Arquivo
Grupo de trabalhadores da construção civil fundaram o clube para lazer e descontração nos fins de semana
Nesta sexta-feira (21) o futebol sul-mato-grossense, quiçá, também o brasileiro está em festa! É que neste dia, o Operário, fundado em 21 de agosto de 1938 comemora 77 anos de existência e basicamente, vive no momento da história escrita ao longo dessas sete décadas e da perspectiva, que até certo ponto é uma incógnita.
Nunca é demais lembrar que o clube alvinegro foi fundado por um grupo de trabalhadores ligado à construção civil. Coube ao pintor Plínio Bittencourt encabeçar a idéia que resultou no time que mais conquistou títulos no Estado.
Após 32 anos participando dos Campeonatos Estaduais, o então time se tornou um clube e a partir de então, se profissionalizou e manteve a mesma sequencia de conquistas e de formação de bons elencos, que resultou em memoráveis campanhas em competições nacionais e sendo apontado como uma das maiores forças do futebol nacional do futebol no interior brasileiro.
No nos anais dos clubes existem fatos bons de serem lembrados e outros, nem tanto. No lado positivo, foram as conquistas de campeão desde no Uno mato-grosso, mato-grosso do sul, da vez em que “assombrou” o país quando conquistou a tão decantada e até hoje lembrada com muito saudosismo, a 3ª colocação no Campeonato Brasileiro, em 1977, com um timaço que tinha à frente ou um dos pilares, o goleiro Manga.
Como o futebol é um esporte coletivo, naquele timaço, Manga não “reinava” sozinho e ao lado dele, outros inesquecíveis nomes como Tadeu Santos, Biluca, Paulinho, etc.
À frente do timaço, um ex-goleiro da seleção brasileira e titular absoluto do Fluminense: o técnico Carlos Castilho, um dos pioneiros na implantação do esquema tático 3-5-2, que em seguida foi copiado pelos outros treinadores e que continua, caso seja bem esquematizado, fazendo sucesso no futebol atual.
Arquivo
No Operário, Carlos Castilho "inventou" o esquema tático 3-5-2 que hoje ainda é muito usado pelos atuais técnicos
No entanto, como o futebol é dinâmico, apesar de a brilhante conquista permanecer até os dias atuais na memória dos mais antigos torcedores, a fase do time formado porá grandes jogadores no elenco passou, mesmo porque, na ocasião jogadores na faixa etária dos 27 aos 30 anos, já eram considerados como “veteranos”, adjetivo banido nos dias atuais do futebol brasileiro, onde se vê ainda atletas tal como Zé Roberto do Palmeiras, jogando aos 41 anos. Ceni, do São Paulo, com 42, Sheik, do Flamengo com 36 anos e por ai afora...
Além disso, na época, o mercado europeu ainda não era “escancarado” para os jogadores que encontraram no futebol do então recém criado Estado, o de Mato Grosso do Sul, um novo El dorado e em Campo Grande, centenas desembarcaram em busca de novas chances, pois nos elencos dos chamados “Grandes”, a renovação era praticamente diária.
Com isso, craques na acepção da palavra, mas sem chances no clube de origem, buscavam, através de parcerias, oportunidades em outros centros, outros clubes e o Galo, como ficou conhecido, devido à boa classificação conquistada em 1977, passou a ser então a “menina dos olhos desses jogadores”.
Na época, o termo usado pela imprensa esportiva da Capital, era que, “chegou um ônibus cheio de jogadores” para o Operário. E vieram aos montes. Craques mesmo!
Citar nominalmente nesse momento de recordação seria até mesmo uma injustiça, pois foram tantos, talvez milhares. Viram jogadores do eixo Rio-São Paulo, Minas, do Sul e a maioria algo em torno de 85% craques.
Além dos que vieram para essa plaga, o Operário também tinha as equipes da categoria de base e nela, outros tantos craques foram descobertos, já pelo “seo” Elói que ingressou no clube tão logo o mesmo se profissionalizou.
Sob os olhares do técnico Castilho e aprendendo as malícias, malandragens com os que vinham de fora, os jogadores da Capital a exemplo do que acontecia em outros centos, também “explodiam” e centenas deles integraram o elenco e também foram comandos pelo treinador que devido aos seus conhecimentos deixou o Operário e foi treinar o Santos, onde conquistou o título de campeão paulista.
Outra parte
No entanto, esse talvez possa ser apenas uma parte de um capítulo, da parte boa, da gloriosa existência do Operário.
Na outra “ponta”, a que pode ser chamada de parte podre do clube que aos poucos foi perdendo a sua imponência, o respeito.
Aos 77 anos comemorados nesta sexta-feira (21), do até então rico patrimônio do clube, nada restou.
Envolvido em dívidas trabalhistas, os presidentes que ao longo desses anos assumiram o clube, deixaram acumular as dívidas que resultou na perda da poliesportiva, aonde chegou a ser construídos um “camping”, com a construção de uma piscina semi-olímpica, área de lazer entre outras benfeitorias.
Arquivo
A antiga poliesportiva já teve área de camping e nela, uma piscina semi olímpica para lazer dos associados que aos domingos frequentavam o local
Além da poliesportiva, o clube ainda tinha, também, a sede da Avenida Bandeirante e anexa à Casa do Atleta “Carlos Castilho”, onde na gestão do presidente Oswaldo Durães, foi construída a galeria onde eram exibidos os troféus entre eles, de Campeão Brasileiro do Módulo Branco, em 1987, do Troféu conquistado na Koréia do Sul, outro conquistado na Rússia e as outras dezenas de troféus conquistados em torneios disputados no Estado e no país, mas que infelizmente como num toque de mágica desapareceram sumiram!
Arquivo
Sede da Avenida Bandeirantes, onde era anexo a Casa Carlos Castilho, alojamento dos jogadores do Operário, que hoje não existe mais
Nova fase
Diante desse “desmoronamento” com a perda do patrimônio, sem recursos próprios, sem participar em competições nacionais – a última foi em 1998 na Copa do Brasil, em partida contra ao Flamengo – o clube sucumbiu e entrou no ostracismo.
Nesta sexta-feira, ao completar 77 anos de fundação, o clube conhecido por Galo, tenta ser um “Fênix” e renascer das cinzas e para tanto, o primeiro passo será a conquista de uma das duas vagas no Estadual da Segunda Divisão que será iniciada no dia 29, próximo, par voltar à elite do futebol estadual e a partir de então, sonhar com competições nacionais.
Para acalentar esse sonho, pelo menos, vontade é o que não vem faltando para a atual diretoria que mesmo sem um patrocinador, têm através dos diretores, o apoio necessário para transformar o sonho em realidade.
Histórias
Ao longo de 77 anos, com certeza são milhares de histórias e de “estórias” que os mais antigos devem ter guardados a sete chaves. Fatos inusitados que diante da globalização da modalidade, hoje não acontece mais.
No entanto, entre milhares, tem uma que eu sempre gosto de recordar e contar nas “rodinhas”.
Em setembro de 1987, aconteceu o acidente radioativo em Goiânia com o césio 137.
Na ocasião, o Operário ainda participava do Campeonato Brasileiro e foi para aquela Capital jogar contra o Atlético local.
Ainda no saguão do aeroporto Santa Genoveva, naquela cidade, o lateral direito Chico Anchieta, fez questão de alertar o centroavante Índio, um exímio cabeceador e o alertou:
“Índio, cuidado, aqui é terra do césio”.
Uma observação óbvia, porque a radioatividade da cápsula estava ainda impregnada em tudo.
E de pronto, o jogador Índio, apesar da facilidade em cabecear, era muito ingênuo e respondeu:
“Ele (césio) me conhece e sabe muito bem que, comigo, é só bola no vão das pernas”.
Bola no vão das pernas agora na gíria atual é conhecida como “caneta”.