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Cotidiano Quarta-feira, 09 de Junho de 2010, 10:21 - A | A

Quarta-feira, 09 de Junho de 2010, 10h:21 - A | A

Descaso da Cesp poderia acabar com sítio de 7 mil anos

Marcelo Eduardo - Capital News

A pesquisa arqueológica que permitiu ao Ministério Público Federal (MPF) questionar judicialmente as ações da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) em suas usinas hidrelétricas na divisa com Mato Grosso do Sul é de responsabilidade de Emília Kashimoto e Gilson Martins, ambos professores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Eles levantaram a existência de 333 sítios arqueológicos na região, sendo que pelo menos 169 estão na margem direita do Rio Paraná, ou seja, do lado do nosso Estado. Foram coletadas 80 mil amostras entre pontas de lança, fragmentos de cerâmica e urnas funerárias (uma delas com um crânio).

Os povos que ali moravam viviam de caça, pesca e coleta de alimentos. Acredita-se que boa parte são de antepassados dos Guarani. Todas as peças estão no Museu de Arqueologia da UFMS (Muarq), em Campo Grande.

As usinas de Jupiá e Ilha Solteira foram construídas antes da obrigatoriedade por lei da exigência de estudo de impacto ambiental (em 1988). Sendo assim, explica a assessoria de imprensa do MPF, não havia a preocupação de preservação do meio ambiente e do patrimônio cultural ali localizado.

A Cesp sofreu com situação parecida após inundar o local de habitação tradicional dos índios Ofaié, na região de Três Lagoas e Brasilândia, para a construção da Porto Primavera.

Para o MPF, conforme divulgado em seu site oficial, “a extensa e significativa área arqueológica foi inundada e continua a ser destruída, na faixa de depleção (variação do nível do reservatório), daí o caráter emergencial das pesquisas arqueológicas”.

Em entrevista concedida à assessoria de imprensa do MPF, o estudioso Gilson Martins afirma que "a região impactada pelas três usinas, além de muito extensa, abrange a área de um dos rios mais importantes para a geografia do continente sul-americano. Esta região é de relevância singular na arqueologia e na história do povoamento e dos movimentos migratórios do continente. Provavelmente, centenas de milhares de pessoas têm nas margens do Rio Paraná suas raízes, sua história e seu passado. Enquanto não houver preservação e monitoramento, o material arqueológico que conta toda essa história continuará sendo afetado".

História das usinas

A Usina Engenheiro Souza Dias (Jupiá) foi concluída em 1974. Está localizada no Rio Paraná, entre Andradina e Castilho (SP) e Três Lagoas (MS). Ela tem potência instalada de 1.551,2 MW. Sua barragem tem 5.495 metros de comprimento e o reservatório, 330 km2.

A Usina Hidrelétrica (UHE) Ilha Solteira é a terceira maior do país. Ela fica no Rio Paraná, entre Ilha Solteira (SP) e Selvíria (MS) e foi concluída em 1978. A potência instalada é de 3.444,0 MW, a barragem tem 5.605 metros de comprimento e o reservatório, 1.195 quilômetros quadrados de extensão.

Juntas, Ilha Solteira e Jupiá, compõe o sexto maior complexo hidrelétrico do mundo.

A UHE Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera, fica no Rio Paraná, 28 km antes da confluência com o Rio Paranapanema. Sua barragem é a mais extensa do país, com 10.186,20 metros de comprimento, e o reservatório tem 2.250 quilômetros quadrados.(Com informações do MPF)

A referência processual é o número 0000789-37.2005.403.6003

Por: Marcelo Eduardo – (www.capitalnews.com.br)

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