training Science and Sports Informatics publicaram na revista “Pediatrics”, após analisarem vários trabalhos científicos sobre treino de força em crianças e adolescentes, a conclusão de que a musculação, quando bem orientada, traz benefícios nessa idade.

Divulgação

Ana Paula Simões - Artigo

Ana Paula Simões


Jovens desta faixa etária que fizeram treino de resistência pelo menos duas vezes por semana, durante um mês ou mais, tiveram maior ganho de força do que aqueles que se exercitavam apenas uma vez por semana ou por períodos mais curtos.
  
Especialistas brasileiros já seguem esta tendência. Em algumas academias e clubes competitivos de diversas modalidades, temos profissionais especializados e equipamentos específicos para crianças. Mas lembrando que desde que liberados pelo pediatra ou ortopedista e sob a supervisão de um profissional de Educação Física.
     
A Associação Nacional de Força e Condicionamento (NSCA, em inglês) indica o treino de força nesta faixa etária como forma de:

- melhorar o desenvolvimento corporal e equilíbrio;
- trabalhar a concentração;
- fortalecer a massa óssea;
- reduzir o risco de lesões;
- controlar o peso (crianças ativas têm menor percentual de gordura corporal quando comparadas a crianças inativas);
- evitar a hipertensão
- aumentar a resistência cárdio-respiratória;
- melhorar a sociabilidade e a autoestima;
- melhorar de performance, no caso de atletas;
- estimular o aumento da estatura (crescimento longitudinal do osso);
- estimular o crescimento em espessura do osso;
- aumentar a força muscular e  flexibilidade;
- reduzir os níveis de colesterol e triglicerídios no plasma,  prevenindo doenças cárdio-circulatórias.

Por que as crianças não podem fazer esses exercícios antes disso?
Não há uma idade ideal para iniciar esse tipo de atividade, pois não existem trabalhos e testes em crianças menores de 12 anos. Alguns jovens são biologicamente mais maduros para executar programas avançados, já outros devem começar com treinos mais simples e leves, aguardando seu desenvolvimento.

Não há razão para crianças de 6 até 12 anos não se exercitarem fazendo movimentos de flexões de braço, abdominais e agachamentos, nos quais usam apenas o peso de seu próprio corpo como carga. Mas, nesta faixa etária, outras atividades são mais interessantes para despertar a motivação para a atividade física, como esportes coletivos, natação, judô, ginástica artística, entre outros.

Muitos adolescentes recorrem a suplementos para acelerar os resultados da malhação. Eles podem ser usados?
Suplementos sob orientação médica e avaliação física adequada podem ser usados para ajudar na melhora de resultados, mas medicamentos considerados doping não. Os mais comuns são os anabolizantes, que fazem com que o crescimento muscular seja duas vezes maior e mais rápido e são proibidos.

Os esteroides anabolizantes são medicamentos fabricados através de combinações bioquímicas da testosterona, o hormônio responsável pelo desenvolvimento das características masculinas. O remédio foi desenvolvido para o tratamento de doenças musculares, ósseas, dentre outras. Mas logo seu efeito sobre a massa muscular foi descoberto por atletas e por jovens em busca do corpo perfeito o quanto antes e a qualquer preço.

Eles podem afetar o metabolismo do corpo e causar sérios efeitos colaterais como o aumento da próstata e a hipertrofia clitoriana nas mulheres, a ginecomastia (desenvolvimento das mamas nos homens), a atrofia testicular, a queda de cabelo, a diminuição da capacidade sexual e esterilidade. Também geram aumento da agressividade, dependência, infarto, aumento dos pelos onde não deveriam aparecer, câncer (fígado, rim), levando até à morte.

Há diferença na indicação de musculação para meninos ou meninas?
Os meninos e meninas pouco diferem em relação à massa muscular ou à força muscular até o início da puberdade, A parcela de músculo na massa corporal total é menor que no adulto e equivale a 27% do corpo. Só com o início da puberdade e consequentes alterações hormonais ocorrem acentuadas taxas de crescimento em relação à massa muscular e, portanto, o desenvolvimento diferenciado, específico do sexo, das características corporais.

Há restrição para determinados exercícios?
Sim, a carga deve ser respeitada. Cada criança deve saber o limite suportado sempre começando a usar a carga mínima ou o peso do próprio corpo, como fazemos no Pilates. Devem ser respeitadas as orientações dos professores e as regras de segurança, além das diferenças individuais, a maturidade física e psicológica e o nível de experiência da criança. A prática de musculação e outras atividades, como exercícios aeróbios, de flexibilidade e a iniciação em atividades esportivas, são recomendados pela Academia Americana de Pediatria e o Colégio Americano de Medicina Esportiva.

O resultado do trabalho citado acima contraria a afirmação de que crianças e adolescentes devem evitar a musculação porque este exercício resultaria em baixa estatura e danos físicos, devido, por exemplo, à falta de testosterona, o hormônio que estimula o aumento de massa muscular, que só inicia na fase adulta.

Tanto faz se o é treino de força ou outra atividade; quanto mais exercícios sob orientação melhor. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 83% dos jovens em idade escolar assistem a mais de duas horas de TV por dia, 70% deles têm uma ou menos aulas de educação física por semana, e 32% dos jovens em idade escolar entre 11 anos e 19 anos estão com sobrepeso ou são obesos. Portanto, crianças: vamos exercitar!

 

 

*Ana Paula Simões

Professora Instrutora da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Mestre em Medicina, Ortopedia e Traumatologia e Especialista em Medicina e Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. É Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé, da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte; e da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. www.anapaulasimoes.com.br

 

• • • • •

 

A veracidade dos dados, opiniões e conteúdo deste artigo é de integral responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Capital News

 

Comente esta notícia


Colunistas LEIA MAIS