As filas de navios que aguardam espaço nos portos, as estradas esburacadas, os problemas nos aeroportos e a falta de ferrovias influenciam diretamente no caixa das empresas brasileiras, seja porque elas precisam fazer gastos com logística acima da média mundial, seja porque essas dificuldades levam a um estouro de prazos nos negócios. As informações são do jornal impresso o Estado de São Paulo.
Para evitar custos ainda maiores, as companhias no Brasil estão em busca de soluções de logística mais eficientes. Desde o controle total da cadeia de transporte a um investimento pesado em centros de distribuição, passando pelo compartilhamento de caminhões.
Apesar disso, em alguns setores os custos de logística chegam a representar 20% do faturamento, segundo levantamento da Fundação Dom Cabral. No total, o País perde R$ 83 bilhões por ano com essa ineficiência, na comparação com o modelo americano, aponta o estudo.
As dificuldades do transporte no Brasil ficam ainda mais evidentes em grandes empresas transnacionais. Na JBS, que atua no Brasil e nos Estados Unidos, a diferença é relevante: o impacto da logística é 30% maior aqui que na América do Norte, informa a empresa.
“O pneu de um caminhão, que aqui no Brasil precisa ser trocado a cada 100 mil quilômetros, chega a durar 500 mil quilômetros nos Estados Unidos, por causa da conservação das estradas. Além disso, aqui precisamos investir pesadamente em frota própria e cada caminhão custa R$ 500 mil. Temos 1.200 caminhões, enquanto nos EUA trabalhamos muito mais com transportadoras”, afirma Gilmar Schumacher, diretor de logística do JBS.
Com 45 fábricas espalhadas em 10 Estados pelo Brasil, a empresa tem uma estrutura para lidar com 50 mil fornecedores e 70 mil clientes nacionais. Além da frota própria e de contratos de exclusividade com diversas transportadoras, a JBS ainda conta com 14 centros de distribuição pelo Brasil, que dão mais agilidade e reduzem os custos de distribuição. “Há cinco anos tínhamos apenas três centros de distribuição pelo País”, conta Renato Costa, presidente da divisão de carnes do JBS, ressaltando que a diferença para os EUA é gritante. “Lá temos um terminal ferroviário em cada fábrica. Transportamos muita coisa também por hidrovia. Aqui, dependemos do caminhão.”
Schumacher, da logística do JBS, conta que outro desafio será a implementação total da nova lei que regulamenta o trabalho dos caminhoneiros e pode elevar o custo por viagem entre 15% e 20%.
Costa gostaria de usar outros modais no País, como ferrovias e hidrovias. Por isso, apoia a iniciativa do governo de estimular o setor. Para ele, os novos desafios estão focados no Nordeste, região que mais cresce no País e onde há uma maior demanda reprimida por proteína animal. Com investimentos de R$ 6,2 bilhões para gerar 1,5 milhão de toneladas por ano – praticamente tudo destinado à exportação – , a empresa está baseada em uma operação logística integrada.
“Para a empresa ter sucesso, a logística é tão importante quanto a produção de celulose em si”, afirmou José Carlos Grubisich, presidente da Eldorado Celulose e Papel, divisão de celulose da J&F, controladora do JBS.
O grande diferencial no transporte da companhia é o uso de hidrovias e ferrovias. A empresa comprou 30 locomotivas e 450 vagões para levar metade da produção até Santos. Outra metade vai por barcaças pelo Rio Tietê, e depois seguindo depois até Santos por trem. No total, a empresa investiu R$ 800 milhões na área de transporte.