Com os avanços do Corredor Bioceânico, onde a rota ligará os oceanos Atlântico e Pacífico, permitindo a conexão viária do Centro-Oeste brasileiro aos portos de Antofagasta e Iquique (Chile), passando pelo Paraguai e Argentina. A economia local deve melhorar a renda dos pequenos agricultores nas regiões alcançadas. Valorizando entre os principais produtos, o leite, mel, mandioca e abóbora.
O projeto de pesquisa e extensão “Corredor Bioceânico”, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), executado por meio de recursos de uma emenda parlamentar do deputado federal Vander Loubet (PT-MS), apresenta os dados.
O mapeamento da agricultura familiar no trajeto da rota Em Mato Grosso do Sul, compreende as cidades de Sidrolândia, Nioaque, Jardim, Guia Lopes da Laguna e Porto Murtinho. Nesses municípios o responsável foi o pesquisador e professor Edgar Aparecido da Costa (CPAN/UFMS), com a participação da acadêmica Glenda Rodrigues, do curso de Geografia da UFMS.
De acordo com Edgar Costa, “Olhamos para a agricultura familiar como um grande potencial, como algo a ser otimizado a partir das possibilidades que o Corredor Bioceânico vai proporcionar, mas também olhamos para ela com os cuidados de que a rota não a faça sucumbir”, pontua.
Ao todo, são 35 assentamentos rurais com 5.676 famílias nas cidades sul-mato-grossenses alcançadas pela rota, conforme levantamento feito a partir dos dados da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer).
O professor enfatiza ainda que, “Nem todos são produtivos e um dos grandes problemas dos assentados rurais é que eles consigam a DAP, a Declaração de Aptidão ao Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar]. Sem a DAP, o agricultor não consegue comercializar, não consegue crédito para incrementar a produção. E uma das questões é entender quais são as dificuldades e como ajudar o agricultor a obter a DAP”.
O estudo identificou ainda, que os principais produtos encontrados nos assentamentos rurais ao longo da rota são leite, mel, mandioca, abóbora, ovos e cana-de-açúcar.
Em todas as cidades analisadas a produção de leite foi identificada, sendo considerada destaque para Sidrolândia, com 7.561 litros de leite em 2018, e Nioaque, com produção de 3.057 litros de leite no mesmo ano. Já para os municípios de Jardim (1.643), Guia Lopes da Laguna (957) e Porto Murtinho (800), foram registradas quantidades menores.
Ainda segundo Edgar Costa, “É interessante destacar que a partir do leite, temos vários derivados, várias composições que podem acontecer como doces, queijos. O leite pode ser associado com a abóbora, que é também um produto bastante relevante ao longo da rota”, destaca.
Além desta, outra potencialidade é a produção de mel, principalmente em Jardim, com produção de 48 toneladas/ano (2018), e Guia Lopes da Laguna, com 21 toneladas. A produção também ocorre nos municípios de Sidrolândia (7,9 toneladas), Nioaque (7 toneladas) e Porto Murtinho (1,6 tonelada).
O professor pontua que, “Muitos desses produtores não vendem formalmente, são informais. Apenas Guia Lopes da Laguna tem uma grande quantidade de venda de mel. Jardim não tem, e é o maior produtor. Então, percebemos que uma das possibilidades é alavancar esse sistema de comercialização do mel”.
Com relação a mandioca, esta também é apontada pelos pesquisadores como uma potencialidade a ser explorada em Sidrolândia, que possui 350 hectares de área plantada do produto, e Nioaque, com 150 hectares. Também foi identificada produção de mandioca em Jardim (100 hectares), Guia Lopes da Laguna (80 hectares) e Porto Murtinho (35 hectares).
Com base nos dados do Censo Agropecuário de 2017 (IBGE), Produção Agrícola Municipal (PA) e Produção da Pecuária Municipal (PP) de 2018 (IBGE), foram realizados os levantamentos dos principais produtos da região.
A pesquisa ainda está em andamento e as informações coletadas vão contribuir para a construção de um Plano de Desenvolvimento Territorial Rural Sustentável.
Para a acadêmica do curso de Geografia da UFMS, Glenda Rodrigues, “O nosso objetivo é conhecer o potencial agrícola dessas regiões e melhorar a renda das famílias. Conhecendo as potencialidades e as dificuldades, podemos buscar soluções para ajudar na expansão da produção e do comércio desses produtos”, diz.
A partir da pesquisa poderão ser realizadas a elaboração de projetos, capacitações, busca de parceiros, indicação de políticas públicas e emendas parlamentares.
Por fim o professor e pesquisador Edgar da Costa, relata que, “Imaginamos uma estrutura de capacitação e uma carteira de projetos a partir do que as famílias têm e como podem agregar valor e vender esse produto, sem perder suas características de camponeses, sem perder sua característica original, a cultura que está presente no produto, que é fundamental ser valorizada ao longo dessa rota”, conclui.