A vasectomia é um procedimento cirúrgico simples que promove a esterilidade masculina, visando o planejamento familiar definitivo. A sua indicação ocorre de acordo com a Lei Brasileira do Planejamento Familiar (9.263/96), que determina a realização da cirurgia em homens maiores de 25 anos e com dois filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo de 60 dias após a manifestação expressa do desejo e aconselhamento por equipe multidisciplinar, a fim de desencorajar a esterilização precoce. Durante a consulta, o Urologista deve lembrar a existência de outros métodos anticoncepcionais como: DIU (dispositivos intrauterinos), pílulas anticoncepcionais, implantes, preservativos, entre outros. A cirurgia só deve ser realizada na certeza absoluta de que a família está completa; caso o homem tenha alguma dúvida ou incerteza, o mesmo deve ser desencorajado ou proceder a um maior tempo de reflexão.
Sabe-se que não há método anticoncepcional 100% seguro, mas a vasectomia encontra-se entre os mais seguros. A esterilização não traz riscos de câncer de próstata, testículos; não aumenta a chance de desenvolver hipertensão arterial, doenças cardíacas ou demências. A vasectomia não altera a produção dos níveis hormonais (testosterona); do prazer sexual (orgasmo) ou da libido. O ejaculado estará presente na mesma forma e volume, só não conterá mais os espermatozoides.
O procedimento pode ser realizado sob anestesia local e a avaliação pré-operatória (exames laboratoriais e consulta com cardiologista) nem sempre se faz necessária, sendo decidida pelo urologista após avaliar o paciente.
A cirurgia leva aproximadamente 40 minutos e consiste em abordar os deferentes, interrompendo a passagem dos espermatozoides dos epidídimos para as vesículas seminais. Os espermatozoides formados serão reabsorvidos e as células germinativas (produtoras de espermatozoides) vão diminuindo a sua produção por aumento de pressão dentro dos deferentes após o procedimento.
A vasectomia é uma cirurgia como outra qualquer e requer cuidados no pós-operatório, tais como: limitar esforço físico, não praticar esporte ou atividades sexuais nos primeiros dias, cuidados com a incisão cirúrgica, entre outros. As complicações são raras (menos de 1 % dos casos), mas existem e podemos citar algumas: hematomas (coleção de sangue), recanalização dos deferentes, inflamações, infecções, dor crônica, acúmulo de água no escroto (hidrocele).
A liberação para atividade sexual segura será feita após a realização do espermograma que deve mostrar ausência de espermatozoides. Normalmente, essa amostra de sêmen será coletada após 20 - 30 ejaculações, que ocorrem num período previsto de 8 a 16 semanas. Antes disso, os métodos anticoncepcionais devem ser mantidos. Pode ser necessário colher mais de uma amostra para a confirmação da esterilização. Em raríssimas situações, faz-se necessária uma reabordagem cirúrgica diante da presença de um ducto deferente acessório, duplicidade de deferente não identificado no ato cirúrgico ou até mesmo o realinhamento espontâneo do deferente.
Vale lembrar que a vasectomia é uma forma eficaz de controle da natalidade, mas não protege o homem de doenças sexualmente transmissíveis (DST), como uretrites, síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), hepatites, sífilis, herpes, entre outras. Por esse motivo, deve-se usar preservativos, como forma de prevenir as DST.
A reversão da vasectomia é possível e trata-se de um procedimento mais complexo e elaborado (será necessária uma anestesia mais ampla, além do uso de microscópio e instrumental de microcirurgia). O tempo cirúrgico será maior, além dos custos serem muito mais elevados. Vale lembrar que, quanto maior o tempo entre a vasectomia e a reversão, menor será a probabilidade de sucesso. Homens que realizaram a vasectomia em até 5 anos tem uma probabilidade de aproximadamente 80% para engravidar a parceira; já para um período entre 5 e 10 anos, as chances serão de 50%; e de 20-30% quando esse período for maior que 10 anos.
De modo geral, a vasectomia é um procedimento bastante seguro, com alto índice de satisfação e com baixa taxa de complicação ou arrependimento, quando realizada de forma consciente e planejada.
*Dr. Marco Aurélio Lipay
Doutor em Cirurgia (Urologia) pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), Titular em Urologia pela Sociedade Brasileira de Urologia, Membro Correspondente da Associação Americana e Latino Americano de Urologia e Autor do Livro "Genética Oncológica Aplicada a Urologia"
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