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Reportagem Especial Domingo, 17 de Dezembro de 2023, 08:17 - A | A

Domingo, 17 de Dezembro de 2023, 08h:17 - A | A

Reportagem Especial

Marçal de Souza sob as lentes de Roberto Higa

O fotojornalista relembra como conheceu o indígena e o legado que ele deixou

Renata Portela
Especial para o Capital News

Deurico/Arquivo Capital News

Foto icônica de Marçal de Souza registrada pelo olhar do fotografo Roberto Higa

Aos 71 anos de idade, o campo-grandense nos conta como conheceu Marçal de Souza

Há quatro décadas um brutal assassinato tentou silenciar uma das vozes indígenas mais importante do Brasil, a de Marçal de Souza. Símbolo da resistência, o indígena foi morto a tiros em sua casa, em Antônio João, município do interior de Mato Grosso do Sul, que fica a pouco mais de 300 quilômetros de Campo Grande.

No dia 25 de novembro deste ano recordamos 40 anos deste crime. Apesar dos tiros terem tirado a vida de Marçal de Souza, até hoje a voz da liderança Guarani e Kaiowá ecoa através do seu legado presente no crescimento e resistência da luta indígena no país.

Ele deu voz aos indígenas

Quem confirma isso é um dos fotojornalistas mais conhecidos e respeitados de Mato Grosso do Sul, Roberto Higa, ou simplesmente Higa, como é conhecido. "Se existe hoje indígena reconhecido no país é por causa de Marçal de Souza. Ele deu voz aos indígenas, que aparecesse, que pudesse brigar por isso aquilo. Ele começou com tudo isso", destacou.

Deurico/Arquivo Capital News

Marçal de Souza sob as lentes de Roberto Higa

Roberto Higa

Aos 71 anos de idade, o campo-grandense nos conta como conheceu Marçal de Souza. Ele fala que foi em uma das suas missões pelas aldeias do Estado.

Higa conta que entre os anos 1977 e 1980 percorreu todas as aldeias sul mato-grossenses durante um projeto do Governo que tinha como objetivo criar o primeiro seminário indigenista do país. Neste período, para conhecer a realidade dos povos indígenas, além de fotografá-los, chegou a morar com eles e foi numa dessas missões que conheceu o indigenista.

Um tipo de pajé que aplicava injeção

O fotógrafo fala que conheceu Marçal de Souza na década de 1980, a equipe estava atrás de vários indígenas para o projeto e nessa busca encontrou o Marçal de Souza. “Eu o conheci na Aldeia dele em Antônio João. Ele tinha noções de enfermagem, um tipo de pajé que aplicava injeção”, explica.

O Seminário Indigenista foi realizado na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul fotógrafo no mesmo ano e levava o título: “Além das fronteiras coloridas dos portais, existe uma nação incompreendida e espoada. Saiba um pouco mais sobre ela”. O evento reuniu lideranças indígenas, autoridades e tinha como objetivo discutir as questões relacionadas aos povos indígenas.

Higa relembra que o Seminário ganhou repercussão nacional e não só ele como Marçal de Souza que ficou conhecido no mundo todo. “Foi aí que apareceu Marçal de Souza, aí que ele ganhou notoriedade, conheceu o papa João Paulo, foi recebido pelo Presidente dos Estados Unidos”, relembrou.

O fotógrafo diz que, se hoje, existem políticos indígenas, resistentes, que lutam atrás dos seus ideais, Marçal de Souza é a pessoa responsável por isso. No entanto Higa fala que o indígena estava fadado a morrer precocemente, “ele lutava, se expunha demais. Não tinha outro destino a ele, infelizmente”, destacou.

Deurico/Arquivo Capital News

Foto icônica de Marçal de Souza registrada pelo olhar do fotografo Roberto Higa

Foto icônica de Marçal de Souza registrada pelo olhar do fotografo Roberto Higa

Quem foi Marçal de Souza?

Paulo Suess/Cimi

Marçal de Souza sob as lentes de Roberto Higa

Marçal de Souza Tupã-i discursa ao papa João Paulo II, em Manaus, em 1980

Nascido em 24 de dezembro de 1920 Marçal de Souza, ou Tupã I, nome indígena que significa “pequeno Deus”, dedicou sua vida à luta pelas causas indígenas. Ele foi defensor incansável dos povos nativos da América do Sul e um dos líderes precursores das lutas dos guaranis pela recuperação e pelo reconhecimento de seus territórios ancestrais.

Além disso, ele também foi um dos fundadores da primeira diretoria da União das Nações Indígenas (UNI), entidade que congrega indígenas brasileiros, fundada em 1980. No mesmo ano foi escolhido representante da comunidade indígena para discursar em homenagem ao papa João Paulo II durante sua primeira visita ao Brasil.

Na época, ele se envolveu na luta pela posse de terras na área indígena de Pirakuá, em Bela Vista. A demarcação foi contestada pelo fazendeiro Astúrio Monteiro de Lima e seu filho Líbero Monteiro, que consideram a região parte de sua propriedade.

Sou uma pessoa marcada para morrer, mas por uma causa justa a gente morre…

Após diversas ameaças e agressões, em 1983, Marçal foi assassinado a tiros em sua casa. Um pouco antes da sua morte ele teria dito: "sou uma pessoa marcada para morrer, mas por uma causa justa a gente morre…".

• Leia também:
Marçal de Souza: Há 40 anos, os tiros que calaram a voz indígena do Brasil

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Francisco BERNARD 17/12/2023

O Iga é um grande fotógrafo,conhecedor da nossa história.

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