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Senador concedeu entrevista exclusiva ao SBT dando novas informações sobre suposta corrupção no governo federal
O senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) afirmou em entrevista ao Conexão Repórter, do SBT, que o acordo de colaboração premiada acelerou a tramitação do processo de impeachment contra a presidente da República, Dilma Rousseff (PT). “Acho que meu processo foi que acelerou isso [impeachment]”, opinou.
Delcídio reafirmou que vai votar para que o processo contra Dilma seja aceito no Senado e afaste a presidente. “Assumi uma posição muito clara e de muita coragem. Porque enfrentei o governo, enfrentei o ex-presidente Lula. Eu tenho um lado”, destacou.
Para o senador, Dilma não tem condições de reverter a derrota na Câmara dos Deputados, que por 367 votos a favor e 137 contrários, no Senado. “Acho muito difícil. No Senado Federal, já temos os 41 votos para que ela [Dilma] venha ser afastada, e ela sendo afastada, não volta mais”, afirmou.
Operação Lava Jato
Na entrevista ao SBT, Delcídio deu mais detalhes sobre o que viu em supostos esquemas de corrupção em âmbito nacional nos últimos anos, mas não foi específico. “Não apareceram [esquemas de corrupção] ainda, mas surgirão nas próximas semanas e nos próximos meses”, disse.
Sem citar nomes, o senador disse que pelo menos 15 parlamentares são suspeitos de corrupção. “Esse número 15 já está consolidado. Tenho informações da maioria deles”, apontou.
Delcídio diz que houve ações para que executivos de empreiteiras presos recebessem habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Eu era líder do governo e a própria presidente Dilma me pediu para que eu intercedesse para que muitas pessoas saíssem das prisões”, contou.
O senador nunca imaginou que seria preso, e comparou o momento a um acidente automobilístico. “Eu estava em um [carro de] Fórmula a 360 por hora e bati em um paredão. Foi um choque impressionante na minha vida”, afirmou.
Por ordem de Lula, Delcídio agiu para “blindar” o pecuarista José Carlos Bumlai da delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, para que ele não fizesse acordo de delação premiada com o Ministério Público. “Estava cumprindo ordens [do ex-presidente Lula. Ele disse]: ‘Ajude o José Carlos Bumlai’. Significava basicamente que ele fosse delatado. Melhor dizendo, que ele fosse blindado”, afirmou.
O senador acusa Dilma de tentar intervir nas investigações da Lava Jato. “[Ela tentou] Interferir nas investigações, no processo desde que se iniciou em Curitiba, mas principalmente nos tribunais superiores”, afirmou.
Para Delcídio, a presidente não se beneficiou de propina em esquemas de corrupção, mas aproveitou a estrutura política. “Não, ela não recebeu [propina]. Mas a estrutura política que a mantinha [no governo], sim, se beneficiou”, disse.
“Na verdade, a presidente Dilma não participava diretamente [de esquemas de corrupção], e não tratava desses assuntos. Mas evidentemente tinha conhecimento de tudo o que acontecia nos escalões inferiores e inclusive nas campanhas eleitorais”, relatou.
Quanto a Lula, o senador também disse que o ex-presidente não atuava diretamente. “Um presidente não faz isso [participar de esquemas de corrupção]. Mas ele [Lula] tinha conhecimento. Eu [Delcídio] o alertei algumas vezes sobre isso, dizendo que eu via com muita preocupação a maneira como as coisas estavam acontecendo e no futuro isso poderia levar a grandes problemas”, lembrou.
“Também avisei a Dilma muitas vezes. Avisava dos problemas que estavam para vir, em função de como as coisas eram feitas. E ela também subestimava. Na cabeça dela, ela ia passar para a história como quem combateu a corrupção”, disse Delcídio.
Do outro lado
O parlamentar está de licença do Senado, mas adiantou que voltará à Casa para se defender no processo por quebra de decoro parlamentar que corre na Comissão de Ética. Ele foi preso em 25 de novembro de 2015, suspeito de atrapalhar as investigações da operação Lava-Jato, que investiga um suposto esquema bilionário de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Após 87 dias, Delcídio foi solto em 19 de fevereiro e no dia 15 de março, seu acordo de colaboração premiada foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Até hoje, o senador vem mantendo licença médica e ainda não compareceu ao Congresso Nacional.
Na delação, Delcídio citou inúmeros políticos, inclusive a presidente Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB e candidato derrotado à Presidência da República nas eleições gerais de 2014. Todas as acusações ainda precisam ser validadas pela Justiça.
No mesmo dia em que seu acordo de colaboração premiada foi homologado pelo STF, o senador pediu desfiliação do PT, em carta endereçada ao presidente estadual da legenda, Antônio Carlos Biffi.
A delação de Delcídio chegou a ser anexada ao processo de impeachment pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas a comissão especial retirou o documento do pedido e o STF manteve a delação de fora.
Assista a entrevista com Delcídio do Amaral na íntegra: