Especialistas que acompanham a implantação da Rota Bioceânica, que vai ligar o Mato Grosso do Sul ao Oceano Pacífico, na costa do Chile, analisam perspectivas para a economia do Estado. A obra tem na construção na ponte sobre o Rio Paraguai, em Porto Murtinho, um dos pilares e deve ser concluída até 2026.
A professora Doutora Luciane Cristina Carvalho, coordenadora do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), estuda a Rota há cinco anos. Para ela, a Rota Bioceânica terá como principal atrativo a inclusão de produtos locais. “Há perspectiva de ampliar as exportações dos produtos que já são comercializados com o continente asiático e que representam cerca de 50% das exportações de Mato Grosso do Sul. Além disso, haverá uma maior integração regional com os países vizinhos”, garante a pesquisadora.
Na avaliação da pesquisadora, existe uma tendência do aumento na comercialização de carnes, alimentos processados, pescados, vestuários, celulose e minérios. “Existe ainda a possibilidade da entrada de novos produtos na cesta da balança comercial. Isso vai depender também do empreendedorismo no estado e da oferta, por exemplo, da economia criativa”, avalia.
Só para se ter ideia do potencial econômico da Rota Bioceânica, de janeiro a setembro deste ano, as exportações sul-mato-grossenses contabilizaram cerca de US$ 7,2 bilhões e as importações em torno de US$ 2 bilhões, indicando um superávit de US$ 5,2 bilhões. Junto ao mercado asiático, esta representatividade é ainda mais expressiva, totalizando cerca de US$ 3,2 bilhões para países como a China, Taiwan, Tailândia e Hong Kong.
“As cidades que estão ao longo da Rota podem se aproveitar muito, ofertando aos passageiros produtos e serviços. Há um potencial para novos investimentos privados, o que contribuirá para aumento de emprego, maior arrecadação fiscal para os municípios, incremento no setor de serviços, em especial, o turismo. No entanto, este potencial vai demandar melhoria em infraestrutura, como postos de gasolina, hospedagem, bares e restaurantes, oficinas, lojas de peças automotivas, além da qualificação da mão-de-obra”, completa a pesquisadora.
Bruno Rezende/Governo do MS
Luciane Carvalho diz que existe possibilidade da entrada de novos produtos na balança comercial
Já na avaliação do professor Francisco Bayardo Mayorquim Horta Barbosa, doutorando em Engenharia da Produção e docente da UFMS, as empresas que optarem em distribuir seus produtos pela Rota Bioceânica vão ampliar mais facilmente suas operações, provavelmente, em função de um frete mais competitivo.
"A Rota se tornará competitiva para produtos como a carne bovina. Hoje, a carne produzida no Mato Grosso do Sul utiliza três caminhos rodoviários para alcançar o Chile. O primeiro, via Foz do Iguaçu, no Paraná; o segundo, via Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina; e a terceira via é por meio de São Borja, no Rio Grande do Sul. Praticamente, 50% sai pelo estado gaúcho até chegar a área central do Chile. Não estamos aqui nem comentando a carne que segue para a Ásia pelo porto de Paranaguá”, argumenta.
Para o professor Francisco, que estuda em seu doutorado a Contabilidade Ambiental, a Rota poderá proporcionar ao Mato Grosso do Sul dobrar a quantidade de exportação de proteína animal para o Chile, mas é imprescindível ter uma carga de retorno para baratear o frete. "Outros produtos estão na pauta de retorno, como por exemplo, o sal. Os grãos não são competitivos para rodar 2 mil km até alcançar o Chile."
Ainda segundo o estudioso, outras cidades podem também se juntar à capital como locais logísticos, é o caso de Sidrolândia e Jardim, que podem se tornar pontos de apoio.
Ele acredita que os maiores desafios no contexto da Rota, ainda é a qualificação profissional em regiões como Porto Murtinho, além da conectividade digital e postos de abastecimento de combustíveis.