Concessionárias de automóveis e empresas de informática de Campo Grande são suspeitas de envolvimento em lavagem de dinheiro de braço da quadrilha de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira Mar. As informações são da Polícia Civil do Rio de Janeiro, que enviou à Cidade Morena, nove agentes e um delegado para cumprir oito mandados de busca e apreensão nos estabelecimentos. As missões da "Operação Scriptus" foram cumpridas ontem, mas os dados foram repassados nesta quinta-feira (1º). Mais de R$ 20 milhões teriam sido lavados.
De acordo com o subchefe Operacional da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Fernando Vila Pouca, após um ano de investigações – que incluíram quebras de sigilos telefônicos e bancários –, chegou-se às informações de que comércios localizados na região dos bairros Guanandi e Coophavilla faziam parte de suposto esquema fraudulento. Os nomes dos envolvidos são mantidos em sigilo.
Sistemática da organização
Desde que o Poder Público começou a retomada do controle do Morro do Alemão, no Rio, verdadeira engenharia financeira foi montada em outras localidades do País para dar subsídio ao bando liderado por Fernandinho – detido no Presídio Federal de Campo Grande.
Segundo a Polícia, havia esquema para limpar os ativos que sustentavam a logística de inserção do grupo criminoso no estado fluminense, além de drogas e armas de fogo – oriundas da Bolívia e Paraguai.
Em Mato Grosso do Sul e no Paraná, pessoas físicas e jurídicas atuavam como células autônomas no esquema. A tarefa principal delas era dar aparência de legitimidade ao dinheiro vindo do tráfico de entorpecentes. O dinheiro era depositado em suas contas bancárias por pessoas da quadrilha, ou seja, elas exerciam a função de “agentes depositantes”.
O dinheiro era transferido posteriormente fracionado ao grupo criminoso, para que o sistema de prevenção à lavagem de dinheiro pudesse ser burlado. A movimentação foi descoberta por conta da parceria entre Polícia e Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Fernando Vila Pouca, da PC-RJ, informa que material será levado para o Rio de Janeiro para análise detalhada
Foto: A. Ramos/Capital News
Conforme nota da Polícia, as principais pistas foram: “aumentos substanciais no volume de depósitos sem causa aparente; depósitos mediante numerosas entregas, de maneira que o total de cada depósito não é significativo, mas o conjunto o é; e depósito de grandes quantias mediante a utilização de meios eletrônicos ou outros que evitem contato direto com o pessoal do banco e movimentação de recursos em praças localizadas em fronteiras.”
Em Mato Grosso do Sul, a equipe policial fluminense deve permanecer até a noite. “Ainda vai depender do que eu encontrar nesses papelotes [documentos apreendidos] e de possíveis depoimentos que eu venha a tomar se achar que seja necessário”, explica o delegado Fernando Vila Pouca.
Investigações contaram com um conjunto grande de policiais do Rio: Núcleo de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro; Delegacia de Combate às Drogas; Coordenadoria de Recursos Especiais; e Coordenadoria de Inteligência e Informação Policial.
Além de Mato Grosso do Sul, ações semelhantes são realizadas no Rio, em São Paulo, Paraná e Minas Gerais. São 20 mandados de prisão e 24 de busca e apreensão. Ao todo, foram 200 policiais envolvidos. Aqui, o apoio foi promovido por policiais do Grupo Armado de Repressão a Roubos, Assaltos e Sequestros (Garras), da Delegacia Especializada de Combate ao Crime Organizado (Deco) e da Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico (Denar).
Foram decretados os bloqueios e sequestros dos bens dos suspeitos, que responderão por prática dos crimes previstos nos artigos 33 e 35 da lei 11.343 (de 23 de agosto de 2006), além dos artigos 1º e 2º da lei 9.613 (de 3 março de 1998) e 288 do Código Penal.

Material trata sobre movimentações financeiras
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