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Reportagem Especial Domingo, 08 de Agosto de 2021, 07:51 - A | A

Domingo, 08 de Agosto de 2021, 07h:51 - A | A

Reportagem Especial

Dia dos pais órfão: para quem perdeu o pai para Covid-19, data celebra apenas memórias

Flávio e Neide prestam homenagens aos pais, falecidos em decorrência de complicações da Covid-19

Laura Holsback
Especial para o Capital News

Acervo pessoal

Dia dos pais órfão: para quem perdeu o pai para Covid-19, data celebra apenas memórias

Com ausência dos pais, filhos vivem lembranças neste Dia dos Pais

A pandemia de Covid-19 esfacelou muitas famílias. Irmãos, primos, sobrinhos, tios, avós, mães e pais tiveram a vida e a convivência com seus entes queridos interrompidas pela doença. Diante deste triste cenário de perdas, para milhares de pessoas a celebração do Dia dos Pais, neste domingo (8), está sendo diferente.

Acervo Pessoal

Dia dos pais órfão: para quem perdeu o pai para Covid-19, data celebra apenas memórias

Flávio e Cabo Almi comemoravam a data com churrasco em família

 

Flávio Pereira Moura e Neide Cristina Sousa fazem parte deste universo de órfãos. Moradores em Campo Grande, para eles, o calor do abraço, aquele almoço ou jantar, regado de conversa boa e muitas risadas, são substituídos pelas lembranças.

Flávio perdeu o pai José Almi Pereira Moura - dono de um legado político onde era conhecido como “Cabo Almi”. As melhores lembranças, segundo ele, são os momentos que passaram juntos, exatamente comemorando os Dias dos Pais. “Acordava cedo e a primeira coisa que ele fazia era comprar a carne do almoço. Me ligava dizendo: ‘Flavinho, traz a cerveja que já comprei a carne. Vou fazer o almoço para a nossa família’. Era uma ocasião de a gente bater um papo, descansar”, recorda com carinho.

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Dia dos pais órfão: para quem perdeu o pai para Covid-19, data celebra apenas memórias

Família sempre foi muito unida e autenticidade de Cabo Almi hoje deixa saudades


Flávio tem 30 anos de idade e depois destas três décadas de celebração ao lado do pai festejando, neste ano o Dia dos Pais será de reflexão e oração. “Vamos orar bastante, fazer visita no cemitério e lembrar sempre do nome dele que nos traz alegria e muita felicidade. Será um dia triste pela saudade, mas gostoso pela lembrança de tê-lo vivo em nossos corações”, conta.  

Junto a Flávio, Monique Pereira Moura e Fabricia Pereira Moura também ficaram órfãos do pai. Cabo Almi deixou, ainda, a mãe Irene Carolina Pereira de Oliveira Moura e a esposa Jessica Ribeiro Gutierrez.

Descrito como um homem honesto, sábio, paciente, de coração generoso, Cabo Almi marcou a vida dos filhos pela autenticidade e conselhos que dava. “Até com a morte dele estamos aprendendo. Essa vida é uma missão, uma passagem e todos os dias estamos nos reinventando. O meu pai com certeza deixou o aprendizado dele para todos nós: de ser uma pessoa humilde, não se deixar levar pela vaidade e trabalhar para ter uma vida digna”.

Ao descobrir que havia sido contaminado pelo coronavírus, com autorização médica, Cabo Almi optou pelo tratamento em casa. No entanto, no quarto dia se sentiu mal e foi levado de ambulância para o hospital. Este foi o último instante que Flávio esteve com o pai. “A médica me chamou, avisou que ele seria entubado e me perguntou se gostaria de conversar antes. Aceitei e quando o encontrei ele se mostrou preocupado. Eu disse para ele ter fé, que tudo daria certo. Ainda assim, me falou que se fosse o dia dele, estava preparado, pois Deus tem plano para tudo”, rememora.

O último pedido foi que Flávio cuidasse da família, da mãe e formasse a minha irmã Monique que está no 3º ano de medicina. Cabo Almi faleceu no dia 24 de maio deste ano.

Nesta reportagem especial, o Capital News conta também a história da Contadora Neide Cristina Sousa, que inspirada na profissão do pai Geraldo Gonçalves de Lima, seguiu os mesmos caminhos. “A data mais especial que tive com meu pai foi a minha formatura em Ciências Contábeis, no ano de 1999. Essa era a profissão dele e continuei sua jornada na contabilidade”, compartilha.

Acervo Pessoal

Dia dos pais órfão: para quem perdeu o pai para Covid-19, data celebra apenas memórias

Geraldo sempre foi um pai presente, recorda a filha Neide

 

Geraldo foi outra vítima da Covid-19 e faleceu aos 86 anos no dia 25 de novembro de 2020, a um mês do Natal. A data, Neide define como “o pior Natal de toda a vida”. “A família não se reuniu, ficamos só eu, minha mãe e minha filha. Não tínhamos o que comemorar”,.

Aos 51 anos de idade, esse é o primeiro Dia dos Pais em que Neide, assim como José Geraldo Lima, Wagner Gonçalves Lima e José Carlos Lima, não irão abraçar o pai. “Será um dia muito triste, de muitas lembranças”, divide.

Com a saudade no peito, são exatamente as recordações que  ajudam a amenizar o sofrimento. “Ele representava a nossa união. O que fica na memória é a casa cheia, muitas risadas, conversas. Fomos bons parceiros de viagens. Será sempre lembrado como um pai presente. Um homem que viveu para a família. Era apaixonado pela minha mãe: o seu primeiro e único amor, como sempre dizia. Também era apaixonado pelos netos e pelo bisneto, que ele tratava como ‘meu bisinho'".

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Chapéu que Geraldo gostava de usar é guardado com carinho exposto na sala

 

Marido apaixonado, como Neide descreveu, o último pedido de Geraldo foi para que ela cuidasse de Natalina de Souza Lima, com quem compartilhou quase 63 anos de vida.

Neide conta que o pai era forte e a expectativa é que vivesse ainda por muitos anos. No entanto, depois de sofrer uma fratura no fêmur, contraiu a doença. Segundo ela, outros dois irmãos também contraíram a doença e um deles chegou a ser hospitalizado. “A gente nunca pensa que vai acontecer com a nossa família”, finaliza.

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