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Esporte Terça-feira, 08 de Setembro de 2009, 13:42 - A | A

Terça-feira, 08 de Setembro de 2009, 13h:42 - A | A

Massa afirma: retorna às pistas para ser campeão

Redação Capital News (www.capitalnews.com.br)

Pouco antes de realizar a cirurgia plástica para reparar a caixa craniana, onde implantou uma placa de titânio nesta segunda-feira, Felipe Massa concedeu uma longa entrevista ao jornal inglês "The Guardian", publicada nesta terça (8) pelo diário londrino. O brasileiro falou sobre o acidente sofrido durante o treino classificatório para o GP da Hungria, no final de julho, e ressaltou que teve sorte no episódio. Massa também garantiu que vai voltar às pistas mais determinado do que nunca.

"Você precisa pensar na sorte de várias maneiras diferentes. Eu fui azarado ao ser acertado por uma mola no rosto, mas também tive muita sorte. Todos os médicos dizem o mesmo. Se a peça tivesse me atingido um milímetro à direita, eu poderia ter perdido a visão. Um milimetro à esquerda e, quem sabe, eu poderia ter sofrido danos cerebrais. Então, tive muita sorte. E isso foi o mais importante", disse o piloto, que mostrou bom humor ao falar do episódio.

Perguntado pelo repórter Donald McRae, que viajou até São Paulo e o encontrou no seu apartamento, se havia mudado sua personalidade devido ao acidente, Felipe garantiu que não. "Nada. Me lembro que, quando acordei no hospital, estava usando uma máscara de oxigênio para me ajudar a respirar. Na hora, tirei ela e coloquei sobre a cabeça [segundo o "Guardian", como um chapéu de palhaço]. A Rafaella tentava colocar ela de volta no meu rosto."

"Porém, logo depois, eu levantava e botava de novo sobre a cabeça", disse Massa, rindo. "Havia alguns amigos meus no quarto, e eles riram porque toda hora ela ficou tentando colocar no lugar certo. Na terceira vez, ela reclamou: 'que chato! Ele continua o mesmo, o mesmo'", declarou.

Depois de brincar sobre sua recuperação no hospital, o brasileiro da Ferrari se obrigou a falar sério ao traçar um paralelo entre o seu acidente e o que vitimou Henry Surtees pouco menos de uma semana antes durante uma prova de F2, em Brands Hatch — o inglês, filho do campeão mundial John Surtees, foi atingido por uma roda solta na pista que acertou sua cabeça.

"Fiquei muito tocado pela sua morte. E, na hora em que soube, já falei com a minha mulher sobre o incidente. Disse a ela que era esse tipo de coisa que devia preocupá-la. 'Isso é algo que não controlamos, não é como um acidente normal', eu falei. E, uma semana depois... aconteceu comigo. Ela se lembrou na hora do que eu havia dito", afirmou Massa.

O piloto comparou o episódio a um acidente de trânsito. "Quando falei com ela sobre Henry, ela se assustou, perguntando como a roda podia ter se soltado daquela maneira. E eu avisei que foi como se você sofre uma batida de alguém que atravessa o sinal vermelho. Não há o que fazer. Eu enviei uma mensagem à família Surtees, e eles me mandaram um agradecimento. Ironicamente, uma semana depois, foi a vez de eles me mandarem uma mensagem muito legal."

Os dois acidentes em sequência provocaram uma discussão sobre a segurança dos monopostos, e Felipe confirmou que pretende conversar com os seus colegas de F1 sobre o assunto. "Precisamos pensar em algo. Não estou dizendo que sejamos obrigados a cobrir os cockpits, mas talvez haja algo a ser feito para impedir que uma roda nos atinja na cabeça. Quando eu voltar, vou falar com Charlie Whiting (diretor de corridas da FIA), a FIA e os pilotos, pois precisamos trabalhar juntos", explicou.

A situação da sua família nos instantes após o acidente também foi abordada por Massa. Segundo ele, tanto Rafaella quanto sua mãe, Ana, foram as pessoas que mais sofreram com todo o episódio. "Foi muito mais difícil para eles todos do que para mim. Quando minha mulher viu o acidente, a primeira coisa que fez foi abaixar o volume da televisão, pois não queria escutar nada. Na hora, ela ligou para a minha secretária para organizar um voo, pois viu que tinha sido algo grave. Ela sabe que se eu permanecer no carro após a batida, é porque algo estranho aconteceu. E, organizando tudo, ela ficou com a adrenalina tão em alta que começou a chorar a saber que eu estava passando por uma cirurgia."

"Já meu pai", continuou o o brasileiro, "ele já fez algumas corridas, e sabe o que pode e não pode acontecer. Mas a minha mãe estava muito mal. Ela nunca assiste às largadas, com medo do que pode acontecer", declarou.

O fato de ter causado tanta preocupação aos seus familiares, entretanto, não tirou de Massa a vontade de correr. "Isso é a minha vida. Para mim, a pior parte foi ficar sem poder correr. É horrível. A Rafa já me perguntou umas dez vezes se eu tinha certeza de que não me sentia mal para voltar, e eu sempre disse que não, pois isso é o que eu gosto de fazer. Se eu não pilotar, não sou a mesma pessoa. Isso desde pequeno, é o que eu gosto, então espero que nada mude em mim e que eu possa dar o máximo ao voltar às pistas."

Felipe garantiu que não hesitou sobre o assunto nem por um segundo. "Nunca. Foi difícil para a minha família entender, pois eles sofreram muito, mas eu não. Fiquei três dias inconsciente e, quando acordei, não vi a batida. Só fiquei sabendo do que me falaram, e me perguntei se uma mola podia mesmo fazer o que fez com um osso na minha cabeça. Só assisti ao acidente ao voltar para casa", ressaltou.

"E eu tive outras batidas bem mais perturbadoras", lembrou. "Em Mônaco, em 2002, eu perdi os freios, e foi um grande acidente. Já em Barcelona, tive duas batidas por problemas com a suspensão, e nestes casos eu fiquei pensando sobre tudo. Mas isso na Hungria... eu nunca tinha visto. E, por isso, minha mulher me perguntou sempre de uma maneira gentil 'será que talvez você não queria...?', e eu sempre respondi que não, que vou voltar a correr."

O piloto também foi questionado sobre o fato de precisar assistir os GPs como um simples telespectador. "Foi algo muito difícil, pois eu queria voltar já em Valência. Vi pela televisão com o meu computador no colo, para conferir os tempos de volta. Por causa do fuso horário, precisei acordar às 5h da manhã para ver os treinos livres na sexta... é algo incrível. Mas vai ser muito pior ver a corrida aqui no Brasil. Essa é a prova em que eu queria voltar a correr. Vai ser difícil, mas vou estar lá", explicou.

Massa falou, por fim, sobre a situação do campeonato, que tem Jenson Button na liderança do Mundial com 16 pontos de vantagem sobre Rubens Barrichello, segundo colocado, além de Sebastian Vettel e Mark Webber como concorrentes ao título. E, perguntado se o seu compatriota pode ter esperanças de ser campeão, o piloto disse que sim. "Eu cheguei ao Brasil no ano passado seis pontos atrás de Lewis Hamilton e quase fui campeão, em apenas uma corrida."

"Rubens tem cinco provas para tirar esta vantagem. É uma grande possibilidade, mas depende de Jenson", continuou. "Se ele seguir em um mau momento, vai ajudar Rubens. E creio que isso se deva à pressão: no início do ano, tudo estava se encaminhando bem, enquanto agora tudo mudou, e Jenso vai precisar lidar melhor com isso. Se não, não vai vencer o campeonato", ressaltou.

O brasileiro concluiu a entrevista falando sobre o seu filho, que nascerá em novembro. "Estou muito animado. Já sabemos que será um garoto, que vamos chamar de Felipe. Acho que nunca vou me esquecer de 2009, tanto por causa do acidente quanto por me tornar um pai. Mesmo nos momentos mais difíceis, acontecem coisas positivas. Sempre pensei assim, que nossas vidas já estão escritas, e tudo tem um significado. Foi difícil chegar onde estou hoje, e muita coisa me tornou mais forte. Ainda não sei qual a 'razão' do acidente, mas acredito que haja uma. E acredito também que vou ser campeão do mundo. Vou tentar ao máximo fazer isso", finalizou. (Fonte: Warmup)

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