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Opinião Terça-feira, 05 de Agosto de 2025, 07:21 - A | A

Terça-feira, 05 de Agosto de 2025, 07h:21 - A | A

Opinião

O Julgamento da Multidão

Por Wanderson R. Monteiro*

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“Mas, entre mim e tu, meu caro Críton, é tão importante assim a opinião do povo?” — disse Sócrates, diante da tentativa de seu amigo de convencê-lo a fugir da prisão. Essa pergunta, juntamente com seu ensinamento, ecoa até hoje como um desafio à nossa consciência, principalmente em nossa sociedade atual, onde podemos perceber que as opiniões e ideias parecem ser validadas por meio da maioria das pessoas que as aprovam e as seguem.

Sócrates foi preso injustamente, sob a acusação de corromper a juventude ateniense por meio de seus discursos e ensinos. Sua pena foi a condenação à morte. Críton, seu amigo, planeja uma forma de tirar Sócrates da prisão antes da execução de sua pena.

No diálogo platônico, Críton visita Sócrates na prisão, durante a madrugada, com uma proposta: ajudá-lo a fugir. Ele argumenta que, se Sócrates não fugir, será injusto consigo mesmo, com seus filhos e com seus amigos, além de prejudicar a reputação deles perante toda a cidade, assumindo a culpa pelos crimes dos quais estava sendo acusado. Críton também expressa o temor de que as pessoas pensem que seus amigos o abandonaram ou foram covardes por não terem ajudado Sócrates a fugir de seu castigo. Essa solução dada por Críton foi duramente recusada por Sócrates.

É neste momento que Sócrates responde com a fala: “Mas, entre mim e tu, meu caro Críton, é tão importante assim a opinião do povo?”.

Por meio dessa frase, Sócrates está questionando se a opinião da maioria, se a opinião do povo, deve ser realmente levada em consideração quando se trata de questões fundamentais como a justiça, a verdade e a virtude. Ele defende que não é a opinião da maioria que deve orientar as ações de um homem justo, mas sim as opiniões daqueles que verdadeiramente possuem sabedoria e conhecimento sobre o bem e o justo.

Sócrates argumenta com Críton que agir de forma injusta — como fugir da prisão — seria romper com seus próprios princípios e com as leis da cidade, às quais ele voluntariamente se submeteu durante toda a sua vida. Ele mostra que não se deve viver segundo o medo da opinião pública, mas segundo a busca pela verdade e pela retidão moral. Para Sócrates, era melhor sofrer uma injustiça do que cometê-la.

Sócrates sabia que poucas são as opiniões que realmente importam: aquelas que vêm da verdade, da consciência reta e do dever. Ele preferiu aceitar a morte a negar sua missão interior. Para ele, mais valia obedecer à divindade que aos homens.

Sócrates, sendo um alicerce e um monumento da filosofia ocidental, não é o único a defender o pensamento da fidelidade aos princípios pessoais perante a multidão. A síntese do diálogo de Sócrates com Críton me faz lembrar imediatamente a defesa de Pedro e dos apóstolos perante o Sinédrio. Os apóstolos estavam sendo perseguidos e foram proibidos pelo Sinédrio (o tribunal judaico) de pregar em nome de Jesus. Mesmo assim, eles continuaram ensinando e anunciando o evangelho publicamente. Quando foram questionados e intimados novamente, Pedro respondeu com a conhecida frase: “Importa mais obedecer a Deus do que aos homens.” (Atos 5:29)

Na sociedade atual, damos muita importância ao que os outros vão pensar sobre nós, sobre nossos atos e posições. Somos influenciados a seguir o que a maioria diz, com medo do julgamento da multidão. E, com isso, deixamos de viver de acordo com a verdade que conhecemos. Atualmente, vivemos em função da aprovação alheia, buscando validação de pessoas que não se importam conosco, mesmo que isso nos custe a paz interior. Muitos abrem mão de seus valores e da própria identidade apenas para não parecerem “estranhos”. Valorizamos ao extremo “a opinião do povo”, mostrando que não aprendemos com os ensinos de Sócrates, ou de Pedro.

Tanto Sócrates, no diálogo com Críton, quanto Pedro e os apóstolos, em Atos 5:29, afirmam uma mesma verdade: o reconhecimento e a consciência de obedecerem a uma lei superior à vontade dos homens. Sócrates afirma que não deve se submeter à opinião da maioria nem agir contra seus princípios morais e sua convicção de justiça, mesmo que isso custe sua vida. Pedro e os apóstolos, da mesma forma, dizem que não podem deixar de cumprir a missão que receberam de Deus, mesmo que isso os coloque em confronto direto com as autoridades humanas.

As afirmações de Sócrates e de Pedro nos revelam algo extremamente importante e que tem sido grandemente negligenciado por nossa sociedade atual. As duas afirmações apontam diretamente para a existência de uma ordem superior à ordem humana. Diante disso, podemos perceber que a verdadeira dignidade está em obedecer ao Logos, à Verdade, ao Bem, que transcende qualquer poder terreno, e toda e qualquer opinião distorcida compartilhada pela sociedade.

Diante disso, podemos perceber que a consciência é o nosso verdadeiro juiz. Quando ela está limpa e tranquila, podemos suportar até o desprezo da maioria. E, quando essa mesma consciência está em conflito e se reconhece impura, nenhum aplauso do mundo trará alívio.

A partir disso, deveríamos nos perguntar: quem realmente tem autoridade para julgar nossas vidas? A multidão, com suas opiniões que, na grande maioria das vezes, não tem acesso ao conhecimento completo e real dos fatos, como no caso de Sócrates, ou a verdade eterna? É tempo de parar de temer o “que vão dizer” e começarmos a nos preocupar verdadeiramente com o que é certo. É extremamente importante sabermos a quem devemos ouvir. Porque, no fim, é por meio da verdade que seremos julgados, e não pela mera opinião do povo.


*Wanderson R. Monteiro,
Autor de São Sebastião do Anta – MG.
Dr. Honoris Causa em Literatura e Dr. Honoris Causa em Jornalismo.
Bacharel em Teologia, graduando em Pedagogia.
Acadêmico correspondente da FEBACLA. Acadêmico fundador da AHBLA. Acadêmico imortal da AINTE.
Autor dos livros “Cosmovisão em Crise: A Importância do Conhecimento Teológico e Filosófico Para o Líder Cristão na Pós-Modernidade”, “Crônicas de Uma Sociedade em Crise”, “Atormentai os Meus Filhos”, e da série “Meditações de Um Lavrador”, composta por 7 livros.
Autor de 10 livros.
Vencedor de 4 prêmios literários. Coautor de 15 livros e 4 revistas.
(São Sebastião do Anta – MG)

 

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