O ano de 2024 foi marcado por eventos inéditos no Pantanal. A bacia do Rio Paraguai enfrentou, pela primeira vez, uma declaração de escassez hídrica. Além disso, o rio atingiu o pior nível em 124 anos, os incêndios bateram recordes e a navegação pela hidrovia foi interrompida. Em meio a esse cenário crítico, o Governo Federal anunciou a concessão privada da hidrovia do Rio Paraguai, abrangendo 590 km do rio por um período de 15 anos, prorrogáveis. Para viabilizar a navegação, estão previstos investimentos iniciais de R$ 63,7 milhões, com metade destinada a dragagens.
A iniciativa gerou críticas de ambientalistas e cientistas, que alertam para os riscos da dragagem em um bioma já fragilizado pelas mudanças climáticas. Procedimentos como dragagem e derrocagem, essenciais para a navegação comercial, podem alterar o fluxo de água, reduzir o tempo de inundação e prejudicar o ecossistema local. Sandro Menezes, doutor em Biologia Vegetal, destaca que “aumentar a vazão da água em um cenário de clima extremo agrava o processo de seca e afeta diretamente a biodiversidade do Pantanal”.
Em agosto de 2024, 40 cientistas especialistas no bioma divulgaram uma carta aberta classificando a dragagem como “extremamente temerária” devido aos impactos ambientais. Segundo o documento, a alteração no leito do rio pode desconectar o rio de suas planícies de inundação, reduzir as áreas úmidas e comprometer a rica biodiversidade do Pantanal, reconhecida globalmente. Eles também apontam para a necessidade de dragagem contínua, que aumenta os custos e intensifica a degradação ambiental.
O futuro do Pantanal está diretamente ligado à sua principal característica: a água. Com a ausência de alagamentos em 2024, o bioma ficou mais parecido com o Cerrado, tornando-se mais vulnerável a incêndios e perdendo sua identidade única. Ambientalistas como Ângelo Rabelo, do Instituto do Homem Pantaneiro, ressaltam que é possível reverter esse processo, mas isso exige ações urgentes e coordenadas. Enquanto isso, a concessão da hidrovia e as implicações das dragagens continuam a alimentar o debate sobre o equilíbrio entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental no Pantanal.