Terça-feira, 27 de Maio de 2008, 13h:20 -
A
|
A
SP: preço do boi gordo deverá subir com área livre de aftosa
Da Redação
O Brasil voltará a ter a maior área livre de febre aftosa do mundo com o reconhecimento de dez estados e o Distrito Federal como áreas livres da doença com vacinação, pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). A informação foi dada ontem pelo ministro Reinhold Stephanes e o anúncio oficial deverá ser feito hoje, em Paris, durante a 76ª Sessão Geral plenária da OIE.
A curto prazo, na prática, a notícia poderá exercer algum impacto de alta sobre os preços do gado no mercado interno se alguns países que importavam - e deixaram de comprar por conta da perda do status nessas regiões em 2005 - voltarem a buscar a carne brasileira. O exemplo mais citado por analistas é o Chile.
"A notícia quebra o argumento técnico do Chile de não importar do Brasil. Entre os países em desenvolvimento, é o país que melhor paga e compra todos os tipos de cortes", avalia Fabiano Tito Rosa, consultor da Scot Consultoria.
É provável que haja pressão de demanda vinda dos chilenos, pois são importadores principalmente da carne argentina e do Paraguai. Tendo em vista os problemas que os argentinos enfrentam por conta de restrições e cotas impostas para as exportações pelo governo Cristina Kirchner, é possível que o Chile venha buscar carne brasileira novamente.
Apesar de concordar sobre a possível reabertura de mercado do Chile, José Vicente Ferraz, diretor do Instituto AgraFNP, diz que a liberação dos estados tem efeito pequeno a curto prazo. "Os principais importadores continuaram comprando, mesmo com o status suspenso", diz.
Mesmo com ou sem novas pressões externas nesse momento, os preços dos animais continuam subindo durante a safra no mercado interno. O boi gordo chegou, ontem, a R$ 82,50/arroba em São Paulo. A vaca gorda, que há cerca de uma semana estava cotada a R$ 73 a arroba na mesma praça, chegou ontem a ser negociada a R$ 75 a arroba, segundo a Scot.
O bezerro continua valendo ouro: registrou alta de 60%, para R$ 720, no Mato Grosso do Sul e de 54%, para R$ 700, em São Paulo, considerando a variação dos preços em um ano.
Os motivos para o mercado continuar firme ainda são oferta reduzida e demanda aquecida. No caso dos bezerros, ainda segundo fontes, o interesse de alguns grupos financeiros em investir na pecuária é fator a mais de pressão positiva nas cotações. O motivo é a demanda por animais para povoar novas fazendas. Entre os interessados, estariam empresas como a australiana AWB e o banco norte-americano de investimentos Lehman Brothers.
Médio prazo
Na opinião dos analistas, os melhores reflexos deverão vir a médio e longo prazo. O status fitossanitário de regiões livres de aftosa com vacinação "devolvido" aos dez estados brasileiros pela OIE será fator que irá colaborar para negociações de abertura de novos mercados.
Tito Rosa, da Scot, lembra que o status concedido pela OIE não é regra para mercados importarem mas serve como base de orientação. "Cada país faz sua própria avaliação", diz. Para o analista da Scot, a mudança pode colaborar, sobretudo, nas negociações com os Estados Unidos e a Coréia do Sul - mercados almejados pelos brasileiros há tempos.
Ferraz, da FNP, diz que para ganhar espaço justamente nesses dois mercados será preciso mais do que a alteração que será oficialmente divulgada pela OIE. No caso dos norte-americanos, não interessa ter a carne brasileira concorrendo em seu mercado, dessa maneira, acabam impondo barreiras conforme seus critérios, comentam analistas.
Serão reconhecidos hoje oficialmente em Paris, os Estados da Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe, Tocantins e o Distrito Federal.
MP da dívida
Stephanes esteve em evento ontem, em São Paulo, organizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide). O ministro anunciou, na ocasião, três medidas para o agronegócio. A primeira delas é o anúncio, hoje, da medida provisória que prevê a reestruturação da dívida agrícola, avaliada em R$ 87 bilhões. Além disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinará um decreto criando adidos agrícolas em alguns países, sem revelar quais.
A terceira medida é a criação de um fundo de catástrofe. A lei que cria o fundo foi aprovada no Congresso na época em que Roberto Rodrigues ainda era ministro e permitirá que as seguradoras participem mais ativamente do mercado agrícola, pois até o momento todas as que se arriscaram no setor tiveram prejuízo, segundo Stephanes. (Fonte: DCI)