Dentre as restrições impostas pelas autoridades sanitárias – e assumidas pelos que têm senso de responsabilidade coletiva – para conter a pandemia do novo coronavírus, o trabalho remoto tem se mostrado uma opção segura e produtiva, tanto na administração pública quanto nas empresas onde essa alternativa é possível.
No caso do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul (TCE-MS), onde adotamos o sistema home office desde o dia 18 de março, o empenho dos servidores e os avançados suportes de tecnologia da informação têm garantido o eficaz cumprimento de nossas atribuições constitucionais.
No entanto, o cenário de temor individual e de sobressaltada incerteza coletiva, diante de um inimigo invisível e potencialmente letal, não se torna menos ameaçador pela adoção do trabalho remoto, alternativa para uns poucos, diante de uma grande maioria cujo trabalho exige atuação presencial.
Aos que, na administração pública ou no setor privado, têm o privilégio de trabalhar em home office impõem-se, portanto, para além do correto e natural cumprimento de seu dever laboral, responsabilidade ética e senso humanitário que possam ser galvanizados em solidariedade para com aqueles que, para exercer seu trabalho, todos os dias têm de deixar seu lar, ao qual retornam atormentados pelo risco de que possam estar levando o vírus para sua família.
Mas de que solidariedade estamos falando?
Em primeiro lugar, falamos do espírito público e do senso social e humano que devem – ou deveriam – ditar aos que têm o privilégio de trabalhar em casa: que só saiam dela em caso de extrema necessidade. Ao prevenir-se contra o contágio da pandemia estará conferindo àquela prerrogativa o seu valor humanitário essencial, que é o de proteger toda a sociedade.
Porém, em tempos de tão grave e prolongada provação, quando é real e igualitário o risco de sermos acometidos de uma doença para a qual não tem remédio conhecido ou vacina eficaz, muito mais do que presumida ‘penitência preventiva’, a solidariedade concreta deve ser internalizada em cada um de nós como expressão da grandeza espiritual, transcendente, que nos faz seres humanos autênticos.
As vulnerabilidades sociais e as graves e crônicas desigualdades, agora expostas com realista e dramática crueza pela pandemia, mobilizam incontáveis iniciativas de apoio a famílias e comunidades que, sem condições mínimas de subsistência, estão mais expostas aos riscos de contágio e às consequências deletérias da Covid-19.
Apoiar uma dessas iniciativas significa, antes de mais nada, contribuir com o esforço dos que se dispõem a oferecer um mínimo de proteção aos mais vulneráveis. E, neste sentido, consuma-se como concreta manifestação de empatia, expressão cabal e íntima da essência que define o ser humano – o espírito humanitário. A compaixão, enfim.
Já observamos que situações calamitosas, como a que o Brasil e o mundo vivem hoje, são propícias para que aflorem o melhor e o pior do ser humano.
O individualismo e a insensibilidade social são, sem dúvida, o que de pior se pode manifestar neste momento.
No extremo oposto, a solidariedade, o senso de responsabilidade comunitária e de concreta compreensão das urgências do próximo são o que de melhor nós podemos oferecer para justificar o nosso pertencimento à Humanidade.
*Iran Coelho das Neves
Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul.
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