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ENTREVISTA Domingo, 02 de Setembro de 2012, 07:51 - A | A

Domingo, 02 de Setembro de 2012, 07h:51 - A | A

Suél quer acabar com assistencialismo e aumentar piso salarial dos servidores para R$ 2,5 mil

Paulo Fernandes - Capital News (www.capitalnews.com.br)

Funcionário público concursado, dono de um carro Corcel II e de uma casa de madeira, Suél Ferranti é um dos sete candidatos a prefeito de Campo Grande. É um sujeito simples, mas com ideias radicais.

Ele faz questão de mostrar o holerite com rendimento de R$ 4.023,86, e conta que a campanha é feita “passando o pires na classe trabalhadora”, com direito até a rifa.

Na entrevista concedida ao Capital News, Suél respondeu por que quer ser prefeito de Campo Grande, falou sobre as propostas para a saúde, transporte público e geração de empregos e disse que, se for eleito, irá colocar a população para pressionar os vereadores na Câmara Municipal.

Suél afirmou que irá acabar com o assistencialismo e estatizar a Santa Casa. Ele prometeu ainda que, se for eleito prefeito de Campo Grande, irá reduzir o próprio salário (de prefeito), e continuar recebendo pouco mais de R$ 4 mil.

Além disso, o candidato do PSTU prometeu elevar o piso salarial do funcionalismo público para R$ 2.519,97 - o valor ideal para o salário mínimo segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O valor é calculado levando em conta as necessidades básicas dos brasileiros e de sua família.

Capital News – O senhor é servidor público federal. Qual a sua formação? Quem é o Suél?

Suél Ferranti – Sou o Suél Ferranti, estou na luta desde 79, quando sai do Exército. Estou na luta para tentar entrar no curso superior. Sonhei em fazer medicina, sonhei em fazer veterinária, sonhei fazer Direito e acabei concluindo o curso de História. O meu ingresso no Ministério da Agricultura foi através de um concurso na área técnica como agente de atividade agropecuária classe “C”. Eu fiz uma ascensão funcional interna para agente administrativo por uma questão financeira. E por causa dessa ascensão profissional, que o serviço público permitia anteriormente e agora não permite mais, eu acabei me arrebentando financeiramente porque na minha função antiga o meu salário é 100% a mais do que eu ganho hoje. Hoje o meu salário bruto seria R$ 4.024, arredondando aí, que tem uns centavos. E eu não consigo retornar a minha função, que é de nível médio. Aí optei por fazer movimento sindical. Fiquei dois anos lecionando, mas desisti.

Aliás, essa Lei da Transparência que eles falam agora, ao nosso ver, é basicamente para jogar a população contra a classe trabalhadora. Eu te digo por quê. Os jornais há uns 15 dias publicaram o salário de juízes, o salário de um auditor fiscal da Receita Federal, do INSS, que é um absurdo também, dá a entender à população que todo mundo ganha R$ 409 mil. Por que não publica o salário do Suél? Por que não publica o salário do auxiliar administrativo que tem na Funai.

Capital News – É a terceira vez que o senhor disputa a prefeitura de Campo Grande. Por que o senhor quer ser prefeito da Capital?

Suél Ferranti – Olha, não é o Suél que quer ser prefeito de Campo Grande, é o PSTU. Inclusive isso é uma das diferenças que você da candidatura do PSTU em relação às outras. É o PSTU que quer ser prefeito de Campo Grande porque o projeto não é meu. É do PSTU. E eu estou representando esse projeto que é do PSTU, que é um projeto voltado para a classe trabalhadora desse município.

Capital News – E por que o PSTU quer chegar a prefeitura de Campo Grande?

Suél Ferranti – Porque eu acho que é o único partido hoje que vai realmente administrar Campo Grande para a maioria. E quem é a maioria? É a classe trabalhadora e o povo menos favorecido. Por isso nós precisamos mudar o foco da administração, que seja voltada à maioria e não para uma minoria que estão aí administrando Campo Grande depois que virou capital: o grupo dos Puccinelli, agora o grupo dos Trad, já foi do Juvêncio, já foi do Levy, já foi do Lúdio Coelho e assim por diante. Nós queremos realmente voltar a administração para a classe trabalhadora e quem vai administrar o projeto do PSTU, dizer onde vamos investir, é a classe trabalhadora por meio dos conselhos: conselho de educação, de saúde, de moradia, transporte, de economia, de obras públicas, e assim por diante. Qual é a função do Executivo? É administrar. Administrar o quê? O que o povo quer e não o que sai da cabeça do Suél.

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"O PSTU é contra dar o assistencialismo”, explica Suél Ferranti
Foto: Deurico/Capital News

Capital News – No seu plano de governo o senhor fala em isenção do IPTU e até em distribuição de lotes para a população carente. Como se daria isso?

Suél Ferranti – Não é distribuição de lotes. É regulamentação das situações que nós temos hoje. Tem alguns comodatos. O PSTU é contra dar o assistencialismo. Existe inclusive aquela parábola, ‘não dê o peixe, ensine o homem a pescar’, essa é a nossa filosofia. Por isso nós falamos em ter um Estado que invista no social e não no assistencialismo. Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Vale Gás. Tudo isso é assistencialismo. Os próprios jornais matinais da burguesia de Campo Grande e do Estado mostraram tempos atrás que uma família consegue com Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Vale Gás, ele vai receber, não lembro quanto, R$ 662 ou R$ 882 por mês. Eu te pergunto: uma família, um cidadão desse, que recebe isso de graça, vai querer trabalhar para receber R$ 622 que é o salário mínimo nesse país? Temos que proporcionar para a classe trabalhadora que ela tenha emprego. E automaticamente quando você vai empregando você vai cortando esse assistencialismo. Nós não vamos cortar de uma vez. Ninguém é maluco de fazer isso. O cara reclama que não consegue trabalho. Nós vamos fazer um plano permanente de obras públicas que é para isso, para tentar zerar o déficit do desemprego em Campo Grande.

Nós estamos regulamentando essas situações que têm e que acabam em momentos de troca ou de pressão aos menos favorecidos. Eu te dou um exemplo que é na carne. O meu irmão comprou um comodato desse que já faz mais de 20 anos, está lá no bairro Mata do Jacinto. Disseram que lá é área verde e estão querendo tomar do pessoal. É uma maneira de pressionar que está e até de procurar fulano ou beltrano para resolver o problema dele e em troca votar no candidato que está proposto pelo governo ou pelo próprio município. Precisa acabar com esse tipo de coisa. Regulamentar todas essas coisas.

Capital News – Quais são as suas propostas para a saúde?

Suél Ferranti – A nossa proposta primeira é a estatização da Santa Casa, que é particular, e de outros hospitais ditos filantrópicos. Porque a saúde é responsabilidade do Estado. O Estado tem que tomar essa responsabilidade para ele para que possa voltar a dar o estado de bem-estar social para o povo brasileiro, independente ser trabalhador ou da própria burguesia porque se você tem um SUS que funcione descentemente, que você vai lá e é atendido dignidade, com certeza eu vou deixar de ter o meu plano de saúde e a burguesia vai aos postos de saúde. Porque hoje o cara chega com Toyota, desce na maior cara de pau na farmácia e pega a medicação pública. É uma questão de consciência. Sempre que eu posso, eu não vou buscar lá porque eu sei que tem gente menos favorecida do que eu que necessita aquilo lá e não tem mais. Hoje só tem é o tal do paracetamol e aspira e os verdadeiros remédios que a população mais precisa acaba não tendo fruto disso aí. A minha proposta é cobrar que o governo invista o que a Constituição diz, seria 6% do PIB, para resolver o problema.

Capital News – Em seu plano de governo, o senhor fala em reajustar os salários dos servidores e implantar um Plano de Cargos, Carreiras e Salários. De quanto seria esse reajuste?

Suél Ferranti – Por que um Plano de Cargos, Carreiras e Salários para o município. Porque essa é uma reivindicação minha enquanto servidor público federal da união. Nós queremos isso porque nós entendemos que o agente administrativo, o auxiliar de escritório, o datilógrafo, eles têm que ter o mesmo salário tanto no Executivo, no Legislativo e no Judiciário e também ser válido para a aposentadoria. Por isso estamos dizendo no plano que vamos implantar isso. Muitas vezes falamos que estão sendo mal atendidos na saúde, na educação, na secretaria de obras porque os caras ganham mal. Vamos implantar redução da jornada sem redução de salário. É uma maneira de abrir concurso público e resolver o problema de desemprego em Campo Grande para que possa ficar satisfatório. Entendemos nesse Plano de Cargos, Carreiras e Salários o salário base do Dieese que hoje está em torno de R$ 2.500.

Capital News – Então, a proposta é implantar o piso do Dieese...

Suél Ferranti – Sim.

Capital News – ...para todas as categorias?

Suél Ferranti – Para todo mundo.

Capital News – O prefeito neste último ano de mandato tem feito uma série de licitações milionárias. Se o senhor for eleito, pretende fazer alguma auditoria?

Suél Ferranti – Com certeza. Nós estamos dizendo que vamos rever essas concessões. Isso é uma concessão. O lixo é concessão do Município. A questão do transporte coletivo é obrigação do Município. A questão da segurança não é obrigação do Município, tudo isso dentro da nossa Constituição Federal. Eu digo nós vamos fazer uma revisão disso tudo e se não cumprir esse acordo nós vamos pegar de volta essas concessões, tanto na área de transporte como do lixo, nas concessões de saúde e educação. Vamos trazer tudo de volta para o Município, estaremos reestatizando todas essas áreas, que é obrigação do Estado fazer isso. Na questão do transporte, eu estive na audiência do transporte coletivo, os jornais dizem 20 anos, mas o que está na licitação não é 20 anos, são 30 anos. Por exemplo, eu estou com 54 anos, daqui a 30 anos eu vou estar com 84, será que eu vou estar presente no processo licitatório? Outra questão que colocaram foi com relação aos ônibus articulados. Colocar mais ônibus articulado é desemprego, cara. Porque quando você coloca um ônibus articulado você tira um emprego do motorista, você vai diminuir a frota, tirar emprego do mecânico, do auxiliar de mecânico, automaticamente as auto-peças vão passar a vender menos e automaticamente demitir até o balconista. Hoje você anda apertado em um ônibus desse da Mercedes, com cento e poucas pessoas. Aí você coloca um articulado, vão 200 apertados. Não vai diminuir. O transporte público é obrigação do Município e estaremos revendo isso. Se pisarem no tomate, com uma vírgula, nós vamos tomar de volta isso. Vai ter que ir pianinho. Vamos cobrar através do Conselho do Transporte Coletivo. Quem é que conhece a realidade do transporte coletivo? É o seu João, que hoje é o presidente da Assetur [a Associção das Empresas do Transporte Coletivo]? Coisa nenhuma. Nem de ônibus ele anda. Eu conheço. Eu já andei de ônibus. Quando eu ando de ônibus as pessoas me cutucam. ‘Sim sou eu mesmo’. O Suél conhece porque o Suél anda de ônibus. Quando falam de saúde, de transporte e de educação eu sinto porque eu e minha família usam.

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Candidato do PSTU diz que conhece de perto a realizada de transporte coletivo, da saúde e da educação
Foto: Deurico/Capital News

Capital News – O PSTU só tem três candidatos a vereador. Se o senhor for eleito prefeito de Campo Grande, como vai fazer para governar sozinho? O senhor pretende construir uma maioria na Câmara? Como o senhor vai fazer?

Suél Ferranti – Não. O PSTU está dizendo o tempo todo que nós não vamos governar com essa Câmara porque essa dita Câmara baixa, a média seria a Assembleia Legislativa e a alta a Câmara Federal, ela é do ponto de vista do capitalista corrupta por si mesma, haja vista os escândalos. Nós vamos trabalhar com os conselhos. Por exemplo, pegamos o Conselho da Saúde do bairro São Conrado. O que precisa para melhor aqui? É um posto 24 horas? Então vamos fazer um posto 24 horas. O Executivo vai mandar um projeto para a Câmara e vamos botar todo o conselho de saúde da região, todos os trabalhadores, dentro da Câmara. Eu quero ver um desses representantes da burguesia votar contra com o Seu João e o Seu Mané ali também. Nós não vamos administrar com essa Câmara corrupta. Nós vamos administrar com a classe trabalhadora, com os conselhos.

Capital News – Outros candidatos estão trazendo lideranças nacionais para Campo Grande, o senhor pretende trazer o presidente nacional do PSTU, Zé Maria, ou alguma outra pessoa?

Suél Ferranti – Se tivéssemos condições, até que traríamos. O Zé Maria estaria dando a mesma resposta que eu estou te dando hoje. Por que eu vou gastar para trazer o Zé Maria para cá? Só por que ele é mais bonito do que eu, ou é mais velho, mais careca? Ele ia dizer para o Capital News a mesma coisa que eu estou dizendo. Nós não temos essa prática.

Capital News – Dos outros seis candidatos a prefeito quais que o senhor não apoiaria em um segundo turno?

Suél Ferranti – Bernal, Vander, Giroto, Azambuja e o... o Bluma. Esses cinco de maneira alguma. Se por acaso for o PSOL, nós estaremos chamando o voto crítico do PSOL. A avaliação que nós temos hoje é que foi errado sair duas candidaturas da classe trabalhadora aqui em Campo Grande por puro personalismo do PSOL. ‘Nós abrimos mão até da cabeça de chapa, indicamos nosso vice aqui, mas queremos a cabeça de chapa em Corumbá e quem tiver maior percentual de voto será o nosso candidato a governo em 2014’. Não aceitaram. Então falamos: ‘vamos ter duas candidaturas a prefeito aqui e vamos coligar na proporcional’. Nem isso quiseram. Por quê? Qual a importância de ter uma única candidatura para Campo Grande. Seria até mais fácil para resolver os problemas. Teria um maior volume de campanha. Nós reconhecemos o volume de campanha que o PSOL tem, mas o PSOL tem que reconhecer a inserção que o PSTU tem nos movimentos sociais. No final temos o entendimento que se saíssemos juntos, PSOL, PSTU e PCB, com certeza a gente elegia tranquilamente uma vaga nesses 29 aí.

Capital News – Por que o eleitor pode ter confiança de que o Suél quando sentar na cadeira de prefeito, se isso acontecer, não irá tomar o mesmo caminho de outros prefeitos?

Suél Ferranti – Porque o PSTU já teve dois deputados federais, o Fradelli em São Paulo e o Ciro que é o nosso candidato no Rio de Janeiro, e saiu da Câmara alta e voltaram para os seus locais de trabalho. Porque quem vai governar não é o Suél, vai ser o povo por meio dos conselhos. E o salário que o Suél vai receber enquanto prefeito não vai ser o salário que é do prefeito. Eu vou receber lá o mesmo salário que eu recebo enquanto trabalhador público da União, acho que R$ 4.023,86, parece. Por que se eu quiser aumentar o meu próprio salário, quando a minha categoria fizer greve, eu vou ter que estar lá para pedir aumento. Essa é a política que o PSTU tem. Eu assinei um compromisso lá. Não vai mudar não. Se vocês querem que eu prove, então vamos dar uma chance. O Suél está falando isso pela terceira vez já. A única maneira de melhorar a saúde, educação e o déficit habitacional é votando na gente. O Suél não vai virar a casaca.

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Por Paulo Fernandes - Capital News (www.capitalnews.com.br)

 

Leia também as entrevistas com os outros candidatos a prefeito de Campo Grande
Alcides Bernal (PP) Edson Giroto (PMDB) Marcelo Bluma (PV)
Professor Sidney (PSOL) Reinaldo Azambuja (PSDB) Vander Loubet (PT)

 

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